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15/07/2020

Como sei que Deus me chama?

Por Ir. Francesca Carotenuto, Ap*

 

Apesar do que parece, esta pergunta é bem simples. Deus te chama, com certeza!

A vida é para todos nós, sem exceção, chamado de Deus, um chamado que se renova a cada dia e envolve cada aspecto da nossa pessoa. Um chamado que significa que somos em relação com Deus que nos criou e que continua a sua obra criadora a cada momento. Um chamado que se manifesta através de várias possibilidades, nenhuma melhor ou mais fácil do que as outras, todas, porém que se referem ao amor. Todas as vocações são “formas” de responder ao Amor de Deus e de oferecê-lo às pessoas que nos rodeiam e que encontramos ao longo do caminho.

Talvez você faça esta pergunta porque sente uma inclinação pela vida consagrada ou pelo sacerdócio, e frente esta possibilidade, por assim dizer “diferente”, surgem dúvidas e inseguranças. Surge a urgência de ter certeza que este fascínio não seja somente “algo da sua cabeça”. Surge a exigência que Deus assuma a sua responsabilidade em tudo isso.

De fato, o matrimônio também é um chamado de Deus. Através do encontro com uma pessoa, ele desperta o desejo de construir a vida juntos, de criar um compromisso estável que se torna espaço de partilha, de cuidado recíproco e de amadurecimento e por isto não prende, mas deslancha rumo a um projeto comum. Então também para a vocação ao matrimônio é importante se perguntar: “Como sei que Deus me chama mesmo para isso?”. É importante sentir aquela urgência que Deus assuma a sua responsabilidade para com o seu relacionamento e a sua aspiração a formar uma família.

A questão então se torna: “Para que Deus me chama?”. Jesus no evangelho diz: “Eu vim para que todos tenham vida” (João 10,10). A nossa vocação é a vida: não somente aquela biológica, mas sobretudo aquela vida que é alegria, liberdade, respeito, amizade, dignidade, paz, responsabilidade, igualdade… Neste sentido nós participamos da mesma vocação de Jesus: estamos no mundo para gerar vida, mais vida, em nós e ao nosso redor. Somos chamados a dar o nosso aporte para o bem comum a partir da nossa sensibilidade e das habilidades que recebemos (cf ChV 253). Então, posso me perguntar: “Que quer dizer para mim gerar vida ao meu redor?”. Ou, em sintonia com a sugestão do Papa: “Para quem eu sou?” (cf ChV 286), em outras palavras “Para quem eu me sinto impelida/o, a oferecer a minha vida?.

Quando nos deparamos com perguntas importantes como estas, gostaríamos de ter logo a resposta, e ainda mais que alguém de fora nos desse uma resposta, ela só se encontra no esforço de olhar para dentro, para procurá-la em nós mesmos, com tempo e calma, em um diálogo sincero com Deus.

De toda forma! Se você tiver paciência, podemos tentar esclarecer alguns pontos…

Como já disse, a maior certeza é que Deus nos ama, e nos ama primeiro. É Ele que nos doa a vida biológica e, por meio do sacramento do Batismo, a sua mesma vida divina: “O Amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

Por isso, todos sentimos intensamente o desejo de amar e ser amados. De viver um relacionamento que nos faça sentir únicos e importantes, queridos, que “cuide” da nossa solidão e ajude a sair ao encontro do outro e, já que somos seres sexuados, que seja apaixonado e envolvente. Que nos proporcione a incrível experiência da maternidade/paternidade, com tudo aquilo que significa e abrange.

Se você pensa que todos estes ingredientes não podem faltar na sua vida, talvez Deus chame mesmo para o matrimônio e a família. E esta vocação vai se tornar concreta, real dentro de uma união que tenha como alicerces (além do amor) o respeito, a liberdade, a responsabilidade, a ternura, o perdão…

Às vezes, porém, esta vocação natural é a base em que ressoa, para algumas pessoas, o chamado a viver o amor em uma forma diferente: consagrada a Deus e aos irmãos e irmãs. Como discernir se este interesse para uma consagração é algo autêntico que combina com você e os seus desejos?

Uma primeira indicação é o encanto por Deus. Às vezes uma celebração ou uma experiência de oração, ou também a contemplação da natureza, ou uma palavra, um gesto de amor recebido, podem despertar um sentimento tão vivo da presença de Deus, da sua ternura e misericórdia, tão vivo que não dá para esquecer. E este sentimento se fixa no coração e acaba tomando conta de pensamentos, ações; acaba nos orientando, nos chamando mesmo a fazer algo.

Uma segunda indicação é a exclusividade! Para algumas pessoas o encanto por Deus faz que o desejo natural de amar e ser amado si torne anseio de colocar Deus em primeiro lugar, no centro! Consagrar a Ele (e só a Ele!) a própria capacidade/vontade de amar.

Esse aspecto nos conduz a uma terceira indicação: o serviço. O desejo de ser para Deus é autêntico quando vem junto com o desejo de ser para os outros. E, mesmo que o ser missionário para um cristão nunca possa ser um apêndice, porque todos “somos uma missão neste mundo”, (cf EG 273) a vocação ao sacerdócio e à vida consagrada permitem dedicar todas as forças (ou a maioria delas!) para o serviço aos outros. É importante então saber qual/quanto espaço queremos deixar aos demais na nossa vida. E qual fragilidade nos interpela mais (os doentes, os idosos, os jovens, etc…).

Estas indicações são certamente insuficientes, mas gostaria que despertassem a certeza que Deus se importa com você e a vontade de identificar em qual rosto você pode, especialmente, encontrá-Lo e amá-Lo. Se for no matrimônio: especialmente no rosto da pessoa amada e dos filhos. Se for numa vocação de consagração especial, no rosto da comunidade e dos mais pobres. De qualquer forma a sua vida vai ser feliz (e fonte de felicidade) se habitada a cada dia pela amizade com Jesus. Seguindo os seus passos irá experimentar aquela plenitude que Ele promete.

*Irmã Francesca Carotenuto é membro da Família Paulina do Instituto Rainha dos Apóstolos para as vocações. Contato: [email protected]

 

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