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08/09/2020

Festa da Natividade de Nossa Senhora

Por João Paulo Bedor, ssp


Celebrando hoje a Natividade de Nossa Senhora, a santa mãe Igreja nos recorda os privilégios extraordinários com que Deus quis enriquecer e adornar aquela que seria Mãe do Redentor do mundo. Esta festa é celebrada nove meses depois da celebração da solenidade da Imaculada Conceição (8 de dezembro). Não é costume da Igreja celebrar o dia de nascimento dos santos, mas sim o Dies Natalis, ou seja, o dia de sua morte, isto é, quando nasceram para a glória eterna, para festejar diante do trono do Deus altíssimo (Ap 7,9). Há, porém, três exceções nesta regra. A Igreja celebra o nascimento de Jesus Cristo (Natal); de São João Batista e o da Virgem Santíssima. Sendo assim, celebramos os dois precursores da vinda messiânica: Maria e João Batista. Este por anunciar, desde o ventre materno, a presença do Cordeiro Salvador. E aquela, por dar o “SIM” a Deus e aceitar que Ele tomasse carne em seu ventre.
Não há, nos Evangelhos, referência alguma ao nascimento de Maria. A celebração deste dia chegou até nós por meio da Tradição da Igreja. O relato do nascimento nos é oferecido por meio de um evangelho apócrifo, ou seja, aquele que não está no cânon bíblico: o protoevangelho de São Tiago. Este escrito também foi chamado de “Natividade de Maria”. Não se sabe quem foi o seu autor, certamente não foi São Tiago, embora atribuam a ele o escrito. É provavelmente um escrito do primeiro século, e gozou de grande estima entre os primeiros cristãos e os Padres da Igreja, como São Clemente de Alexandria, São Justino, Orígenes, etc. Foi um escrito influente na Liturgia e na Mariologia da Igreja. Sua redação começa revelando os nomes dos pais de Maria Santíssima (Joaquim e Ana), o seu nascimento, sua consagração no Templo, o casamento com José, a concepção de Jesus, a visita dos Reis Magos e a perseguição e matança das crianças inocentes.
Ao celebrarmos o nascimento de Maria, celebramos, na verdade, o nascimento da nova Eva. Maria é a porta pela qual a Salvação entra no mundo. Enquanto Eva se tornou a porta da entrada do pecado e do afastamento de Deus. Maria é a porta do Céu para acolher a Graça de Deus no mundo. Em Maria, Deus recria a cena da paraíso. Santo Irineu ensina: “Assim como Eva foi seduzida pela fala de anjo e afastou-se de Deus, transgredindo a sua Palavra, Maria recebeu a Boa-nova pela boca de anjo e trouxe Deus em seu seio, obedecendo à sua palavra. Uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus, a outra deixou-se persuadir a obedecer a Deus, para que, da virgem Eva, a Virgem Maria se tornasse advogada. O gênero humano que fora submetido à morte por uma virgem, foi libertado dela por uma virgem, […] o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria, e o que Eva amarrara pela sua incredulidade Maria soltou pela sua fé” (Adversus Haereses [Contra as Heresias], 19,1; 22,4).
A celebração deste mistério divino é motivo para nos alegrarmos. Não é um simples aniversário, é o momento de pensarmos na Vontade amorosa de nosso Deus, que desde sempre desejou nos amou e quis nos salvar. A Igreja medita sobre estes nuances da economia salvífica, mostrando-nos que Deus pensa grande, mas quer que o mundo seja salvo por meio da simplicidade. Por isso, escolhe nascer de uma mulher simples, de uma moça que se dedicava a Ele de corpo e alma. E, como ensina Santo Ireneu: “a prudência da serpente [Gn 3,1-24] foi vencida pela simplicidade da pomba” [Lc 1,26-38] (Adversus Haereses 19,1). Por isso, podemos cantar: “Tua luz venceu a treva do pecado original, transformando os filhos de Eva em nação sacerdotal”.
Maria da Natividade, rogai por nós!

Referência

SANTO IRENEU. Contra as Heresias, Coleção Patrística (Vol. IV). São Paulo (Paulus), 1995.

https://www.paulus.com.br/loja/patristica-contra-as-heresias-vol-4_p_703.html?es_campaign=sugestao_produto&es_medium=menu_esearch&es_source=loja

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