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28/06/2022

Segredo precioso de São Paulo

Por Felipe Borges, Seminarista Paulino

“Ó Deus, que sabeis que não confiamos em nenhuma ação nossa: concedei-nos benigno, vossa defesa contra todas as adversidades pela proteção do doutor dos gentios”. Com estas ou outras palavras semelhantes reza a Família Paulina o Ato de humildade (inspirado na oração do antigo “domingo paulino” do tempo da Sexagésima, nesse domingo se fazia leitura dos trechos de 2Cor 11,19-33;12-1-9 [1]).  Essa oração traz uma grande riqueza e ao mesmo tempo uma revelação das abundantes riquezas da graça que o convertido Paulo, pode experimentar após a sua conversão, quando cai de sua autossuficiência para se abandonar na infinita potência e misericórdia de Deus; quando sai de seu pequeno mundo para entrar no além-fronteiras do anúncio da salvação e da libertação oferecidos pela morte e ressureição de Cristo Jesus.

Paulo se encontrou com Jesus no caminho de Damasco (Cf. At 9,1-19) e daquele encontro em diante uma transformação de mentalidade, de sonhos, de objetivos aconteceu. Tudo na vida de São Paulo teve um novo referencial, um novo horizonte, um novo objetivo e esse objetivo, essa glória, esse prazer era Cristo Jesus; era nele a força na fraqueza; a coragem nas tribulações; a paz nas tempestades; a sabedoria eloquente para evangelizar os simples e os poderosos; a caridade para acolher a todos demonstrando-se um pai que se preocupa com sua família, isto é, as comunidades por ele fundadas. Tão forte era a intimidade e a confiança de Paulo em seu Mestre que chegou a afirmar: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20).

O apóstolo mais estudado, a quem se deve muito a difusão do Evangelho para-além da Palestina, teve momentos difíceis, de chegar a pedir que lhe fosse tirado o seu espinho na carne, o que lhe impedia de bem evangelizar e viver o seu apostolado. Mas nos conta o seu segredo: “Para que eu não me inchasse de soberba por causa dessas revelações extraordinárias, foi me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me espancar, a fim de que eu não me encha de soberba.  Por esse motivo, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Ele, porém, me respondeu: ‘Para você basta a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder.’ Portanto, com muito gosto, prefiro gabar-me de minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim.”  (2Cor 12,7-9). A conclusão do Ato de humildade: “Por mim mesmo, nada posso. Com Deus, posso tudo. Por amor a Deus, tudo quero fazer. A Deus a honra. A mim o paraíso.”, revela-nos bem o segredo do êxito de São Paulo e o forte sustentáculo da sua vida: a abundante graça de Deus agindo, não nossas próprias forças, não nossos méritos. Apesar de tudo o que passou em sua jornada apostólica como relata aos Coríntios: “Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Fui flagelado três vezes; uma vez fui apedrejado; três vezes naufraguei; passei um dia e uma noite em alto mar. Fiz muitas viagens. Sofri perigos nos rios, perigos por parte dos ladrões, perigos por parte dos meus irmãos de raça, perigos por parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos por parte dos falsos irmãos. Mais ainda: morto de cansaço, muitas noites sem dormir, fome e sede, muitos jejuns, com frio e sem agasalho” (2Cor 11, 24-27).

Em vez de desanimar Paulo prosseguiu, não por suas próprias forças, mas apoiado naquele que lhe fortalece, a ponto de declarar: “É por isso que eu me alegro nas fraquezas, humilhações, necessidades, perseguições e angústias, por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte.” (2Cor 12, 10). Que o grande apóstolo São Paulo nos ajude e nos inspire em meio a tantos desafios internos e externos da nossa caminhada espiritual, eclesial, social e vocacional a responder com humildade e fé aos apelos e sinais do hoje da nossa história. Como admoestava o Padre Alberione a rezar, inspirando-se na Oração do Domingo da Sexagésima: “Ó Deus, que sabeis que não confiamos em nenhuma ação nossa: concedei-nos benigno, vossa defesa contra todas as adversidades pela proteção do doutor dos gentios”. Pela proteção desse apóstolo corajoso e incrível cujo segredo não foi apoiar-se em si, mas na forte rocha, Cristo, palavra de vida em plenitude.

[1] “Deus quis conspicis, quia ex nulla mostra actione confidimus: concede propitius; ut contra adversa ominia Doctoris gentium protectione muniamur” (Don Alberione alle apostoline 1962, Apostoline, 2016 p. 50).