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15/01/2021

Relembranças – 1 : Padre João Roatta

Por Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp

*Série comemorativa de artigos por ocasião dos 90 anos dos Paulinos no Brasil

Relembrar é evocar pessoas ou fatos que têm expressivo significado para nós ou que tragam benefício para as gerações posteriores. Ora, no ano 2021, a Congregação dos Padres e Irmãos Paulinos está comemorando 90 anos de fundação no Brasil. Então, como membro desse instituto religioso, estou me propondo recordar alguns coirmãos que conheci ou com quem convivi a partir do ano 1959, quando, ainda menino, comecei a fazer parte da Família Paulina. Não é meu intento elaborar uma biografia de cada um, apenas expor alguns traços de sua personalidade e de suas obras. Não me atenho à ordem cronológica; sigo os impulsos do coração e da memória.

Padre JOÃO ROATTA

Nasceu na Itália em 1913. Lá ingressou em nossa Congregação, onde foi ordenado presbítero em 1937. Foi capelão militar da Aeronáutica durante a Segunda Guerra Mundial. Fez doutorado em teologia pelo Pontifício Ateneu Santo Anselmo, de Roma. Em 1955, o fundador, Padre Tiago Alberione enviou Padre Roatta ao Brasil, onde, no ano seguinte o nomeou o primeiro provincial dos Paulinos, cargo que ocupou até 1969.

De estatura média, encorpado sem ser gordo, caminhava com leveza e imponência ao mesmo tempo. Imponência natural sem arrogância. Com passos firmes. Firme também era sua voz, mas não estridente ou enfadonha. Ao contrário, fluía com admirável sonoridade, fruto talvez de sua propensão para a música, campo em que conquistou grande desenvoltura, chegando até a dirigir corais polifônicos. Lembro-me de ouvi-lo cantar “Pobre menina não tem ninguém”, grande sucesso em 1966. Fazia-o enquanto caminhava no pátio da Cúria Provincial, situada à Rua Dr. Pinto Ferraz, 183, Vila Mariana (São Paulo).

Estudioso da Sagrada Escritura, alimentava a vida espiritual dos Paulinos, mas também das Filhas de São Paulo, das Discípulas do Divino Mestre e das Pastorinhas, presentes no Brasil naquela época. Certa vez, Padre Roatta foi fazer uma pregação aos Paulinos, na antiga Cidade Paulina. Prepararam-lhe uma mesinha e sobre ela um crucifixo. Logo no início, ao movimentar os braços com seus gestos amplos e majestáticos, deu com a mão no crucifixo e o lançou ao chão. Alguém correu para recolher a imagem, que nada sofreu. Quanto ao pregador, apenas disse: “Oh! Meu Senhor, me desculpe” e, imperturbável, continuou sua palestra.

Resultado de suas pesquisas, na década dos anos 60, Padre Roatta publicou o livro O Mistério da Palavra de Deus, resgatando, a partir dos Padres da Igreja, a importância dos textos bíblicos. Havia publicado também Um Mês ao Divino Mestre, endereçando-o sobretudo aos membros da Família Paulina. Outro livro de sua autoria, referência para a espiritualidade da Família paulina, era titulado Jesus Mestre.

Em 1971, Padre Roatta deixou suas atividades e o Brasil e voltou à Itália, onde deu sequência a seus estudos sobre Jesus Mestre, a Rainha dos Apóstolos e São Paulo Apóstolo. Nesse mesmo ano, iniciou e coordenou o Centro de Espiritualidade. Deixou-nos como rica herança uma coletânea dos pensamentos do Fundador, distribuídos em três volumes, justamente sobre os pilares da espiritualidade da Família Paulina: Jesus Mestre Caminho Verdade e vida; Mensagem Mariana do Padre Alberione e São Paulo e a Família Paulina.

Nos últimos anos, não lhe faltaram sofrimentos físicos, que o deixaram refém de uma cadeira de rodas. Mesmo assim, continuava dando conferências durante os encontros internacionais dos Paulinos. Veio a falecer no ano 1985, no Hospital Regina Apostolorum, em Albano Laziale, a 24 km de Roma.

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