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22/05/2020

A vida conectada: um desafio espiritual

Por Francisco Galvão, ssp*

O excesso de conectividade pode nos fazer esquecer que somos amados por Deus. Quanto mais nos distanciamos de nossa interioridade, mais surdos nos tornamos para a Voz que nos chama de “amado”.

Somos carentes de afeto, ternura e reconhecimento, mas, o desejo exagerado pelo sucesso, a fama e o poder tende a nos desviar daquilo que é essencial. Tudo o que nos rouba de nós mesmos confunde a nossa alma e a impede de ser livre.

A “súplica” por elogios e curtidas nas redes sociais pode ser um sinal de que a vida, pouco a pouco, foi se esvaziando e perdendo o seu significado. Às vezes, não percebemos, mas, a dependência ao olhar externo cerceia a nossa liberdade de espírito e impede-nos de crescer na caridade e de exercer a compaixão de maneira desinteressada. “Sem amor e compaixão pelos outros”, diz Thomas Merton, “o nosso aparente ‘amor por’ Cristo é uma ficção”.

A falta de escuta interior faz o coração adoecer. Quem pouco silencia, facilmente perde a direção do caminho. Quem pouco se conhece, mais dependente se torna em relação ao que dizem ou pensam a seu respeito. Não há crescimento espiritual sem disciplina e sem um tempo para si mesmo. Aliás, é no confronto interior que nasce o desejo de uma vida mais plena e cheia de Deus.

Quando estamos conectados às redes sociais parece que o tempo voa. É prazeroso partilhar a vida com quem está do “outro lado do mundo”. É gratificante ser elogiado em meio à multidão. Difícil é encarar a própria solidão, suportar o silêncio de Deus e, ainda assim, sentir que não está só.

As redes sociais são um dom de Deus, recorda com frequência o Papa Francisco, mas, se não tivermos cuidado, nos tornaremos reféns e, mais cedo ou mais tarde, esqueceremos a nossa identidade de “filhos amados do Pai” e, então, passaremos a mendigar afeto dentro e fora das redes.

Assim, afirma Henri Nouwen, o excesso de conexão pode ser uma forma de “fugir de nós mesmos e transformar a vida em um longo entretenimento… Mas, quando começamos a viver a vida como entretenimento, perdemos contato com nossas almas e nos tornamos apenas um pouco mais que expectadores de um espetáculo que dura a vida toda”.

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