Blog

29/07/2021

Os novos surdos

A era das comunicações sociais parece coincidir com a era da incomunicabilidade. É que nós falamos e escrevemos, cantamos e gesticulamos, comunicamos e trocamos ideias. Mas nem sempre sabemos encontrar a palavra certa, o gesto conveniente ou a música apropriada para abrirmos um vau no ouvido e no coração dos novos surdos…

Talvez isso aconteça por não conseguirmos pronunciar do jeito como Jesus pronunciou aquela palavrinha mágica: “Éfata! Abre-te!” Ou por não conseguirmos lançar nela toda a carta de amor que Jesus soube lançar…

Assim, graças à nossa incapacidade de comunicas, as legiões dos surdos vão engrossando. Estou pensando na praga da droga e nos infelizes drogados que se automarginalizam, se isolam e se fazem de surdos a qualquer apelo de amor, a qualquer convite ao bom senso. Vivemos na convicção de que esta sociedade não presta; e assim deliram por outra, embalados nos braços da deusa “coca”…

São eles a safra dos novos surdos. Atraídos na rede de imundos traficantes eles deixam atrás de si o rastro de dor infinita: mães humilhadas e feridas bem no centro do coração; pais traídos e frustrados em seu justo orgulho; irmãos abalados pela degradação moral do próprio sangue fraterno…

Hoje, porém, pouco importa buscarmos os culpados de tanta ruína. Culpado é cada um de nós: Igreja, família, escola, governantes, sistema social… Todos precisamos reconhecer que se o drogado se fez surdo à nossa voz, foi porque nós em um momento crítico, fizemo-nos de surdos à voz dele. E se ele chegou a se automarginalizar, foi grande porque nós não conseguimos falar-lhe a palavra certa na hora certa.

Agora, só nos resta ajoelhar-nos perante o crucificado: ele sugerirá aquela palavra, a espalhar um pouco de luz e a afugentar as trevas dos corações degradados…

Pe. Virgílio Ciaccio, ssp (In memorian)