Blog

03/02/2022

Venerável Irmã Tecla Merlo

Primeira Superiora Geral das Filhas de São Paulo

Mulher forte, associada à vocação e à ação do Pe. Tiago Alberione

Maria Teresa Merlo, foi a segunda filha de Heitor Merlo e Vicência Rolando, nasceu em Castagnito de Alba (Cúneo, Itália) a 20 de fevereiro de 1894. Seus irmãos eram: Carlos, João e Constância. Passou seus primeiros anos no âmbito da família, da escola e da paróquia, comprometida no apostolado da catequese, na assistência e formação dos jovens. Para tanto, abriu, na casa paterna de Castagnito, em 1912, um pequeno salão de costura, onde acolheu jovens que desejavam aprender a costurar e bordar. Entre os anos 1908-1911, frequentou cursos de costura e bordado no Retiro da Providência, dirigido pelas Irmãs de Sant’Ana. Logo depois, os pais a enviaram a Turim para se aperfeiçoar na profissão.

Aos 20 anos, tinha desejo imenso de entregar a vida a uma grande causa. Não obstante a saúde frágil, era trabalhadora como o povo da sua terra. Era também catequista na sua Paróquia. Foi aí que um dia lhe chegou o convite do Teólogo Alberione, para se integrar num grupo de moças que se preparavam para iniciar uma Congregação de Irmãs, dedicadas à divulgação do Evangelho com a boa imprensa.

A 15 de junho de 1915, o Pe. Tiago Alberione abriu o “Laboratório Feminino” em Alba. Esse ato marca a data de nascimento da Congregação das Irmãs Paulinas. Aos 21 anos, mais precisamente a 27 de junho de 1915, Teresa Merlo encontrou-se com o Pe. Tiago Alberione na sacristia da igreja paroquial de São Cosme e São Damião e aceitou o convite para fazer parte do primeiro grupo das futuras Irmãs. A 29 de junho de 1916, emitiu os Votos Religiosos Privados Temporários, que foram recebidos pelo próprio Pe. Tiago Alberione. Com mais oito companheiras, Teresa Merlo, a 22 de julho de 1922, emitiu sua Profissão Religiosa Privada Perpétua em Alba, recebendo o nome de Mestra Tecla, em homenagem a Santa Tecla, Primeira Discípula do Apóstolo Paulo, constituindo oficialmente a Congregação das Filhas de São Paulo. Por sua vez, o Pe. Tiago Alberione a nomeou Superiora Geral e foi chamada, desde então, de Primeira Mestra, cargo que desempenhou nada menos que por quarenta e dois anos, até sua morte. Projeto e missão audazes, impensáveis para uma mulher no início do século XX. Teresa aceitou o desafio. Ficou entusiasmada.

A 28 de outubro de 1928, com um grupo de Irmãs, Mestra Tecla recebeu o hábito religioso, que era a identificação externa das Irmãs Paulinas. Finalmente, a 15 de março de 1929, o Bispo Dom José Francisco Re constituiu as Irmãs Paulinas como Congregação Religiosa de Direito Diocesano. No Decreto, Tecla é reconhecida como Superiora Geral, com o título de Primeira Mestra.

Com um estilo de vida, feito de fidelidade à inspiração de Deus na vida ordinária, perseverou heroicamente fiel à simplicidade e à sinceridade, modelo de uma fé pura e forte. Nesse espírito evangélico sobressai sua insistência no desapego das pequenas coisas em sua vida pessoal, e por outro lado o convite constante de comprometer tudo para o apostolado e para o bem espiritual das Irmãs.

Religiosa irrepreensível, ao mesmo tempo moderna, sensível às mudanças e às necessidades da sociedade, encorajava suas Filhas, onde quer que estivessem presentes, movida por um único fim: a glória de Deus e o bem das pessoas, dando impulso a sempre novos Centros de difusão da verdade, através dos modernos instrumentos da comunicação social.

Assim se viu na fundação das Pias Discípulas do Divino Mestre, pelas quais teve que sofrer muito, submetendo-se humildemente às decisões dos Superiores Eclesiásticos. Esta capacidade de sofrer por sua fidelidade à Vida Religiosa e à sua missão se registra especialmente no ato heroico de 1961, quando se ofereceu como vítima pela santificação de todas as Filhas de São Paulo. Dizia a suas Filhas: “O Evangelho esteja sempre em vossa mente, em vossa boca, em vosso coração”.

Do Apóstolo São Paulo, Mestra Tecla aprendeu o amor incondicional a Jesus e a todos os povos. Moldou o coração à universalidade e abriu-se a todas as culturas e povos. A exemplo de Paulo, foi mestra e formadora de outras Irmãs; como ele, usou os novos meios de comunicação para a difusão do Evangelho. É admirável a mensagem e o testemunho de santidade que Tecla Merlo deixa, não apenas às Filhas de São Paulo, mas a todos os membros da Família Paulina.

Maria Teresa foi uma mulher nova, tanto no mundo religioso, ao qual quis pertencer, como no aspecto humano. Antes de tudo, libertou sua fé do devocionismo, permitindo que seu espírito voasse, atraído pelas coisas de Deus, graças ao conhecimento das Escrituras e ao apoio clarividente do Fundador, que a dotou de ferramentas teológicas. Sua oração, feita de confiança simples, mas também de meditação pessoal, iluminou sua vida, suscitando a coragem da novidade e liberando uma alegria de viver e um vigor na capacidade de desgastar-se sem prejuízos.

Tecla Merlo é uma mulher de fé e coragem excepcionais, na contemplação e na atividade, harmoniosamente integradas nela; uma mulher completa, equilibrada, capaz de combinar harmonicamente inteligência e vontade, atividade e oração, sensibilidade e tato, fé e coragem. Os testemunhos a descrevem como uma Superiora que sabia amar, corrigir, dizer tudo com simplicidade, às vezes tendo que esforçar-se por suavizar seu caráter forte, porém nunca deixava de estimular as suas Filhas à fidelidade. Assim, chegou a ser uma mãe e Superiora capaz de investir e projetar em um setor novo e complexo que implicava risco e responsabilidade, gestão de dinheiro, e notáveis dotes empresariais. Foi mulher de ação e de vanguarda, que soube abrir-se a uma universalidade desconhecida em seu tempo, sobretudo tratando-se de uma mulher.

A Primeira Mestra não foi apenas a primeira colaboradora, a mais generosa e fiel intérprete do Pe. Alberione no começo e na consolidação do ramo feminino, da qual foi Primeira Superiora Geral; foi também a mãe das outras fundações da Família Paulina, em cujo nascimento e desenvolvimento ela colaborou, com discrição, com seu conselho, com a oração e com múltiplas ajudas de todo tipo. Dizia dela o Fundador: “Direta ou indiretamente, e não apenas com abundantes orações, mas de distintas formas e maneiras, contribuiu com as demais Instituições da Família Paulina… Grande coração, conforme o coração de Jesus” (Vademecum, 20). “Não era somente uma Superiora, ela é a mãe do Instituto” (Vademecum,  22).

A vontade de Deus, aceita e vivida nos mínimos detalhes até o último dia de sua intensa e movimentada existência, constitui um pilar essencial das virtudes heroicas da Mestra Tecla. Sem especiais carismas ou dotes chamativos exteriores, ela se impõe sem dúvida como modelo de fidelidade à graça ao seguir e responder à sua vocação, que lhe exigiu abrir-se com valentia, ajudada pelo impulso do Pe. Alberione, a novos horizontes apostólicos, participando assim de maneira sumamente útil do grande movimento eclesial de renovação no estilo de vida consagrada e de evangelização, sobretudo por meio da imagem e do som, de acordo com as necessidades dos tempos.

É admirável a capacidade de compreensão de Tecla Merlo e sua identificação no aspecto feminino com o ideal apostólico do Pe. Alberione, para colocar em marcha uma nova Congregação de mulheres lançadas a novos caminhos para a realização do Reino de Deus, fortemente preparadas mediante educação espiritual, profissional e cultural, que as abre a todos os novos apostolados e a todas as condições sociais, para levar o Evangelho da salvação até os últimos confins da terra. A Mestra Tecla Merlo exerceu seu papel essencial de colaboradora de um profeta de modo também profético, testemunhando a grande fecundidade que gera a colaboração e o apoio recíproco entre homens e mulheres, também dentro de uma Família Religiosa.

Com o exemplo, com a palavra, com a oração, soube conduzir e sustentar a suas Filhas na “nova vocação” que Jesus Mestre lhes encomendava na Igreja, colaborando também com o nascimento dos outros ramos da Família Paulina. Sua atitude dominante foi a fidelidade-obediência, que se destaca no panorama geral positivo de sua vida. Essa fidelidade se distingue não só na continuidade e no progresso de toda sua vida religiosa, senão também nos momentos difíceis quando não podia ver com clareza e nos que tinha que confiar em quem falava e mandava em nome de Deus. Contudo, soube manter sempre o gosto de um estilo próprio, que não trairia jamais, nem a seus princípios. Isso imprimiu coerência e dinamismo a seu modo de agir.

Entretanto, olhando atentamente, o que a movera era simplesmente uma paixão sincera pela santidade. Este era seu único, grande e ambicioso projeto. Nunca ficou para trás quando compreendeu que a ela cabia realizá-lo em formas e campos anteriormente impensáveis e agora necessários. Ao contrário, deixou-se entusiasmar por esses desafios, e soube criar as condições para um novo modo de identidade feminina, disposta a competir com os papéis tradicionais e a redefinir a condição religiosa mediante as inéditas possibilidades que se lhe exigem com a formação, o trabalho e o compromisso apostólico em uma Igreja cada vez mais atenta à mediação entre o anúncio da fé e as necessidades de um mundo complexo e contraditório.

Testemunho de santidade apostólica e atual. Seu exemplo de santidade, escreve um Teólogo, “me parece excelente não só pelo grau de exercício das virtudes cristãs que brilham na vida da Irmã Tecla Merlo, senão também por seu sumo grau de atualidade. Com efeito, o incansável zelo da Irmã em seguir sua vocação ao apostolado, em completo abandono à vontade de Deus, a levava à criação de centros de difusão da verdade através dos modernos meios de comunicação social em todas as partes do mundo… Ela os considerava como eficacíssimos meios de evangelização. Uma santidade apostólica, pois, em plena sintonia com o desenvolvimento do mundo moderno; uma santidade que sabe acolher os aspectos positivos do mundo para colocá-los ao serviço do Reino de Deus”.

O testemunho mais brilhante de Tecla Merlo é sua constante, alegre e total adesão à vontade de Deus, não por obrigação, mas com gosto. Escrevia em seus apontamentos: “Decidir-se à renúncia até o aniquilamento do próprio eu. É necessário renová-la todos os dias e não se pode conhecer seu alcance, senão na medida em que se progride na santidade. Uma bonita opção bem aprofundada dá à vida toda sua beleza e seu valor. No começo é fácil. O terrível é manter durante toda a vida essa linha de conduta. É o terrível cotidiano o que me assusta. Mantê-la até o ‘consummatum est’ do último instante, depois de ter começado cada dia com uma crescente consciência, renovar esta vontade, depois das feridas de todos os dias, esse é o problema. Porém isto é o que constitui a verdadeira beleza e a glória de nossa vida, a verdadeira fidelidade e a verdadeira prova de amor…” (Exercícios Espirituais 1951).

Disse a respeito dela o Pe. Alberione: “Fui testemunha de sua vida desde 1915 até o final: dia 5 de fevereiro de 1964. A Primeira Mestra vivia em constante ascensão para Deus. Seus segredos? Tinha dois segredos na vida, que são os segredos dos santos e dos apóstolos: humildade e fé. Uma humildade, que conduz à docilidade. Muitas vezes era escuro, arriscado, não valorizado o que se lhe apresentava. Porém a virtude superava as dificuldades. Uma fé que conduz à oração. Todo mundo sabe do espírito de oração da qual ela obteve essa sabedoria de governo que todos conhecem. Era frágil de saúde, porém forte no espírito. Tenaz e obediente até o sacrifício”.

E também: “Foi uma alma contemplativa. Orava em todas as partes, porque continuamente e em todo lugar estava unida ao Senhor. Seu espírito se elevava. Uma luz cada vez mais viva a iluminava… Até o final de sua vida, sobretudo, escutava e considerava: buscar só a glória de Deus. Isto constitui o cume da santidade… Já falei outras vezes que a santidade consumada consiste precisamente em buscar só a glória de Deus. A Primeira Mestra tinha chegado a esse ponto”.

E a Madre Maria Lucía Ricci, Primeira Superiora Geral das Pias Discípulas do Divino Mestre, afirmava: “Somos muitos os que a invocamos, porque se a Mestra Tecla foi a Cofundadora e Primeira Superiora Geral das Filhas de São Paulo, a amplitude de sua colaboração, o dom de si mesma, se estenderam a toda a Família Paulina… Em um momento de mais intensas dificuldades e provas, escrevia assim às Pias Discípulas o Mestre Giaccardo, Vigário Geral da Pia Sociedade de São Paulo: ‘A Primeira Mestra acolhe com coração maternal a todas vocês, para fazê-las sentir o carinho de mãe’. Conosco na dor, conosco na alegria, alegrando-se pelo caminho que, também aqui, era a primeira a constatar, e a acalentar. Filha de São Paulo ‘em plenitude’, penetrava em dimensão singular o que chegou a ser específico para a Pia Discípula, o compartilhava com essa amplitude de visões e grandeza de ânimo que fez com que sempre a estimássemos e a amássemos”.

Em 13 de dezembro de 1943, a Santa Sé emitiu o Decreto de Louvor à Congregação das Irmãs Paulinas; em 15 de março de 1953, emitiu o Decreto de Aprovação Pontifícia e aprovou-lhe as Constituições. Irmã Tecla Merlo, a 7 de janeiro de 1957, convocou o Primeiro Capítulo Geral das Irmãs, o que ocorreu entre 4 e 7 de maio, quando foi reeleita Superiora Geral para um mandato de doze anos.

Durante os Exercícios Espirituais, na Solenidade da Santíssima Trindade, Mestra Tecla ofereceu a sua vida pela santificação de todas as Irmãs Paulinas: era 28 de maio de 1961. Em 1963, de 8 a 17 de maio, apesar de muito doente, sentindo-se um pouco melhor e deixando de lado todas as prescrições médicas, decidiu ir ao Congo ver suas Filhas que haviam passado por sérias dificuldades devido a guerras nacionais. Foi sua última viagem ao Exterior. Mestra Tecla foi acometida de um espasmo cerebral a 16 de junho de 1963 e alegrou-se muito pelo encontro com o Papa Paulo VI, que visitou o Hospital Regina Apostolorum a 22 de agosto. Nesse mesmo hospital, em Albano, após uma hemorragia cerebral, morre assistida espiritualmente pelo Pe. Tiago Alberione, deixando um patrimônio inesgotável de ensinamentos e um caminho seguro na Igreja de Deus. Era o dia 5 de fevereiro de 1964.

Em 11 de julho de 1967 foi pedido ao Cardeal Arcadio Larraona o começo da Causa de Beatificação e Canonização, promovida pelo Fundador. Em 26 de outubro de 1967, em Roma, foi aberto o Processo Ordinário para recolher testemunhos e documentação sobre a fama de santidade, virtudes e milagres de Mestra Tecla. O Processo se concluiu a 23 de março de 1972. João Paulo II assinou o Decreto que reconhecia a heroicidade de Irmã Tecla Merlo e, a 22 de janeiro de 1991, a proclamou Venerável. Espera-se um sinal do céu, atribuído a sua intercessão, reconhecido e aprovado pela Igreja, para que se possa proceder à Beatificação.

Como afirmam unanimemente os Consultores que estudaram sua vida, a figura da Mestra Tecla Merlo, valente apóstola da Palavra de Deus e mulher de profunda vida interior, apresenta características tais que levam a considerar muito oportuno que se proponha como modelo de virtudes. Especialmente para as Famílias Religiosas Femininas, que podem encontrar em sua figura e em seu exemplo um estímulo vivo para viver a vocação com heroica fidelidade ao carisma fundacional, em estreita união com o Magistério da Igreja.

Oração

Trindade Santíssima, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos louvo pelas maravilhas que fizestes na vida da Venerável Irmã Tecla Merlo. Ela seguiu Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida, dedicando-se à missão de evangelizar por meio da comunicação social. A exemplo do Apóstolo Paulo, ela queria ter mil vidas para doá-las ao Evangelho.

Jesus Mestre, concedei-me fé e coragem para imitá-la em suas virtudes, e, por sua intercessão, peço esta graça tão necessária para mim… (Pedir as graças de que necessita).

Pai-nosso, Ave-Maria, Glória ao Pai.

Ó Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, tende piedade de nós.

Rainha dos Apóstolos, rogai por nós.

São Paulo Apóstolo, rogai por nós.

De todo o pecado, livrai-nos, Senhor.

Venerável Irmã Tecla Merlo

Local de nascimento: Castagnito d’Alba (Cúneo, Itália).

Local de nascimento: 20 de fevereiro de 1894.

Morte: 5 de fevereiro de 1964, (Albano) Roma.

Venerável: 22 de janeiro de 1991.

Do livro Modelos de Santidade da Família Paulina

 

, ,