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28/04/2014

Companheirismo

Por Dom José Alberto Moura Arcebispo de Montes Claros (MG) Via CNBB

No caminho para Emaús o Senhor Ressuscitado se colocou ao lado dos dois discípulos, conversando sobre o que se passara com o próprio Jesus nesses últimos dias. Os dois homens não tinham percebido a identidade do “desconhecido” que dialogava com eles. Foi preciso que Jesus mostrasse o gesto igual ao da última ceia para eles abrirem os olhos e o reconhecerem (Cf. Lucas 24,13-35).

É interessante notar as percepções diferentes das pessoas ao caminharem umas com as outras. Há todo tipo de pessoas. As que olham só para seus projetos e o objetivo da própria caminhada. Há quem não considera os que caminham a seu lado. Muitos não olham os perigos ao redor, o semelhante necessitado, a família desagregada, o jovem pedindo por socorro, a criança e a mulher sendo agredidas, alguns políticos roubando e explorando o povo, apesar de dizerem coisas lindas para tapearem, a exploração dos mais frágeis pelos mais fortes, a concentração de renda com o descaso de quem passa necessidades, a religiosidade eminentemente vertical e de busca de satisfação de interesses meramente subjetivos, sem se comprometerem com a fé transformadora….

Quem é realmente humano olha pelo outro, dá de si para o bem do semelhante, como o bom samaritano. Sabe ver no necessitado a presença de Cristo que diz “tive fome e me destes de comer…”. Por causa de sua fé é capaz de honrar a palavra dada a Deus e aos outros. Tem grandeza de caráter e honra sua condição de ser realmente pessoa do bem e de fé. Não se deixa levar por interesses mesquinhos e não vende sua consciência por “propina” nenhuma. Não faz conchavos políticos para obter vantagens à custa de lesar o próximo e o bem comum. Seu companheirismo é para valer! Não desanima. É persistente e se une a causas de promoção da vida e da dignidade humana. Não usa a religiosidade por pura convenção, costume ou projeção social. Não faz atos religiosos desconectados com seu sentido humilde de reconhecer o verdadeiro senhorio de Deus que o envolve e práticas da fé que levam ao compromisso do verdadeiro companheirismo com o semelhante. Sabe ver a presença de Deus no próximo e nos acontecimentos. É perspicaz no enxergar a vontade de Deus e procura realizar o que é melhor para amar e servir o semelhante. Usa os dons de Deus para servir as pessoas e a comunidade com disponibilidade e entusiasmo, apesar de poder não ser valorizado pelos outros, pois, vê a presença de Deus que o sustenta no que é e realiza.

A convicção da fé autêntica leva a pessoa a viver como já dissera Davi: “Eu via sempre o Senhor diante de mim, pois está à minha direita para eu não vacilar” (Atos 2,25). Não se trata de uma fé embutida para dentro da pessoa, a ponto de ela pensar só em seus projetos pessoais de realização de seus desejos, mas de um compromisso de vida para dar de si em bem da causa comum dos que consigo caminham. Nesse caminho a pessoa sabe que o melhor diante de Deus é viver para tornar o convívio mais humano, fraterno, solidário e justo. A fé não fica apoucada só na subjetividade de sentimento de gratificação psicológica. Antes, leva a pessoa a não se cansar de dar de si pelo bem da comunidade. É o companheirismo transformador e realizador!