São Contardo Ferrini – professor universitário

22 São Contardo FerriniContardo Ferrini nasceu de casal profundamente cristão, numa época de grande crise de fé e oposição à Igreja de Cristo, precisamente no ano de 1859.

Dotado de memória prodigiosa, era muito estudioso; foi até cognominado “Aristóteles”. Aprendia tudo que lhe ensinavam com a maior facilidade; assim estudou hebraico, siríaco, sânscrito e copta. Contava 17 anos, ao começar em Pavia, em 1876, o curso de direito, em que foi aluno de seu tio, o abade Buccellati, professor de direito penal. A sua piedade, a sua prática da religião provocavam naturalmente as chacotas, os ditos obscenos, as grosserias dos colegas. Ferrini fugia atormentado com isso tudo. Trazia sempre um apertado cilício e se confessava diariamente.

Em 1880, defendeu brilhantemente em Pavia sua tese de doutorado sobre a importância de Homero e Hesíodo para a história do direito penal. Ela lhe valeu uma bolsa de viagem. Foi a Berlim, onde experimentou fortemente o catolicismo sério, corajoso dos militantes provocados pela Kulturkampf de Bismarck. Aproveitou grandemente o ensino de Voigt, Pernice, Mommsen e outros grandes juristas de renome, que reconheceram o valor excepcional do jovem italiano.

Em 1881 fez voto de castidade. Assistia à missa diariamente. Diante do tabernáculo, a orar, chegava ao êxtase. Aos domingos, se o procuravam em casa, o porteiro, todo ternura, avisava: “Não é fácil, em dias de festa, achar o professor em casa. Não! Está sempre na igreja, onde tem tanta coisa a fazer!”.

Terciário franciscano desde 1886, Ferrini era doce, humilde, paciente, sempre procurando a perfeição em tudo.

Foi sábio a viver como eremita contemplativo. A ciência foi a sua dama, o professorado, um sacerdócio. Não se especializou em matérias de sucesso fácil; escolheu o direito penal romano, o direito bizantino, em relação ao qual, foi quase iniciador na Itália. Em 1881, empreendeu uma edição crítica da paráfrase grega das Instituições de Justiniano. Em outubro de 1883, com apenas 24 anos, ministrou em Pavia um curso de história do direito penal romano. Deu-se-lhe depois uma cadeira, criada para ele, de exegese das fontes do direito romano. Em 1887 ensinou em Messina, em 1890 em Módena, em 1894 em Pavia novamente, no Ateneu. Foi sempre mestre compenetrado da seriedade de sua profissão e de respeito para com o seu auditório. Os estudantes apreciavam seu esforço de adaptação e seu zelo em servir. Fora dos cursos era sempre afável, doce, sempre disposto a aconselhar e a ajudar. Os alunos estavam sempre a rodeá-lo com perguntas após as aulas. Terminadas estas, voltava sempre a pé para casa. Nas férias era robusto alpinista.

Embora homem de gabinete e de biblioteca, impôs-se com humilde doçura. Em política era conservador. Sua docilidade às diretivas pontifícias foi exemplar. Lutou contra o divórcio e defendeu a causa da infância abandonada. Em família, este sábio continuou a ser menino, sempre pronto às pequenas ordens de sua mãe. Deixava o Digesto para pôr à mesa ou para descer à adega, como deixava os livros para ir ajuntar lenha. Tinha por seu pai o respeito antigo devido ao “pai de família”.

Tinha o senso da liturgia e real espírito de pobreza. Tinha horário diário perfeito. Após o jantar, jogava um pouco de baralho. O dia terminava com a recitação do terço em comum com a família.

Uma febre tifóide o levou rapidamente, a 17 de outubro de 1902, em Suna (Novara).

Deixou belíssimas páginas de espiritualidade.

Extraído do livro:

Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.