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28/10/2021

Finados: lembrança de vidas generosas

Por Pe. Darci Luiz Marin, ssp

“Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino do Céu. Só entrará aquele que põe em prática a vontade do meu Pai, que está no céu” (Mt 7,21)

A comemoração anual de finados, no dia 2 de novembro, marca-nos a todos. O percurso de uma vida humana pode ser mais ou menos longo, mas o que de fato fica é a densidade com que essa vida marcou. Há histórias breves que jamais serão esquecidas e há histórias longas igualmente inesquecíveis.

O que dignifica efetivamente um ser humano é a generosidade que o impele a ir ao encontro do outro para servi-lo em sua necessidade.  Em meio a fortes apelos que gestam situações de indiferença, quando não de hostilidade e até de exploração ao próximo, em aberta atitude de autorreferencialidade, a coragem de exercitar a generosidade faz com que o mundo fique melhor.

Os tempos atuais são marcadamente assinalados pelas polarizações, pela negação do outro. A criação de um mundo de meritocracia e de competição, tende a anular os demais. Ao lembrar dos que nos antecederam, neste dia de finados, lembramos dos gestos de generosidade que tiveram em vida. Em tais gestos tornaram-se próximos à dor do outro. Oportunamente recorda-nos o papa Francisco: “fomos criados para a plenitude, que só se alcança no amor. Viver indiferentes à dor não é uma opção possível; não podemos deixar ninguém caído ‘nas margens da vida’. Isto deve indignar-nos de tal maneira que nos faça descer da nossa serenidade alterando-nos com o sofrimento humano. Isto é dignidade” (Fratelli Tutti, 68).

Este ano o mundo vem sofrendo constante ameaça trazida pela pandemia de um vírus invisível, que atingiu milhões de pessoas e, só no Brasil, ceifou a vida de 607 mil pessoas. Ao longo desses meses a humanidade vem reconsiderando sua forma de habitar a Casa Comum? Ainda que o tempo nos seja incerto, a possibilidade que nos é dada viver, mesmo no limitado espaço que ocupamos, poderá fazer a diferença. O que identifica a pessoa de fé cristã é a vivência das bem-aventuranças, que se traduzem em práticas efetivas de auxílio junto aos que vão ficando à beira do caminho (cf. Mt 5,312; Lc 6,20-23). O que conta mesmo é a prática de misericórdia (cf. Mt 7,22-23) e não os discursos bonitos, piedosos e “milagreiros” – com verniz religioso, objetivando angariar recursos financeiros.

Neste dia de finados, cabe bem o questionamento do papa Francisco (referindo-se ao bom samaritano de Lc 10,25-37): “Nos momentos de crise, a opção torna-se premente: poderíamos dizer que, neste momento, quem não é salteador e quem não passa ao largo, ou está ferido ou carrega aos ombros algum ferido” (Fratelli Tutti, 70).

A celebração de finados recorda-nos pessoas que marcaram nossa vida. Pessoas que generosamente carregaram nos próprios ombros a quem deles precisava. Sejam eles nossos faróis para bem cumprir nossa missão também!

Agradecidos, rezemos: “Dai-lhes Senhor o descanso eterno. E que a luz perpétua os ilumine. Descansem em paz. Amém”