Blog

13/08/2020

Dulce dos pobres: Evangelho vivo no mundo

Por Felipe Borges, Seminarista Paulino

“Sempre que puder, fale de amor e com amor para alguém. Faz bem aos ouvidos de quem ouve e à alma de quem fala”. Santa Dulce dos pobres

 

Dulce dos pobres, a primeira santa do Brasil, canonizada pelo Papa Francisco em outubro do ano passado, foi uma mulher que fez da mística – na pessoa dos marginalizados – ponte com Deus. Como religiosa, rezava e participava da missa todos os dias. Rezava como devoção privada cotidianamente a Via-Crucis, e a vivenciava no cuidado aos mais pobres da periferia de Salvador. Os crucificados daquela hora: doentes, desempregados, crianças de rua, prostitutas, sem teto e tantas realidades cruciais que bradavam aos céus.  Toda sua vida foi uma constante entrega a Deus na pessoa dos pobres e marginalizados. Em certa ocasião ela chegou a afirmar:

“Muitas pessoas afirmam que faço mal em proteger e defender os pobres… desamparados irmãos pobres. Só quem convive diariamente com eles pode avaliar o quanto sofrem, o quanto necessitam da Palavra de Deus, de uma mão amiga que se estenda em direção às deles. Muitos de vocês me criticam, dizendo que eu faço mal, que eu mimo os pobres. Quem de nós que se encontrasse naquela mesma situação não gostaria de receber de tudo? Eu ao contrário lhes digo: Ajudem-me! Deem-me a possibilidade de ajudar esses pobres irmãos a saírem dos barracos cobertos de papelão ou latas velhas, famintos, desempregados, doentes; seus filhos, suas mulheres também têm fome. Eles hoje estão morrendo e não sabemos se estarão vivos amanhã, quando conseguiremos aquilo que é sem dúvida alguma, um sacrossanto objetivo.”

Vejamos 13 marcos fundamentais sobre sua vida (cf. site-revista “Salvador Bahia”):

  1. Homenagem à sua mãe

Nascida em Salvador, Bahia, no dia 26 de maio de 1914, foi batizada com o nome de Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Mais tarde, em 1933, a jovem ingressa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão (Sergipe). No mesmo ano, recebe o hábito e adota o nome de Irmã Dulce em homenagem à sua mãe, Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, que morrera com apenas 26 anos de idade, em 1921, quando Irmã Dulce tinha sete anos.

  1. Na infância, o que ela curtia mesmo era jogar futebol

Nascida no Barbalho, na freguesia de Santo Antônio Além do Carmo, a menina Maria Rita foi uma criança cheia de alegria, adorava brincar de boneca, empinar pipa, mas o que ela gostava mesmo era de jogar futebol. Era torcedora do Esporte Clube Ypiranga.

  1. A portaria de São Francisco

Dulce passou a manifestar interesse pela vida religiosa no início da adolescência quando, em 1927, aos 13 anos de idade, já atendia a doentes no portão de casa. É nessa época que sua casa fica conhecida como “A portaria de São Francisco”, tal a aglomeração de desassistidos.

  1. O número 13

Existe uma relação muito forte na vida de Santa Dulce dos Pobres com o número 13:

  1. O maior hospital da Bahia a partir de um simples galinheiro

Em 1939, Irmã Dulce invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, em uma comunidade pobre de alagados, conjunto de palafitas que se consolidou na parte interna do bairro de Itapagipe, para abrigar doentes que recolhia nas ruas de Salvador. Expulsa do lugar, ela peregrina durante uma década, levando os seus doentes por vários locais da cidade.

Por fim, em 1949, Irmã Dulce ocupa um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, após autorização da sua superiora, com os primeiros 70 doentes. A iniciativa deu origem à famosa história propagada, há décadas, pelo povo baiano, de que a freira construiu o maior hospital da Bahia a partir de um simples galinheiro. Já em 1959, é instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce e, no ano seguinte, é inaugurado o Albergue Santo Antônio.

Com acesso pelo Memorial, o local onde foi o galinheiro pode ser visitado até hoje.

  1. A visita de João Paulo II

Na primeira visita ao país do Papa, hoje são João Paulo II, no dia 7 de julho de 1980, Irmã Dulce foi incentivada por ele a prosseguir com a sua obra. Eles voltariam a se encontrar em 20 de outubro de 1991, na segunda visita do Sumo Pontífice ao Brasil.

João Paulo II fez questão de quebrar o rigor da sua agenda e foi ao Convento Santo Antônio, em Salvador, visitar a religiosa baiana, cuja saúde já se encontrava bastante debilitada em função de problemas respiratórios. Cinco meses depois da visita do Papa, os baianos chorariam a morte do “Anjo Bom da Bahia”.

  1. Os milagres de Irmã Dulce

O processo de Beatificação e Canonização foi iniciado em janeiro de 2000. A fama de santidade foi reconhecida em 2009, quando o Papa Bento XVI reconheceu as virtudes heroicas da Serva de Deus, Dulce Lopes Pontes. Em 22 de maio de 2011, a religiosa foi proclamada Bem-aventurada Dulce dos Pobres. Para receber o título de santa, foi necessária a confirmação de dois milagres, um atestado para o processo de beatificação e outro para a canonização.

O primeiro milagre

O primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce ocorreu na cidade de Itabaiana, em Sergipe, quando, após dar à luz seu segundo filho, Gabriel, em 11 de janeiro de 2001, Cláudia Cristina dos Santos sofreu uma forte hemorragia, durante 18 horas, tendo sido submetida a três cirurgias na Maternidade São José.

Diante da gravidade do quadro, o obstetra Antônio Cardoso avisou à família de Cláudia que apenas “uma ajuda divina” poderia salvar sua vida. Em desespero, a família da moça chamou o padre José Almí para ministrar a unção dos enfermos. O padre, no entanto, decidiu fazer uma corrente de oração pedindo a intercessão de Irmã Dulce e deu a Cláudia uma pequena relíquia da Bem-Aventurada.

A hemorragia cessou subitamente. O caso de Cláudia foi analisado por dez peritos médicos brasileiros e seis italianos. Segundo o médico Sandro Barral, um dos integrantes da comissão científica que analisou o milagre, “ninguém conseguiu explicar o porquê daquela melhora, de forma tão rápida, numa condição tão adversa”.

O milagre passou por três etapas de avaliação: uma reunião com peritos médicos (que deram o aval científico), com teólogos, e, finalmente, a aprovação final do colégio cardinalício, tendo sua autenticidade reconhecida de forma unânime em todos os estágios.

O segundo milagre

Natural de Salvador, Maurício, aos 22 anos, teve o diagnóstico de um glaucoma muito sério, descoberto tardiamente e já em estado avançado. O tratamento, que durou dez anos, não foi suficiente para impedir que o nervo óptico – responsável pela comunicação com o cérebro – fosse destruído. Desse modo, na virada do ano de 1999 para 2000, ele ficou totalmente cego de ambos os olhos e assim permaneceu por mais de 14 anos.

Em 2014, já morando em Recife, Maurício teve uma conjuntivite muito grave e, sofrendo com fortes dores, pegou a imagem de Irmã Dulce que pertencera a sua mãe, colocou-a sobre os olhos e, com muita fé, fez uma oração pedindo a intercessão do Anjo Bom para que aliviasse as dores da conjuntivite.

“Ao acordar, comecei a ver a minha mão. Entendi que Irmã Dulce tinha operado um milagre. Ela me deu muito mais do que eu pedi: eu voltei a enxergar”, lembra Maurício.

O segundo milagre validado pelo Vaticano passou pelas mesmas etapas do primeiro, tendo sua autenticidade igualmente reconhecida de forma unânime em todos os estágios.

  1. Três igrejas emblemáticas

Em Salvador, existem três igrejas emblemáticas que os devotos de Santa Dulce dos Pobres vão se emocionar muito ao conhecer. A Igreja de Nossa Senhora dos Alagados fica bem próxima à Ilha dos Ratos, local onde tudo começou, em 1939. Lá é o único lugar onde se podem encontrar relicários de primeiro grau de 3 santos: do Papa João Paulo II, Madre Teresa de Calcutá e Irmã Dulce. A segunda é a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, onde aconteceu o velório de Irmã Dulce e primeiro local onde seu corpo foi enterrado, antes de ficar em definitivo no Santuário Irmã Dulce. A terceira é o próprio Santuário que fica ao lado também do Memorial — peregrinação imperdível para quem quer conhecer a fundo a história desta religiosa.

  1. Citações, pensamentos e um programa de rádio

Suas citações e pensamentos tornaram-se famosos. Sempre há quem lembre de uma frase dela. Outra informação interessante é que reflexões inspiradas nas lições de vida do Anjo Bom da Bahia são a base para o programa de rádio ‘Irmã Dulce Hoje’, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 15h40 às 15h50, pela Rede Excelsior (FM 106.1 e AM 840).

“Sempre que puder, fale de amor e com amor para alguém. Faz bem aos ouvidos de quem ouve e à alma de quem fala”.

  1. Dulce é a primeira santa nascida no Brasil

Existem vários santos brasileiros que abrangem não apenas os nascidos em território nacional, mas também os estrangeiros que, enviados em missão, morreram a caminho ou em território que geograficamente pertence ao Brasil. Ao serem canonizadas pela Igreja Católica Apostólica Romana, foram considerados também Santos do Brasil.

Esse é o caso, por exemplo, de Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, o Frei Galvão, conhecido pelas pílulas milagrosas que, segundo a fé católica, têm poder de cura. Ele foi o primeiro santo nascido no Brasil a ser canonizado, em 11 de maio de 2007, pelo então Papa Bento XVI. Frei Galvão nasceu em 1739, em Guaratinguetá, no interior de São Paulo.

Já a Madre Paulina, que morava em Santa Catarina, também foi canonizada e ficou conhecida como a primeira santa do Brasil. No entanto, Madre Paulina nasceu na Itália e só veio morar no Brasil com a família aos 10 anos. Com isso, Irmã Dulce é considerada a primeira santa nascida no Brasil.

  1. Mas como uma graça é considerada milagre?

Uma graça só é considerada milagre após atender a quatro pontos básicos: a instantaneidade, que assegura que a graça foi alcançada logo após o apelo; a perfeição, que garante o atendimento completo do pedido; a durabilidade e permanência do benefício e seu caráter preternatural (não explicado pela ciência).

O processo de Canonização de Irmã Dulce é o terceiro mais rápido da história (27 anos após seu falecimento), atrás apenas da canonização do Papa João Paulo II (9 anos após sua morte) e de Madre Teresa de Calcutá (19 anos após o falecimento da religiosa).

  1. Os milagres acontecem todos os dias nas Obras Sociais de Irmã Dulce

Tudo o que se vê nas Obras Sociais de Irmã Dulce já são milagres em si. Também conhecida como Complexo Roma, a sede das Obras em Salvador abriga, em seus mais de 40 mil metros quadrados de área construída, 20 dos 21 núcleos da entidade, incluindo 954 leitos hospitalares para o atendimento de patologias clínicas e cirúrgicas.

Ainda na capital baiana, na sede das Obras Sociais, local que atende diariamente cerca de 2 mil pessoas, são realizadas por ano 12 mil cirurgias, além de 18 mil internamentos.

  1. Datas importantes

No dia 13 de outubro de 2019, aconteceu a cerimônia de Canonização presidida pelo Papa Francisco, no Vaticano, às 10h (horário local).

A missa em honra da santa foi realizada no dia 14 de outubro, às 10h, na Igreja de Santo Antônio dos Portugueses, uma edificação do século XVII, em Roma, em agradecimento pelo dom de Irmã Dulce.

A celebração no Brasil, em Salvador – presidida pelo hoje arcebispo emérito D. Murilo Krieger –, ocorreu no dia 20 de outubro, às 16h, e reuniu devotos e admiradores da religiosa, na Arena Fonte Nova.

Santa Dulce dos pobres, Rogai por nós!

*Conheça as OBRAS SOCIAIS IRMÃ DULCE: https://www.irmadulce.org.br/portugues/institucional

, , , , , ,