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08/05/2020

Maria na Liturgia das Horas

Por Manoel Gomes, Noviço Paulino

A liturgia das horas é a oração pública e comum de todo o povo de Deus, isto é, de todos os fiéis que formam a Igreja. Vemos, desse modo, o ca­ráter universal que tem essa oração que é também definida como oração oficial da Igreja. Oficial porque litúrgica, ou seja, é a Igreja-esposa que, por meio dos salmos e outros textos, louva a Cristo, seu divino esposo.

Podemos nos perguntar, sobretudo vivenciando o mês mariano, qual o papel de Maria nessa oração ou como ela vem nela apresentada. Para responder a essa pergunta nos fundamentamos basicamente em duas das Constituições do Concílio Vaticano II: Sacrosanctum Concilium e Lumen Gentium.

Antes de tudo destaca-se o papel de Maria na obra da redenção. Ela foi predestinada por Deus desde toda a eternidade para ser a Mãe do seu Filho. Isso sem excluir, evidentemente, a sua liberdade de criatura humana. Por livre escolha, portanto, Maria aceitou colaborar no plano de salvação para toda a humanidade. Por isso, “a Virgem Maria, que na anunciação do Anjo recebeu o Verbo no coração e no seio, e deu ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus Redentor” (LG 53).

 Maria é apresentada também como modelo para a Igreja. Nós que ainda caminhamos nesse mundo encontramos o modelo mais puro e genuíno daquilo que a Igreja deve tornar-se. De fato, “a Mãe de Deus é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo” (LG 63). É, desse modo, também exemplo de oração. Ela que guardava os acontecimentos no seu coração e os meditava, certamente se dirigia a Deus na sua busca de compreensão. Como mulher religiosa que vivia sua fé judaica participava de todas as orações próprias do seu povo.

 É justamente devido ao lugar preeminente ocupado por Maria na economia da salvação que ela recebe da Igreja um culto especial. Como expressa com clareza a Constituição sobre a liturgia, ao falar sobre o ano litúrgico, “na celebração deste ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com especial amor, porque indissoluvelmente unida à obra de salvação do seu Filho, a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, em quem vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção, em quem contempla, qual imagem puríssima, o que ela, toda ela, com alegria deseja e espera ser” (SC 103).

  Tudo isso se aplica à liturgia das horas como expressão cotidiana do culto da Igreja. Maria é venerada nas suas memórias, festas e solenidades. Também durante o tempo comum é permitido celebrar a memória facultativa de Nossa Senhora no sábado, dia dedicado pela tradição ao seu culto.

Porém, se é verdade que Maria é venerada pela Igreja, não se deve esquecer que ela é também o seu membro mais eminente. Portanto, quando a Igreja se reúne para elevar a Deus os seus louvores por meio da liturgia das horas, sendo essa a oração de “toda” a Igreja, Maria também une-se aos demais santos e toda a comunidade dos filhos de Deus para dar continuidade ao hino de louvor introduzido neste mundo por seu Filho e Senhor nosso.

Desse modo, como em toda liturgia, a nossa oração é sempre dirigida ao Pai, pelo Filho, no Espírito. Também quando celebramos a Virgem Maria o nosso louvor não é endereçado a ela, mas a Deus que a criou e nela realizou maravilhas.

Todos os dias, após as Completas, a Igreja a saúda com uma antífona porque ela é imagem daquilo que “desejamos e esperamos ser”. Assim, antes do repouso merecido, o nosso último olhar se dirige a Maria pedindo que ela nos guarde e nos proteja.

O papel de Maria na liturgia das horas, portanto, é de membro excelente da Igreja que, junto com seus irmãos pecadores, louva a Deus pelas maravilhas que ele realizou e continua realizando. Ao mesmo tempo ela permanece diante de todos como exemplo máximo daquilo a que todos são chamados a se tornarem.

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