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10/04/2015

A dor de um adeus

Por João Paulo da Silva, Postulante Paulino

A energia foi cortada e a criança não queria dormir com o escuro da noite.

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Em um dia tranquilo, depois de uma oração e com a correria da cidade, parei para ler algumas notícias. Fui ver o que estava passando no mundo, direcionei a minha atenção para uma chamada jornalística que dizia: crianças morrem carbonizadas na Paraíba. Fiquei um pouco chocado, mas não deixei de ler.

Em continuidade, vi uma mãe que em meio as dificuldades não conseguiu pagar a conta de luz e, consequentemente, teve o serviço suspenso pela empresa responsável. Ficar sem energia durante o dia é mais fácil, porém a noite sempre chega e com a ela a escuridão. A mãe tem que colocar as crianças para dormir. “Mamãe, não apague a vela”, disse a pequena criança. Nisto, com todo o zelo, a pobre mulher atende a filhinha mais nova que pede a luz da vela para afugentar o medo da escuridão da noite. No julgamento de muitos, a mãe pode parecer irresponsável, mas ela não é. Ela apenas queria que a filha não sofresse com o medo do escuro. A filha mais velha não aceita a ideia e pede para deixar a vela apagada, aí a mãe preocupada diz: “não filha, sua irmã não quer, ela até chorou antes”.

No entanto, quando as crianças já estão dormindo, acontece o inesperado, a vela cai e começa a incendiar o quarto onde estavam as pequenas crianças de 8 e 9 anos. O desespero é total, as criancinhas se abraçam e ali sofrem as dores das chamas. Morrem abraçadas, cuidando uma da outra.

O que me veio à cabeça foi o seguinte: muitos julgaram a irresponsabilidade da mulher, a condenarão por não ter “cuidado”. Mas esquecem o fundamental, ela não tinha condições de arcar com as contas mensais. A fatalidade foi um sinal de que muitas vezes fechamos os olhos para a triste realidade dos nossos irmãos e, com isto, gera-se a morte.

Ao escrever isto, era impossível não ficar com os olhos marejados. É impossível não chorar pela dor das criancinhas que ficaram aterrorizadas. Na minha cabeça isto parece um filme de terror, mas não é. Trata-se da vida dos que sofrem, dos que não têm as condições necessárias para viver.

Vamos chorar por ela? Vamos criticá-la? Não! Vamos ajudá-la. Vamos olhar para esta situação que pode voltar a acontecer, que pode ocorrer em qualquer lugar onde falte a assistência e o amor de irmãos. É desta forma que se ama o próximo: evitando que as pequenas dificuldades se tornem ainda maiores.