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01/07/2022

A mística na cooperação vocacional

Por Pe. Antônio da Silva, ssp

A espiritualidade indispensável à animação vocacional é aquela  que nos leva a debruçar sobre os caídos da sociedade.

O bem-aventurado Tiago Alberione assim descrevia o caminho espiritual cristão: “A ascética e a mística são as duas partes da teologia que, mais que todas, e por parte de todos, devem ser conhecidas e aprofundadas para serem vividas. A ascética é a parte da ciência espiritual prática que guia a pessoa rumo à perfeição, desde os princípios mais elementares até a contemplação infusa. A mística, ao invés, é a ciência espiritual prática que, partindo da contemplação infusa, guia a pessoa ao matrimônio espiritual”, ou seja, até chegar “ao verdadeiro ‘Cristo vive em mim’” (Gl 2,20).

E ao relacionar a mística ao tema vocacional, é difícil não lembrar alguns pontos muito  significativos do Texto-Base da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) para o Ano Vocacional de 2003, que, citando João Paulo II e a Lumen Gentium, afirma: “O Batismo significa e realiza uma incorporação, mística, mas real, no corpo crucificado e glorioso de Jesus. Portanto, o Batismo é a fonte da comum dignidade dos cristãos e da legitimidade da diversidade das vocações e dos ministérios”.

A partir desse fundamento, o documento merece ser longamente citado quando trata da necessidade de “alimentar a mística”: “É urgente a necessidade de se intensificar a mística e a oração no âmbito do serviço de animação vocacional. Hoje, acredita-se, há uma grande busca do sagrado. A vocação é a proposta de Deus e a resposta humana sobre essas questões. Certamente não teria muito êxito uma animação vocacional que não levasse em consideração essa realidade do momento atual. Porém, o maior motivo para darmos mais atenção à mística e à oração é o fato de que elas “são fontes que redefinem a dimensão profética e sociotransformadora da pastoral vocacional. Isso significa que, se falta uma mística, alimentada pela oração, a animação vocacional corre o risco de caducar, de não responder aos desafios do momento presente. Mas é bom não esquecer, daqui por diante, que a mística proposta para a animação vocacional não é qualquer coisa. Não vale qualquer ‘sagrado’. A espiritualidade indispensável à animação vocacional é aquela que nos leva a debruçar sobre os caídos da sociedade. Portanto, uma mística que desperta a nossa sensibilidade e nos faz, como Jesus, ter ‘compaixão pelo povo excluído’. No que diz respeito à oração, ela é indispensável (cf. Mt 9,37-38), enquanto alimenta a mística e sustenta a caminhada de animadores e animadoras, dos vocacionados e vocacionadas” (nn. 84.141-143).

Temos assim o enfoque autêntico da mística vocacional: a despertada sensibilidade pela compaixão de Jesus pela humanidade a ser evangelizada e receber a libertação e a salvação. Bastaria pensar na compaixão de Jesus pelos duzentos milhões de brasileiros para se ter a urgência, a beleza e a grandeza daquilo que chamamos “cooperação vocacional”.

O documento citado dá o toque inicial da cooperação: a oração pelos animadores(as) e vocacionados(as). A partir da oração, que é o coração da espiritualidade ou da mística vocacional, basta que a cooperação prossiga assumindo as propostas da pastoral vocacional, que oferece uma crescente espiral de engajamento e atuação.

Mas quem é chamado(a) à cooperação vocacional?

Muito eficazmente o padre Alberione responde numa Oração ecumênica a Maria, Rainha dos Apóstolos: “Por vós: todos os católicos, com todas as energias, por todas as vocações, para todos os apostolados. Por vós: todos os que creem para todos os que não creem, todos os comprometidos para todos os indiferentes, todos os católicos para todos os não católicos. Por vós: todos os chamados correspondam, todos os apóstolos sejam santos, e que todos os homens os acolham”.