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14/10/2020

Igreja em saída em tempos de Pandemia

Por Irmã Maria Sueli Berlanga, Pastorinha

As atitudes do Papa Francisco indicam uma das características claras do pontificado de Bergoglio: uma “Igreja em saída”. Um termo que ele mesmo gosta de repetir ao falar da missionariedade em nossos tempos. Ir aos que se encontram nas periferias geográficas e existenciais,
“Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que, muitas vezes, disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada, por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos”.
Francisco ensina também, que a misericórdia leva, antes de tudo, aos pobres, eles que são considerados os últimos na sociedade de consumo, tornam-se os primeiros alvos da Igreja em saída. Ele alerta que “enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira, e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema nenhum”.
A pandemia do COVID-19 expôs ainda mais uma realidade triste brasileira: as desigualdades sociais. Grande vítima tem sido os jovens, que tiveram as aulas presenciais suspensas e o conteúdo passou a ser oferecidos pela internet. Só que às famílias de baixa renda não foi oferecido condições para que seus filhos pudessem ter as mesmas condições de estudos que os da classe média e alta.
Imaginem então, os alunos que estudam em escola rurais e onde moram o sinal de internet cai toda hora e o único aparelho para o acesso ao conteúdo é o celular.
O Papa reconhece a necessidade de unir esforços para formar pessoas maduras e com responsabilidade na construção do bem comum. Inspira-se no provérbio da sabedoria africana, que afirma que “para educar uma criança é necessária uma aldeia inteira”.
Paulo Freire afirmava que “a estrutura social é obra dos homens e que, se assim for, a sua transformação será também obra dos homens”.
Por isso neste período de pandemia que fomos conclamadas para ficar em isolamento social, investimos na juventude rural do nosso entorno, buscando meios para que eles mesmos sejam protagonistas de mudanças de sua própria realidade. O melhor jeito é a educação. Procuramos criar o curso de pré vestibular online para que possam se preparar para o vestibular e concorrer com bolsas de estudos.O primeiro passo foi entrar em contato com a EDUCAFRO (quem quiser conhecer: www.educafro.org.br) em busca de parceria.
Hoje estamos com 43 alunos, a maioria quilombolas, se preparando para no fim do ano prestar vestibular. Contamos com um grupo de 09 professores que monitoram os alunos. Cada professor tem 04 ou 05 alunos para acompanhar e ajudar no que eles precisam. Os alunos têm muitas dificuldades com o sinal da internet. Muitos só têm o celular para baixar as matérias. Vão concorrer com as bolsas.
Está encaminhado a formação de mais 02 núcleos: um na cidade de ADRIANÓPOLIS e outro na cidade de APIAÍ (SP).

O ingresso da Juventude Negra na Universidade ainda é um grande desafio. Nós, Irmãs Pastorinhas da Comunidade do Bairro Porto Novo nos colocamos a serviço dessa obra gigantesca de proporcionar que os jovens quilombolas ocupem suas vagas nas universidades.
Esse foi o nosso jeito de ser Igreja em saída em época de pandemia. Viabilizar educação para uma população que tem enfrentado muitas dificuldades sociais, econômicas, preconceitos e racismos.

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