Blog

22/06/2020

Entrevista com irmã Gleciane: Ser presença do Bom Pastor em tempos de Pandemia

Ir. Gleiciane à direita

Irmã Gleiciane de Lira Santos, natural de Redenção(PA) da Congregação das Irmãs de Jesus Bom Pastor – carinhosamente conhecidas como Pastorinhas. Cuja missão é ser presença viva de Jesus Bom Pastor junto ao povo de Deus nas diferentes realidades, de modo especial junto aos pobres e abandonados. Atualmente a irmã reside na comunidade de Mutuca(PE) onde colabora junto a missão da Congregação como Juniorista, no acompanhamento da Juventude da Área Missionária Santa Terezinha e na animação das Comunidades Negras da Diocese de Pesqueira, através da Pastoral Afro. No ano de 2019 fez parte do Projeto “Igreja em Saída”, uma iniciativa da Cáritas Diocesana, juntamente com esta Diocese.

Serviço de Animação Vocacional: Irmã, conte-nos um pouco sobre sua trajetória vocacional. O que a despertou a fazer alguma coisa pelo povo de Deus, de modo especial pelos abandonados e esquecidos da sociedade?

Irmã Gleiciane: O despertar missionário teve visibilidade no seio de minha família, através dos valores e princípios que recebi de meus país, e de modo particular pela inserção na comunidade São Raimundo Nonato, do bairro Serrinha, Paróquia Cristo Redentor. Lá, dei os primeiros passos rumo a aventura da missão, sentia-me encantada ao contribuir na Infância e Adolescência Missionária (IAM), no grupo de jovens, na catequese, no ministério de canto. E vi que queria sempre mais, porque este serviço me trazia bastante alegria.

Outro fator importante, foi o sentimento de indignação diante da desigualdade social, que assola o nosso país. Pertencente a diocese de Conceição do Araguaia, marcada por constantes mortes pela questão agrária, vi crescer em mim, o desejo de somar no combate a violência que tanto persegue os pequenos de nossa sociedade. Ao conhecer mais de perto as Irmãs Pastorinhas, e dar-me conta do cuidado com a vida, como assim fez o Bom Pastor, senti ser esta a opção vocacional, da qual poderia colocar-me sempre mais a serviço das pessoas em situações vulneráveis, no seguindo mais de perto à pessoa de Jesus de Nazaré.

“Vi crescer em mim, o desejo de somar no combate a violência que tanto persegue os pequenos de nossa sociedade.”

 

SAV: Dizer sim a Deus na Vida Religiosa Consagrada tem sido cada vez mais raro nos dias atuais, vale a pena dizer sim e o que fazer diante da “escassez de vocações”?

Ir. Gleiciane: Todas as vocações são sinais de vida, de entrega e doação. A VRC,  como todas as demais opções de vida tem consequências alegres como também tem renúncias, as quais merecem uma devida adesão daqueles que se colocam à caminho.

Gosto da expressão que diz: “Vocação é o encontro de duas liberdades, Deus que chama e a pessoa que responde”. Penso que sim, vale a pena acreditar e somar na VRC, fortalecendo os princípios de uma vida comprometida com os mais vulneráveis e indo as realidades aonde ninguém quer ir, sendo pão partido para o povo sofrido.

Estamos passando por um momento de crise em todos os aspectos: social, eclesial, econômico e político. Como VRC não é diferente, são outros tempos, mudanças de paradigmas, de valores e a VRC não deve ter medo de passar por esse processo de metamorfose, após a crise tem sempre algo de novo, de bom. É preciso ter coragem de avançar e não parar na “falta” de vocações, talvez seja o tempo ideal para ir em busca de vinhos novos, de odres novos. Se recordarmos a Igreja nascente os primeiros cristãos eram poucos, porém eram perseverantes em ouvir os ensinamentos dos apóstolos, na comunhão, na partilha do pão e nas orações… “e a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade aqueles que eram salvos”. (cf. At 2,42-47).

Sinto, que é necessário, como VRC permitir-se passar pela crise, questionar-se: no que precisamos ser diferentes? De que forma poderemos ser melhores? Qual é o nosso papel no hoje da história? Estamos optando pela periferia? Qual o perfil da juventude de hoje? Por que a VRC tradicional não atrai mais como antes?

Se tivermos a coragem de nos fazermos essas perguntas, quem sabe encontraremos novas saídas para essa realidade que nos envolve.

SAV: Vivemos em uma sociedade consumista, globalizada e interconectada, que cada vez mais demonstra que o “ter” se tornou mais importante que o “ser”. Qual a mensagem de Jesus Bom Pastor em seu Evangelho para o mundo de hoje?

Ir. Gleiciane: Jesus Bom Pastor, passou sua vida fazendo o bem, acolhendo os que estavam a margem da sociedade. Nos dias atuais, sinto que a mensagem que Ele continua insistindo é a exortação à Vida. Jesus, se fez servo sofredor e foi claro e incisivo em sua fala: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10), diante de tantos atentados a dignidade humana, o projeto de Jesus é atual e super necessário. Ele, quer vida plena para todos e todas, e hoje, pede nossa colaboração para que façamos o mesmo que ele fez, que saibamos ter atitudes e gestos de libertação.

SAV: Estamos passando por tempos difíceis e que exigem de nós muito cuidado e cautela. O Covid-19 nos trouxe o isolamento social, desemprego e alargou o caos na sociedade brasileira. Como ser presença do Bom Pastor nessa situação?

Ir. Gleiciane: Infelizmente sempre existiu desigualdade social em nosso país, o índice de desemprego nos últimos anos cresceu de forma assustadora. Com o Covid-19 tudo isso vem a tona com maior intensidade.

Nesse tempo de pandemia, é de suma importância ser testemunho de pastora e pastor bom. Se possível o primeiro gesto é ficar em casa, no cuidado de si mesmo, a higiene pessoal evita a propagação do vírus e protege quem a gente ama.  É tempo de pensar também no cuidado com os que mais precisam, seja com alimentos, com materiais de higiene, ou, sendo espaço de escuta aos que estão com crise de ansiedade e depressão devido a situação do covid-19.  Ser presença do bom Pastor requer contribuir com a propagação de notícias confiáveis, no cuidado com a Casa Comum, na construção de espaços de solidariedade, de acolhida do diferente, seja em casa junto dos seus, seja nas redes sociais, seja com as pessoas da vizinhança, com atenção a todas as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

SAV: Dizem que o Vírus foi enviado por “Deus”. O que a senhora diria diante dessas respostas que manifestam um Deus juiz e que castiga seu povo, que vai contra toda história da salvação, que nos revela um Deus próximo e misericordioso?

Ir. Gleiciane: Deus é pai e mãe, é o libertador! Embora, tenhamos ainda muita dificuldade de o reconhecer assim Ele é sempre amável. Em sua infinita bondade jamais permitiria algo tão destruidor. Como seres humanos, temos a triste tendência a encontrar um bode expiatório para arcar com a responsabilidade daquilo que não nos agrada. Ainda, dias atrás, escutei uma fala do teólogo Leonardo Boff afirmando a ineficiência do sistema capitalista e a cultura do descartável que já não se sustentam por si só. Como consequência a mãe Terra cansada de tanto desprezo, devolve tudo o que o ser humano lhe deu. O descaso com o planeta e o exacerbado consumismo é um fator preocupante nesses últimos anos. Considerando os fatos, doenças como H1N1, Ebola, Dengue, Covid-19… não seria um retorno da mãe Terra diante dos ataques e da indiferença que como seres humanos atribuímos a Casa Comum?

 Devolvendo a pergunta: o Covid-19 seria um castigo de Deus, ou uma simples consequência da ação humana?

SAV: Diante de líderes que não se preocupam com a vida que é ceifada a cada dia pelo vírus, pelo desemprego, pela fome, etc. E simplesmente dizem “e daí”, o que nós como povo profético devemos fazer?

Ir. Gleiciane: Falas como “E daí”, “Eu não faço milagres”, e tantas outras que presenciamos do atual desgoverno, são frases que demostram total negligência com a população brasileira, nesse momento tão delicado que vivemos. São constantes os ataques a democracia, através de expressões desumanas, como comparar o covid-19 a uma “gripezinha”, minimizar os efeitos dessa doença, ficar indiferente as orientações da OMS é colocar em risco toda a nação brasileira.

Os falsos pastores estão por todo canto, e cabe a cada um de nós, denunciar, escancarar os valores do Evangelho, aos quatro cantos do mundo, não permitir que situações de injustiça sejam naturalizadas. Precisamos estudar e conhecer a nossa Constituição e lutar junto as minorias por uma sociedade mais digna, por equidade e políticas públicas eficazes no meio do povo, nas realidades mais sofridas.

Precisamos ter fome de justiça, da mesma forma, que é urgente romper com o sistema de morte que nos cerca, e isso só poderá acontecer quando ampliarmos o nosso olhar, quando pensarmos em coletivo e não de forma isolada no nosso pequeno mundo. Somos convidados(as), a rezarmos diante das mazelas dos pequenos e oprimidos(as) de nossa sociedade, na defesa dos Povos Tradicionais e no cuidado com a Casa Comum. É necessário abraçarmos modelos de economia sustentáveis que tenham como princípios o respeito com a Amazônia e colocando a vida humana em primeiro lugar.

Ter sempre mais consciência de que política é tudo o que nos rodeia, e que acreditar na sociedade do bem viver não é utopia e nem ideologia, mas a proposta do Reino de Deus, portanto, como cristãos(as), somos convocados(as) a assumir essa causa. Somar forças junto as pastorais sociais, ser voz ativa nos espaços e organizações que promovam a vida.

“Ter sempre mais consciência de que política é tudo o que nos rodeia, e que acreditar na sociedade do bem viver não é utopia e nem ideologia, mas a proposta do Reino de Deus.”

SAV: Qual a importância de canais de comunicação que sejam autênticos e verdadeiros, diante de tantas notícias falsas e omissões que ocultam a triste realidade do povo sofrido, se calando perante elas?

Ir. Gleiciane: Diante da velocidade das notícias e das fronteiras que a mesma atravessa, é de estrema importância ter presente o quanto os meios de comunicação são uma forte ferramenta que influi positiva ou negativamente. Cabe a cada cidadão(ã) saber discernir e filtrar as informações veiculadas nos diversos meios.

Como batizados(as) nossa missão é ser profetas e profetizas. Calar-se diante de situações de opressão não condiz com a proposta do Evangelho de Jesus Cristo. Neste sentindo, reforço a necessidade de bebermos em fontes confiáveis e sermos autênticos canais de comunicação. Usufruindo dos valores que edificam a vida, é compromisso de todas as pessoas combater as Fake News.

SAV: Como membro da Família Paulina, qual mensagem a senhora deixaria aos jovens que querem abraçar a Vida Religiosa Consagrada?

Ir. Gleiciane: Linda juventude! Sei que o ardor missionário que há em ti, te provoca e te conduz a escutar a voz do Mestre-Pastor. Venha fazer parte conosco. Não tenha medo de acreditar em propostas audaciosas e ousadas. Como Família Paulina, recebemos de Deus o Carisma da Comunicação, te convido a fazer parte desta bela e desafiadora missão de comunicar com nossa própria vida o Evangelho de Jesus. Lembre-se: Deus chama, envia e conta contigo! Que tal, permitir-se fazer uma experiência na Vida Religiosa Consagrada?

Iniciativas das irmãs de Jesus Bom Pastor durante a situação da Covid-19

Nossa província Pe. Alberione região SP, é composta na sua maioria por idosas, as mesmas compõem o quadro de risco e o cuidado deve ser intensivo. Na medida do possível manifestamos nossa colaboração no combate ao Covid-19. Eis uma síntese da nossa contribuição nas diversas inserções em que estamos:

Maceió-AL; Redenção/PA; Porto Novo, PR.; Mutuca/PE; Lapa/SP; Vila Califórnia/SP; Vitória/ES; Formosa/GO; Raposo Tavares/SP; Jataí/GO; Eldorado/SP.

*Confecção de cestas básicas para ajudar as famílias que tem crianças e os que estão desempregados.

*Confecção de máscaras para doar as famílias carentes.

*Como grupo de Religiosas temos uma central de atendimento espiritual das pessoas que desejam ser ouvidas.

*Estamos ajudando nas coletas de cestas básicas, material de higiene, máscaras, remédios…

*Atendimento às pessoas sem acesso a internet para receber o Auxílio Emergencial. Cadastro das pessoas, acompanhamento dos procedimentos até receberem a ajuda.

*Assessoria jurídica pelo telefone, WhatsApp, e-mail para várias Comunidades e pessoas que necessitam. Participação em reuniões via Skype com a Coordenação da EAACONE, (Equipe de Articulação e Assessoria as Comunidades Negras), pois o governo aproveita a pandemia e toma decisões que massacram as Comunidades Tradicionais e devemos ter respostas rápidas.

*Usamos as redes sociais para animar as Comunidades a celebrar e vivenciar a Campanha da Fraternidade, a Quaresma, a Semana Santa, o mês de maio, a Novena ao Espírito Santo em família. Organizamos várias motivações de acordo com o tempo litúrgico para as pessoas rezarem com sua família.

*Elaboramos um Terço e a Novena ao Espírito Santo trazendo a pandemia para a oração. Fizemos um clip Vocacional convidando as jovens a se cuidarem em tempo de pandemia e convidando as jovens e outras pessoas a nos visitar quando terminar o isolamento. Muitas pessoas responderam que virão tomar um café conosco.

*Doação em dinheiro para a Igreja da Amazônia nesse tempo de pandemia.

*Acolhendo em nossa casa a doação de alimentos das lives para serem doadas as comunidades rurais.

*Contribuição de cestas básicas para duas Paróquias: D. Bosco e Sta Margarida Lakoki – Taboão da Serra e doações de alimentos para composição de cestas básicas no mercado Pão de Açúcar.

*Colaboração com a CRB para Amazonas e compras de remédios…

*Estamos vivenciando essa experiência nos apoiando mutuamente no total isolamento, cuidando de nossa saúde e colaborando com a saúde de todos. Participamos de momentos de tríduo, novena no canal YouTube da paróquia e rezamos e animamos o nosso povo.

*Compramos alimentos de pequenos produtores como pães e outros das pessoas que buscam meios de sobrevivência neste tempo.

*Passamos mensagens de ajuda e otimismo.

*Durante, e após a Páscoa encaminhamos uma breve oração de esperança e ressurreição a todos os paroquianos pelas redes sociais da paróquia. Encaminhamos também a novena do Bom Pastor de modo resumido pelos mesmos meios. A partir da próxima terça-feira, dia 09 ocuparemos o horário da igreja, 18h para transmissão direta da nossa oração de Pastorinhas, interagindo com os que nos acompanham pelas redes. Vitória/ES.

*Fazemos contato com pessoas infectadas ou familiares da nossa paróquia dando apoio, consolo, esperança. Em nossa oração diária recomendamos os que trabalham em hospitais e todos que se dedicam aos cuidados e cura dos doentes.

*Contribuindo com alimento, cobertor, agasalho, colaboramos para confecções de máscaras para dois hospitais, além de contribuições de quem nos pede na porta. Tudo com muito prazer.

*Acompanhamos a situação atual e nos solidarizamos: Dias de jejum, oração e partilha, doação de máscaras, estamos consolando e ajudando muitas pessoas mesmo não presencial.

*Procuramos nos cuidar o máximo possível e assim cuidar das outras pessoas. Nos momentos de oração comunitária e pessoal sempre rezando, pedindo ao Senhor que tenha compaixão de nós e pedindo pelo fim desta pandemia. Participamos e ajudamos na liturgia (na missa) realizada diariamente e transmitida pelo Facebook e Instagram e também pela rádio. Acompanhando através do Facebook e WhatsApp algumas pessoas que passam por dificuldades e que precisam desabafar (doença, depressão, etc..).

E, nós Pastorinhas nos colocamos ao lado dessas pessoas sem voz e sem vez, nos mobilizando através dos líderes da Pastoral da Criança, dos membros ativos das 7 comunidades da Paróquia, os membros dos Cooperadores Amigos de Jesus Bom Pastor (CPAJBP), motivando a arrecadação de alimentos e material de higiene, e nessa busca de ajuda, mais uma “benção de Deus”, uma pessoa anônima, mandou para nós Pastorinhas, oitenta (80) cestas básicas. Ainda recebemos da Pastoral do idoso várias caixas de bolacha para serem distribuídas para as crianças que são atendidas pela Pastoral da Criança. Importante também, foi a distribuição de Bíblias juntamente com as cestas para as famílias que ainda não a possuíam: Foi a PALAVRA DE DEUS, que alimenta e vivifica, graças a generosa doação de Bíblias da “Paulus Editora”.

*Na Escola Divina Pastora, Jabaquara(SP). Através dos meios de comunicação da escola estamos divulgando informações sobre a higiene pessoal no combate ao covid-19, e, procurando promover a saúde mental dos pais, alunos e professores, também pela divulgação de mensagens positivas.

 

 

, , , ,