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07/12/2021

Liberdade para gerar vida

Por Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

O pecado é uma desonra. Ele mancha o projeto de Deus. Humilha o que há de mais humano em nós e desfigura o dom mais sagrado que recebemos de Deus: a vida. Por isso, dizer que Nossa Senhora é imaculada, isenta da desonra do pecado, é dizer que ela é livre. E mais: é dizer que Deus é absoluto.

Em Maria começa nova criação. Não a partir do nada, mas pela força do Espírito Santo, que reveste de vida um mundo marcado pelo pecado. Concebido do seio da virgem, é Deus que nos dá Jesus. Maria está em função do projeto salvador. A salvação que Deus nos oferece é graça, mas não exclui a participação da humanidade.

A concepção virginal de Maria é símbolo e realidade da nossa obediência a Deus. Maria realiza exemplarmente o ser humano. Em sua virgindade se manifesta quem é Deus. Ele escolhe o fraco, o sem sentido.

Mas não foi algo automático. Maria trilhou durante sua vida o caminho do amadurecimento da fé e de sua relação com Deus. Esse caminho todo cristão é também chamado a trilhar. Veja-se a lógica de Deus: ao escolhê-la, mulher pobre e humilde, de um lugar longínquo (Galileia), ele escolhe os fracos e desprezados. A figura de Maria, portanto, restaura e valoriza a dignidade da mulher e, assim, de todos os humilhados do mundo.

Sua maternidade virginal aponta para a ação de Deus, que toma a iniciativa de comunicação íntima com a humanidade. Maria é a criatura aberta à comunicação de Deus. Por isso, é a mais humana. Acolhendo o Verbo encarnado em seu seio, realiza plenamente o ser humano, direciona-se à transcendência, supera o passageiro e aponta para a realização escatológica, o futuro em Deus. Quanto mais alguém realiza a comunicação com Deus, mais humano se torna.

Portanto, na figura de Maria, o gênero humano alcançou a mais alta comunicação com Deus. A gestação do Filho, que nela se deu particularmente em seu corpo, ocorre em todo ser humano aberto à vontade divina.

Maria é o símbolo da entrega a Deus, da obediência da fé. Sua maternidade é modelo da Igreja que gera filhos e filhas pelo batismo, mediante a fé. Trata-se de maternidade entendida não só como dignidade, mas como um serviço a todo o gênero humano. Maria é a serva do Senhor (Lc 1,38), nela se cumpre a Palavra. Seu serviço é humilde e comporta humilhação. Sua existência é um itinerário de fé, no qual se manifesta a perseverança no serviço a Deus, na obediência ao chamado.

Em Maria está provado que o ser humano é capaz de receber o dom de Deus.

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