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17/08/2020

Homem de poucas palavras e muito trabalho

Por Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp

Refiro-me a Honório Dalbosco, ou “Frei Pascoal”, como ficou conhecido entre os Paulinos do Brasil. Em 17 de agosto de 2019, dois meses após completar noventa e seis anos, foi embora deste mundo. Dele nos restam recordações. E gratificantes, daquelas que podem ser eleitas como luzeiros para peregrinos que ainda palmilham as estradas desta vida.

Impossível traçar em poucas linhas as considerações que merece esse nosso irmão, consagrado como Discípulo do Divino Mestre, na Pia Sociedade de São Paulo. Catarinense, de estatura média, encorpado, cabelos fartos, olhar indagador, pouca prosa e muito trabalho. Se falava pouco, não era certamente por falta de conhecimentos e informações atualizadas. Aliás, era dono de vasto saber, que adquiriu graças a esforço pessoal ininterrupto. Com efeito, frequentou institutos de ensino por tempo restrito, mas sua dedicação o levou a conhecer alguns idiomas, como italiano, espanhol, francês, inglês, um pouco de alemão e também latim. Sim, também latim. Certa vez, ele me dizia que tinha lido na língua original a obra “Confissões”, de Santo Agostinho. Então eu lhe objetei: “Mas, Frei, o original foi escrito em latim”. Com uma palavra, ele me respondeu: “Então!”.

Passaram por suas mãos e olhar atento uma infinidade de laudas para revisão, sobretudo referentes aos inúmeros dicionários publicados pela PAULUS. Dotado de admirável memória, registrava tudo o que lia e o transformava em cultura. Por isso discorria, de modo fluente, sobre qualquer tema. E tinha informações a respeito de coisas quase insignificantes, como a existência das formigas guerreiras. Quando, pela enfermidade que lhe afetou o fêmur,  teve que ficar refém de uma poltrona, aproveitava o tempo para ler alguma literatura, em inglês, por exemplo. Não perdia tempo com conversas desnecessárias ou nocivas; entretanto, de bom grado dialogava com quem lhe dirigia a palavra.

Era fiel aos momentos diários de oração pessoal ou comunitária. Entre os Paulinos, exerceu funções de responsabilidade, como mestre de noviços, conselheiro provincial e, por seis anos, conselheiro geral, em Roma.

Terminaram seus dias terrenos, mas nós que o conhecemos ficamos marcados, de forma indelével, por esse patriarca sólido, consciente da sua missão de evangelizar com a comunicação social e, à semelhança do apóstolo Paulo, digno exemplo de trabalhador infatigável.