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16/04/2020

Deus nos fala (também em tempos de pandemia)

Por Manoel Gomes, Noviço Paulino

Como cristãos, temos uma convicção que serve de base para a nossa vida espiritual: Deus nos fala. Ele sempre se dirigiu ao ser humano por meio da natureza criada, dos fatos da história e da sua Palavra revelada e encarnada. Para conseguirmos discernir alguma situação à luz da fé é esse o primeiro passo: reconhecer que as realidades em mim e entorno a mim não são mudas; elas falam, ou melhor, Deus fala através delas e nos diz sempre “eu te amo”.

Por outro lado, se é certo que Deus nos fala, a nossa atitude deve ser sempre de escuta. Não há comunicação quando alguém fala mas não há ninguém interessado em ouvir aquilo que está sendo dito. O apelo de Deus ao povo de Israel é justamente esse: “Escuta, Israel!”. Tudo começa com a escuta atenta. São Bento, quando escreve a sua ilustre Regra, começa pedindo a mesma coisa a seus monges: “Escuta, filho…”. Somos chamados, portanto, a ouvirmos a voz de Deus que, como já dissemos, manifesta-se de diversas formas.

Neste tempo difícil que vivemos, no qual lutamos contra um inimigo invisível e muito forte e nos confrontamos com a sensação de incerteza, dentre tantas outras, devemos nos perguntar: O que Deus está nos dizendo com tudo isso? O que essa realidade difícil e inesperada nos ensina? Sou capaz de escutar e compreender?

Certamente, depois que tudo isso passar, muita coisa será diferente no nosso modo de agir, pensar e de nos relacionarmos com Deus, com o mundo, com as pessoas e conosco mesmos. É uma oportunidade, não obstante toda a dor e todo o medo que sentimos, de melhorarmos como pessoas. Aquilo que os cientistas já apontam como melhoria no mundo natural é exemplo daquilo que devemos experimentar pessoalmente também.

Um dos valores que surge, provavelmente como desafio para muitos, é algo que, às vezes, pensávamos ser parte fixa em nossas vidas: pensar no outro. Percebemos o quanto vivemos centrados no nosso “eu”, no nosso conforto, na nossa segurança etc. No combate à pandemia, por exemplo, muitos não conseguem entender que devem se isolar para cuidar da sua saúde, mas, sobretudo, das pessoas mais vulneráveis. O vírus tem nos mostrado de forma cruel o nosso egoísmo e a nossa incapacidade de pensar no outro, em vez de olhar unicamente para nós mesmos.

É lógico que a cada pessoa e em cada situação diferente Deus transmite a sua Palavra de modo diverso. Cabe a nós nos prepararmos para ouvi-lo. Façamos como o profeta Elias. Coloquemo-nos em posição de escuta e deixemo-nos guiar por Deus que nos fala, às vezes de modo quase imperceptível, mas sempre (mesmo quando silencia).

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