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27/07/2022

“Quero cumprir a vontade de Deus”

Biografia do Seminarista Majorino Vigolungo

Patrono dos Aspirantes Paulinos

Modelo de adolescente e apóstolo da comunicação social

Majorino Vigolungo nasceu em Benevello d’Alba, norte da Itália, no dia 6 de maio de 1904 em uma família modelo em todos os sentidos. Seus pais Francisco Vigolungo e Secondina Caldellara, modestos trabalhadores rurais, tinham grande fé. No Batismo lhe impuseram os nomes de Majorino e Segundo. Majorino era o terceiro de sete irmãos. Inteligente e de temperamento vivaz, queria ser sempre o primeiro em tudo: nos estudos, nos jogos, no trabalho e na bondade. A professora, Pierina Pusineri, o definiu como “de inteligência rápida, memória excelente, capacidade de aprender e reter com facilidade tudo o que aprendia”.  Um dia ela disse à mãe de Majorino: “Este seu filho tem muitas qualidades, porém terá que empregá-las bem, caso contrário terá problemas. Poderá dar a seus pais grandes alegrias ou grandes sofrimentos. Tudo dependerá da orientação que receber. Chegará a ser ou um santo ou um bandido”. Retinha conhecimentos superiores à capacidade de seus poucos anos. Um desejo imperioso e uma vontade resoluta e quase irresistível de aprender bem o levavam a aprofundar todas as coisas.

Tendo crescido num ambiente sadio e religioso, com o exemplo diário de seus pais e sob a guia do seu Pároco, Majorino estava preparado para receber a graça de Deus, que ele soube e quis acolher com generosidade e entusiasmo, submetendo-se incondicionalmente à obra sublime do Espírito Santo em sua alma. Ainda criança, com apenas seis anos, encontrou-se com o Pe. Tiago Alberione, Fundador da Família Paulina. Aos sete anos o escolheu como Confessor e Diretor Espiritual, entusiasmando-se por três realidades que se transformaram em seu ideal de vida: alcançar a santidade o mais rápido possível, ser padre e apóstolo da boa imprensa.

Solícito em responder ao chamado de Deus, ingressou na Congregação dos Padres e Irmãos Paulinos no dia 15 de outubro de 1916, com apenas doze anos. Desde o primeiro dia, entregou-se com prazer à nova vida, ao estudo, ao trabalho, à piedade. Não admitia mediocridade. Feliz com sua vocação paulina e disposto a anunciar o Evangelho com a boa imprensa, manteve-se firme na sua opção, contrariando aqueles que tentavam impedir sua caminhada vocacional. Certa vez escreveu à sua família, afirmando: “Rezai para que eu jamais atraiçoe a minha vocação, porque é a mais bonita de todas”. E acrescentava: “A vocação é uma coisa de grande importância, é preciso que eu corresponda plenamente”.

Devotado à Eucaristia, impôs a si mesmo grandes sacrifícios para não renunciar à sagrada comunhão. Exemplar foi o fato ocorrido em certo dia de inverno. Para ir de sua aldeia à cidade de Alba, Majorino precisava percorrer cerca de catorze quilômetros, quase sempre a pé. Chegando, por volta das 9h, em completo jejum, cansado e com muito frio, alguém lhe ofereceu uma xícara de leite, ao que ele respondeu: “Muito obrigado, mas primeiro quero comungar”. Seu espírito de fé se demonstra também pelo progresso na vida de oração. Todos notaram a mudança extraordinária que ocorreu com ele quando de seu ingresso no Instituto do Pe. Alberione.

Para evitar a mediocridade, comprometeu-se a realizar o seguinte programa de vida: “Progredir um pouquinho a cada dia”. Ficou conhecido na Família Paulina por essa máxima, sendo fiel até à morte, conseguindo progressos admiráveis na virtude e no apostolado da boa imprensa.

Aos treze anos Majorino já compreendia tão bem o Apostolado da Imprensa que causava admiração entre outros de mais idade. E a isso aspirava com tanto ardor, com tanto zelo, quanto amava a Jesus. Escreveu no seu diário: “Com a ajuda de Deus e sob a proteção de São Paulo, quero consagrar a minha vida inteira ao Apostolado da Imprensa”. Na Epifania de 1917, fez um “pacto” com Deus: “Eu me empenharei com todas as forças no estudo e no trabalho; tu me concederás ter êxito em tudo o que se refere à minha vocação e missão de Paulino”.

Aos catorze anos, em maio de 1918, foi acometido de pleurite. Interrompeu os estudos e regressou à família para tratamento médico. Depois de um mês, julgando-se curado, foi rever os companheiros de Seminário. Teve uma recaída e, na metade de julho, foi atingido por uma meningite fulminante. Para espanto de todos, quando o Pe. Tiago Alberione lhe perguntava se desejava sarar ou ir para o céu, ele respondeu: “Quero cumprir a vontade de Deus”. Apesar de tão jovem, ofereceu a vida pela nascente Família Paulina e pelo seu apostolado no mundo. Certa vez Pe. Alberione afirmou a seu respeito: “Tinha profundo espírito de oração, sublime delicadeza de consciência, desejo ardente de santidade, inteligência e entrega ao apostolado das edições; era exemplar em todos os deveres”. Devotadíssimo à Eucaristia, dedicou-se à vocação e missão dos Paulinos com grande entusiasmo.

Era sábado, 27 de julho de 1918, às 18h, quando Majorino veio a falecer na sua terra natal, Benevello, assistido pelo Pe. Tiago Alberione. No mesmo instante, os seus companheiros concluíam um tríduo de oração, com a reza do terço, em sua intenção. Suas últimas palavras foram: “Cumprimente a todos os meus companheiros; diga-lhes que rezem por mim e que nos encontraremos todos no céu”. Foi sepultado no Cemitério local; posteriormente, no dia 26 de outubro de 1933, seus restos mortais foram transladados a uma urna especial do Cemitério de Alba, de onde, em 17 de abril de 1952, foram transladados à Capela da Pia Sociedade de São Paulo. No dia 2 de maio de 1963 foram colocados no Templo de São Paulo, em Alba, onde repousam atualmente.

Escreveu dele o Pe. Timóteo Giaccardo, seu Mestre: “Quisera dizer a todos esses jovens que se sentem inseguros, vacilantes, frios ou cansados da luta espiritual: tentem encomendar-se com fé a Majorino, ele era todo fogo pelo ideal do apostolado da imprensa, e morreu consumido pela luta contra seus defeitos”.

Afirma o Pe. Alberione: “Majorino era de uma inteligência precoce; tinha um temperamento muito inquieto, e, portanto, os defeitos da idade apareciam com bastante evidência…; memória muito boa; grandes desejos de saber, de modo que chateava a todos com seus ‘porquês’; imaginação fervorosa, atividade exuberante; ambicionava superar aos demais: na sala de aula, na catequese, no jogo, e também na oração”.

Majorino cultivava sua intensa aspiração à santidade, valendo-se de todos os meios que lhe pudessem ajudar a consegui-la e aplicando-se, com especial diligência ao exato e fiel cumprimento de seus deveres, inclusive nas mínimas coisas, tanta era sua delicadeza de consciência e seu desejo de aproveitar e santificar todas as ações de sua vida. Um dos Consultores escreve: “Sendo uma criança, com a sua idade não podia fazer obras extraordinárias; porém pelo que testemunham aqueles que o conheceram, podemos afirmar que ele realizou as coisas comuns à sua idade de modo não comum, de modo superior ao de um jovem, embora seja bom e piedoso… Exercitou todas as virtudes de maneira cada vez mais perfeita e progredindo até o último dia de sua breve vida, até poder qualificá-las como heroicas”. Quando encontrou o Mestre que o soube entender e guiar, Majorino não duvidou em escalar até os cumes da santidade.

Majorino nos deixa o testemunho de virtudes muito bonitas e atuais, especialmente para os mais jovens. Antes de tudo, uma consciência de que a juventude é preparação para a vida, um presente que se oferece a todos com vistas a um ideal, a uma missão que tem que se cumprir na terra, para a glória de Deus e o bem dos demais. É muito eloquente o testemunho do próprio Fundador na biografia do jovem:

“Majorino escutava de maneira especial as palestras em que se falava da Obra da Boa Imprensa; prestou muitíssima atenção em uma meditação em que se dizia que a boa imprensa é a alma de todas as demais obras de zelo e que para entregar-se por completo à boa imprensa é necessário ter o verdadeiro espírito do sacerdote. O ideal se explicava pouco a pouco. O Diretor disse uma noite: ‘Se podem unir as três classes de méritos: o de uma vida religiosa, o de uma vida de sacerdote e do apostolado da Boa Imprensa’. Para Majorino estas palavras foram como a explicação de um sonho misterioso que sentia dentro de si. Correspondiam a uma necessidade de sua alma. Quando terminou a palestra, aproximou-se do Diretor e lhe disse: – Isto é o que eu busco: o que o senhor explicou esta noite… porém, o senhor acredita que eu posso consegui-lo? – Não só o espero, senão que estou certo, desde que correspondas às graças do Senhor. – Bem, pois estou pronto. – Porém reflita bem e com calma. Estas decisões se tomam depois de muita oração, muita reflexão e muitos conselhos. – Porém eu já rezei e pensei; se o senhor me diz que eu posso consegui-lo, aqui estou… Ponho tudo em suas mãos: agora e sempre, tudo: me guie pelo caminho que indicou esta noite. – Porém terá que fazer muitos sacrifícios… – Não importa: espero que o senhor e São Paulo me ajudarão. Então ele não voltou a pensar em nada que não fosse ou conduzisse a seu ideal. Agarrou-se a ele com tanta força, com tanto amor, que desde a manhã até a noite o tinha na mente, no coração e nos lábios”.

É impressionante seu desejo de plenitude, de “progredir” constantemente, dando um passo cada dia, não só no plano espiritual, mas em toda a realidade humana e social: no estudo, no trabalho, na consideração dos meios como instrumentos que lhe permitem pregar a todo o mundo, apesar de sua pouca idade. À pergunta sobre o que queria fazer quando crescesse, respondia cada vez o que sua imaginação lhe inspirava: mecânico, ou mestre… Porém com a maturidade de sua consciência, um dia se sentiu inspirado e respondeu decidido: “Serei missionário, para salvar aos infiéis”. Mais tarde especificou: “Vou ser sacerdote, para pregar e salvar muitas almas”. Finalmente concluiu: “Quero ser santo, como Deus me quer”.

O que importa – opina um dos Consultores – é considerar se e em que medida Majorino empenhou seu livre compromisso e sua amorosa constância nessa carreira. E opina que vendo os documentos e os testemunhos (incluído o de sua irmã, Irmã Delfina), surpreende a frequência de uma palavra que se repete de modo impressionante: o verbo “quero”: um quero que se repete como um estribilho por todas as partes, começando desde quando Majorino tinha quatro ou cinco anos, umas noviças lhe perguntavam o que seria quando crescesse, respondeu imediatamente e decidido: “Quero ser santo!”.

Escrevia em seu diário: “Pode-se chegar a ser santo em qualquer estado. Avançar na virtude um pouquinho cada dia, até a morte”. “Meu Jesus, eu quero ser santo”. “Quero ser santo, verdadeiramente santo, realmente santo, deveras santo”. “De rebelde como era quero, com a graça de Deus, chegar a ser santo”… “Quero chegar a ser um santinho como São João Berchmans”. “Hoje [Festa da Conversão de São Paulo] quero converter-me também eu. Quero chegar a ser todo de Deus”. “Quero ser santo, como Santo Expedito” (e costumava dizer: expeditamente). “Com a graça de Deus e da Virgem quero ser santo, grande santo, santo já. Basta de pecados! Méritos! Méritos!’”.

O Pe. Alberione relata uma pequena anedota que, em sua ingenuidade, expressa a seriedade da opção de Majorino pela santidade. Um dia ele disse ao Fundador: “O senhor não me vê sempre; eu necessito de alguém que me observe bem e me corrija de qualquer coisa pequena”. Foi escolhido  − conta o Pe. Alberione − um companheiro como corretor. E Majorino se aproximava dele com frequência insistindo em perguntar: “Que viu?”. E como o outro geralmente não tinha observado nem sequer faltas inadvertidas, ele se lamentava comigo: “meu companheiro não me diz nunca nada. Talvez tem muito que fazer. Não me observa. Me ponha outro”.

A virtude da esperança se manifesta em sua fervorosa identificação com sua vocação apostólica, que ele viveu com tal entusiasmo, que contagiava aos outros. Porém, sobretudo, se percebe em seu modo de aceitar a enfermidade e na serenidade com que se preparou para o encontro com Deus, cantando “ao céu, ao céu” ao ver próxima a morte. Majorino cresceu no amor de Deus impulsionado por sua ânsia de ser santo, de sua forte aversão ao pecado, da luta contra seus defeitos e inclinações más e, comprometendo-se, sem orgulho, a “progredir um pouquinho cada dia”.

Tem que ser acrescentado o seu desejo de cumprir sempre a vontade de Deus, sinal do verdadeiro amor. Quanto ao amor aos demais, vivaz como era e amigo, por natureza, para ser sempre o primeiro, teve que lutar para adquirir modos caridosos de comportamento com seus companheiros. Quando percebia ter ofendido a algum, se humilhava e lhe pedia perdão. É significativo seu propósito: “Tratarei sempre bem a meus companheiros, inclusive quando me ofendem”.

Merece destaque sua paixão apostólica e sua abertura às formas modernas de apostolado: do Fundador havia aprendido que a imprensa realizaria maravilhas em outro tempo impensáveis. Quando Majorino ouviu falar pela primeira vez da “Escola Tipográfica Pequeno Operário”, imediatamente expressou ao Pe. Alberione seu desejo de ser admitido. “Com a ajuda de Deus e sob a proteção de São Paulo, quero consagrar minha vida inteira ao apostolado da imprensa”. “Destruamos a má imprensa, porque é um flagelo pior que a peste, que a fome, que a guerra”. “Tem um aspecto que merece destacar-se – afirmava o Fundador –: Majorino Vigolungo é o aspirante modelo de uma vocação nova na Igreja: vocação que requer inteligência e visão ampla das necessidades e uma abertura que abarque todas as formas modernas dos apostolados… Por isso, sua figura… se integra em nosso tempo com toda sua atualidade” (CISP 437).

Sua Causa, promovida pelo Fundador, foi aberta no dia 12 de dezembro de 1961. Teve uma pausa em 1971, porque a Congregação para as Causas dos Santos queria voltar a discutir a questão das Causas de Beatificação dos adolescentes; o estudo concluiu positivamente no dia 11 de setembro de 1980. Reconhecida a heroicidade de suas virtudes, foi declarado Venerável por João Paulo II, no dia 28 de março de 1988. Atualmente, para sua Beatificação, necessita-se um milagre atribuído a sua intercessão.

Concluía seu estudo um dos Teólogos: “Compartilhamos as razões que muitos expressaram para a Beatificação de Majorino, sustentando que esta Causa é muito oportuna, tanto para os jovens, tão necessitados de exemplos validamente vividos, como para o desenvolvimento do apostolado no campo dos instrumentos da comunicação social. Pensamos que pode considerar-se um enfant prodige da santidade”.

 “A falta de vocações… – escreveu o Pe. Renato Perino – poderá talvez encontrar solução quando em nós voltar a florescer uma fé mais viva nessas realidades evocadas pela figura de Majorino Vigolungo, que destaca no horizonte da Congregação como a melhor síntese da pedagogia paulina. Que a figura de Majorino… seja inspiradora não só para os Aspirantes, mas também para todos os educadores”. É considerado o Patrono dos Aspirantes Paulinos.

Oração

Pai Celeste, agradeço-vos porque escolhestes Majorino Vigolungo para anunciar o Evangelho em todo o mundo com os meios de comunicação social e porque concedestes a esse vosso servo fiel um desejo ardente de santidade e um amor tão forte pela salvação das almas, que o levou a oferecer a sua vida jovem pelo apostolado dos meios de comunicação social.

Nós vos pedimos, Senhor, que vos digneis glorificar também na terra a esse apóstolo, para edificação e conforto dos muitos jovens, para que, fortalecidos com a vossa graça e atraídos pelo seu exemplo, sejam generosos em seguir o vosso chamamento no cumprimento da missão que vós lhes confiastes para a vossa glória e a salvação dos irmãos.

Concedei-me também, por intercessão de Majorino Vigolungo, a graça que agora vos peço… (Pedir as graças de que necessita).

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória ao Pai.

Ó Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, tende piedade de nós.

Rainha dos Apóstolos, rogai por nós.

São Paulo Apóstolo, rogai por nós.

De todo o pecado, livrai-nos, Senhor.

Venerável Majorino Vigolungo

Local de Nascimento:  Benevello (Cúneo, Itália).

Data de Nascimento: 6 de maio de 1904.

Morte: 27 de julho de 1918, Benevello.

Venerável: 28 de março de 1988.

Do livro Modelos de Santidade da Família Paulina