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27/04/2020

O Bem-aventurado Tiago Alberione: Apóstolo dos tempos novos

Por Pe. Antonio F. da Silva, ssp

Completam-se os dezessete anos da beatificação do Pe. Tiago Alberione. Chega-se à beatificação de um Servo de Deus através do longo processo canônico, como vamos ver.

Padre Alberione faleceu no dia 26 de novembro de 1971, tendo já aquela que é conhecida como “fama de santidade” em vida. E podemos considerar também no momento da morte. Nesse sentido, causou impressão, de fato, que o Papa Paulo VI, não só tenha ido visitá-lo poucas horas antes do falecimento, mas tenha se ajoelhado ao lado do leito de morte.

Após 10 anos da morte, abriram-se dois Processos diocesanos em vista da Beatificação e Canonização: um em Alba, dia 19 de junho de 1982, que ouviu 91 testemunhas; outro em Roma, dia 24 de maio de 1983, que ouviu 34 testemunhas. Ambos foram concluídos em 1987. Toda a documentação foi levada para a Congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano, e submetida a rigoroso estudo em vista de elaborar uma “síntese”, chamada “Positio”, que se compõe de dois volumes de mais de mil e duzentas páginas. Este documento foi entregue a uma Comissão de dez teólogos que, após aprofundado estudo, deram voto positivo, tendo constatado que o Servo de Deus, Tiago Alberione, tinha vivido as virtudes cristãs de forma heroica. Todo esse trabalho permitia, enfim, à Igreja de declarar Pe. Alberione Venerável, em 25 de junho de 1996.

A maioria das testemunhas são da Família Paulina. Entre as que não são membros dela chama minha atenção o testemunho do Prof. Dr. Edoardo Borra que conheceu Padre Alberione desde 1920, muito nos inícios, portanto, das fundações.

Numa conferência a paulinos e paulinas ele contou o acontecido nos primeiros tempos em que Pe. Alberione e seus seminaristas tinham passado para a nova Casa, ainda em construção, na periferia de Alba. Entre julho e agosto de 1921, foi visitar o seminarista Xavier Boano, – que, aliás, em 1931 veio fundar a casa do Brasil. Conta que havia um atalho precário para se chegar à comunidade. Percorrendo esse trilho caiu numa poça d’água, molhando roupa. Padre Alberione o agasalhou e o levou para esperar na Capela até a calça enxugar.

Enquanto rezava constatou algo que constitui um precioso documento histórico para a espiritualidade paulina e que ele assim expôs, testemunhando para a causa: Padre Alberione “Inculcava confiança à base de duas frases evangélicas que havia escrito em dois cartazes, colocados sobre o altar da capelinha, convergindo para o Tabernáculo: “Não temais; “Eu estou convosco”. Uma piedade centrada sobre a Eucaristia e sobre a devoção à Nossa Senhora, tendo fixo o exemplo de apostolado de São Paulo”. As duas expressões, presentes sobre esse altar, testemunham que o “sonho”, ou graça de confirmação num momento de grave crise social, teve lugar já em 1921. Daí em diante Pe. Alberione quis que fossem escritas em todos os altares da Família Paulina: “Não temais, estou convosco. Daqui quero iluminar. Sintam a dor dos pecados”.

Dr. Borra conta que escolheu Padre Alberione para diretor espiritual e que sua direção “era prudente, discreta, simples e essencial”. Afirmou também que ele tinha como um dom de premonição. De fato, uma vez lhe contou que sonhava deixar o trabalho de médico em Turim, na Itália, e ir trabalhar em algum país pobre da Ásia ou da África. Padre Alberione o encorajou e disse de partir e que rezaria para que isso acontecesse. Pouco depois surgiu a ocasião de ir trabalhar na Etiópia. Ao comunicar a notícia ao Pe. Alberione ele o surpreendeu dizendo: “Vai sim para a Etiópia, mas depois você colaborará com a nossa Pia Sociedade de São Paulo”. Ao objetar de não acreditava que isso seria possível porque os paulinos não publicavam coisas especializadas em medicina, Pe. Alberione fez um sorriso. Conta que, de fato, muitos anos mais tarde, de volta para a Itália, passou a residir em Alba e se tornou um colaborador da comunidade paulina, não só como médico, mas publicando artigos nas revistas paulinas, tais como, Vida Pastoral e Família Cristã, e que se tornaram depois vários livros.

Percorrendo as páginas da Positio tem-se a impressão de estar diante de 125 testemunhas que vão tecendo, com sinceridade, verdade e admiração, um grande quadro da vida, da personalidade e das virtudes do Padre Alberione.

Causa impressão especialmente o minucioso trabalho dos dez Teólogos para constatar se efetivamente houve fama de santidade do Servo de Deus, durante a vida e após a morte; se viveu de forma heroica as virtudes cristãs da fé, esperança, caridade para com Deus e para com o próximo, a prudência, a justiça, a fortaleza, a temperança, a humildade, a obediência e a castidade.

Após a declaração da Venerabilidade, a Causa canônica prosseguiu rumo à Beatificação, graças ao reconhecimento de um milagre obtido por Maria Librada, membro do Instituto Nossa Senhora da Anunciação, da Família Paulina. O milagre aconteceu, num hospital, dia 19 de maio de 1989, em Guadalajara, no México. Foi uma cura instantânea graças à intercessão do Fundador.

Reconhecido o milagre, no dia 27 de abril de 2003, Segundo Domingo da Páscoa, o Papa João Paulo II procedeu à beatificação do Padre Tiago Alberione, juntamente com outros cinco Veneráveis. Na missa de beatificação o Papa assim declarou:

“O bem-aventurado Tiago Alberione intuiu a necessidade de tornar conhecido Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida “aos homens do nosso tempo com os meios do nosso tempo“ – como ela amava dizer -, e inspirou-se no apóstolo Paulo, que definia “teólogo e arquiteto da Igreja”, permanecendo sempre dócil e fiel ao Magistério do Sucessor de Pedro, “farol” de verdade num mundo frequentemente desprovido de firmes referências ideais. “Para usar estes meios haja um grupo de santos”, costumava repetir esse apóstolo dos tempos novos. Qual formidável herança deixa ele à sua Família religiosa! Possam seus filhos e suas filhas espirituais manter inalterado o espírito das origens, para corresponder de modo adequado às exigências da evangelização no mundo de hoje”.