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26/06/2020

Paulo, inspirador e modelo

Por Frei Darlei Zanon, ssp

Para o bem-aventurado Tiago Alberione, São Paulo é o verdadeiro pai, mestre, modelo, protetor, fundador da Família Paulina. Ele costumava dizer que não fomos nós que escolhemos São Paulo, mas foi o Apóstolo que nos escolheu.

Sobre esse tema temos um importante testemunho do Pe. João Roatta, recolhido pelo Pe. Antônio da Silva e publicado em Conoscere Don Alberione, I (1982), 35s. No ano 1982, o Pe. Roatta confidenciou que: “a certa altura Pe. Alberione chamou-me e disse-me estas poucas palavras: ‘Desejaria dar a conhecer isto, que me parece deveras importante: que depois de minha morte não se fale mais de mim, e sim somente de são Paulo; é ele o fundador, o modelo, o pai, o inspirador para nós.” Essa convicção vem claramente expressa na Abundantes divitiæ gratiæ suæ, também chamada a “História carismática da Família Paulina”, no seu número 2, que conclui afirmando que a Família Paulina “nasceu por meio de São Paulo; por ele foi alimentada e cresceu, dele tomou o espírito.”

A partir deste ponto de partida já fica muito clara para nós hoje a íntima relação e gratidão que Padre Alberione tinha pelo Apóstolo das Nações. Após a profunda experiência que fez na “Noite de luz”, passagem do século XIX para o século XX, segundo relatado na mesma Abundantes divitiæ (n. 13), o jovem Alberione buscou compreender e atuar o convite de Jesus “Vinde a mim todos”, que recebeu do sacrário durante a adoração. Ele afirma que a partir daquele momento “sentiu-se profundamente obrigado a preparar-se para fazer algo pelo Senhor e pelos homens do novo século com os quais viveria” (AD 15). A ideia amadureceria, e ficaria sempre mais clara a certeza de constituir um grupo de religiosos e religiosas que desenvolvessem o apostolado das edições.

Para tal, Alberione busca uma espiritualidade adequada a essa missão específica e nova. Aos poucos identifica São Paulo como o intérprete ideal de Jesus Mestre no “ser apóstolos de hoje, usando os meios empregados pelos adversários” (AD 15). Através de São Paulo podemos dizer que foi elaborada toda a espiritualidade da Família Paulina, ao ponto de declararmos que: “A Família Paulina aspira a viver integralmente o Evangelho de Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, no espírito de são Paulo, sob o olhar da Rainha dos Apóstolos” (cf. AD 93). Sempre na Abundantes divitiæ, o Primeiro Mestre nos diz que “na fundamentação se encontra sempre Jesus Cristo, Divino Mestre. (…) Passando-se ao estudo de são Paulo, encontra-se o discípulo que conhece o Mestre Divino na sua plenitude; ele o vive inteiramente; perscruta-lhe os profundos mistérios da doutrina, do coração, da santidade, da humanidade e divindade: considera-o como doutor, hóstia e sacerdote; apresenta- nos o Cristo total, como ele mesmo já se definira: Caminho, Verdade e Vida.” (cf. AD 159) Desse modo, São Paulo é a “forma”, da qual Jesus que é o original.

O exemplo de Paulo que prega o evangelho a todos os povos, com palavra e cartas, constitui já do princípio o modelo de apóstolo e de apostolado das edições. Em outro escrito, Alberione explica melhor essa visão. “Em que consiste o espírito paulino? Consiste nisso: São Paulo é aquele que indica o Divino Mestre; ou seja, ele assumiu o evangelho, o meditou profundamente, depois o adaptou ao mundo, às necessidades do seu tempo e às várias Nações…; do mesmo modo, nós devemos aplicar o evangelho nos nossos dias e dá-lo ao mundo atual com os meios que o progresso humano nos oferece para transmitir o pensamento e a doutrina de Jesus Cristo”. (cf. Pregações sobre o apostolado)

Alberione vai além, e afirma que “a Família Paulina foi escolhida por São Paulo para continuar a sua obra; é São Paulo, vivo, hoje composto de tantos membros. Não escolhemos São Paulo, é ele que nos elegeu e nos chamou. Ele quer que façamos aquilo que ele faria se vivesse hoje. E se vivesse hoje, o que faria? Ele usaria os mais altos púlpitos edificados pelo progresso humano: imprensa, cinema, rádio, televisão; as maiores descobertas da doutrina do amor e da salvação: o Evangelho de Jesus Cristo. São Paulo se fez para nós como a ‘forma’. Quando colocamos a ‘forma’ na máquina para imprimir, as folhas que passam são todas impressas segundo a forma preparada. Ou dito de outra forma: quando se faz pequenas estátuas, colocamos gesso ou escaiola na forma, e eis a estátua que queremos. O original é Jesus Cristo, a forma é São Paulo” (Alle Figlie di San Paolo, 1954, pp. 144-145).

O nosso empenho hoje, como Paulinos, é seguir os passos de Paulo e viver o amor a Cristo com o seu mesmo espírito. Para sermos verdadeiros Paulinos, devemos “imitar” São Paulo na sua capacidade de encarar as questões concretas do mundo (em nível eclesial, comunitário, social, etc.), no esforço de adaptar a linguagem a cada interlocutor, na dimensão da pastoralidade e da universalidade, na profecia, zelo e empenho total, na paixão e capacidade de escuta, audácia e habilidade de construir redes de colaboradores, no dinamismo apostólico e senso de responsabilidade e em tantas outras coisas como bem recordam as nossas Linhas editoriais: Identidade, conteúdos e interlocutores do apostolado paulino (2018).

Alberione introduz-nos um conceito muito interessante, apesar de pouco aprofundado na Família Paulina. Ele fala de “empaulinar-se”, incorporar Paulo, tornar-se Paulo. Obviamente a referência primeira é a lógica expressa pelo próprio São Paulo, que afirma: “Sejam meus imitadores, como também eu o sou de Cristo” (1Cor 11,1). Portanto devemos falar de um “empaulinar-se” para “cristificar-se”. Empaulinar-se para que Cristo se forme em nós, até o ponto de podermos também nós afirmar: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Para Alberione, Paulo é como um espelho no qual o Paulino deve refletir a sua identidade. Isso porque sem o Apóstolo Paulo não existe o carisma paulino. Aprofundar Paulo significa conhecer e enraizar sempre mais a identidade do carisma paulino e da natureza de toda a Família Paulina. Assimilar, estudar, rezar tudo o que nos ensina Paulo são formas de aprofundar e atualizar o próprio carisma paulino. Mas para tal, é essencial conhecer bem o Apóstolo e a sua obra, por isso Alberione insistia muito na necessidade de estudar constantemente a vida, a teologia, as cartas, enfim, tudo o que se refere a Paulo. Em AD 94, recorda que “o espírito de são Paulo adquire-se da sua vida, das suas cartas, do seu apostolado”.

Dentre as diversas cartas de São Paulo, Alberione tinha uma forte predileção pela Carta aos Romanos. “A admiração e a devoção começaram especialmente com o estudo e a meditação da Carta aos Romanos”, revela em AD 64. E continua: “Desde então a personalidade, a santidade, o coração, a intimidade com Jesus, a sua obra na dogmática e na moral, a marca deixada na organização da Igreja, seu zelo por todos os povos, foram argumentos de meditação. Pareceu-lhe verdadeiramente o Apóstolo: por conseguinte todo apóstolo e todo apostolado poderiam haurir dele. A são Paulo foi consagrada a Família Paulina. A são Paulo deve também ser atribuída a cura do P.M.” (AD 64)

Em um retiro aos Paulinos, no ano 1958, Alberione especificou a relação dessa carta com o apostolado das edições: “A carta de Paulo aos Romanos é o primeiro e principal ensaio sobre o apostolado das edições, o exemplo sobre o qual deveria se modelar cada edição paulina. Por isso, quando se construiu a igreja dedicada a São Paulo na Casa Madre (Alba), quisemos representar um belo quadro do Apóstolo que dita e envia a sua grandiosa carta aos Romanos. O quadro no seu conjunto representa bem a índole e a finalidade do nosso apostolado: levar o Evangelho a todas as pessoas de todos os tempos” (meditação de 3 de fevereiro de 1958, in Spiritualità paolina, p. 88).

Recordemos porém que Alberione não é um exegeta ou um teólogo especializado em Paulo. O Fundador interpreta São Paulo atualizando-o no carisma paulino. Busca no Apóstolo as chaves-de-leitura necessárias para bem desenvolver o apostolado das edições. E propõe estas chaves a todos nós Paulinos, que devem nos tornar “novos apóstolos” – dinâmicos, apaixonados por Cristo, ativos, corajosos, etc. – assim como foi o Apóstolo Paulo.

Seriam tantos os elementos a explorar. Quem deseja aprofundar o pensamento de Alberione sobre São Paulo pode recorrer a diversas fontes da Opera Omnia. Em modo particular sugiro a leitura do livro “L’apostolo Paolo: ispiratore e modello” (O apóstolo Paulo, inspirador e modelo), publicado por ocasião do Ano Paulino (2008) e que recolhe diversos textos e pregações de Alberione sobre Paulo. Boa festa a todos!

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