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08/09/2022

Conheça o testemunho vocacional do noviço Ednoel Amorim

Por Ednoel Amorim, Noviço Paulino

Sou Ednoel Ribeiro de Amorim, nasci em Piripiri e fui criado na cidade vizinha de Piracuruca, ambas no estado do Piauí, nordeste do Brasil. Sou filho de Edna Maria e Manoel Luiz. Minha história vocacional começa em casa, foi ali o chamado que Deus me fez a estar feliz em sua casa, na Igreja. Meus pais sempre muito católicos desde cedo ajudaram-me a perceber que a santa missa, o terço rezado em família, as novenas, a piedade popular de um modo geral são valores riquíssimos nos quais encontramos a presença de Deus e com os quais podemos fazer uma experiência com Ele. Essas são coisas simples da vida cotidiana que com o passar dos anos pude encontrar sistematizado nos documentos da Igreja como, por exemplo, no Documento de Aparecida de 2007.

Fui seminarista diocesano em Parnaíba, sede da diocese a qual pertence minha paróquia de origem, mudei de diocese por achar que o jardim do vizinho é mais florido, conheci outros estilos de vida religiosa em um momento específico da caminhada, conheci também outras facetas da vida eclesiástica que é melhor deixar esvair-se no tempo. Parafraseando Rubem Alves, cheguei até aqui, sou o que sou, porque todos os meus planos deram errado.

À primeira vista, isso pode parecer uma visão negativa do presente, porém, o que gostaria de transmitir é que quando fazemos nossas escolhas sem pensar, sem o mínimo de mística, oração… corremos o risco de errar e de fato quase sempre erramos. Deus, porém, tem um plano de amor para cada um de nós e sempre permanece fiel, ainda que nós caiamos, erremos, nos desviemos, Ele sempre nos ajuda a perceber, aprender e viver segundo a sua vontade. Ele nos mostra com simplicidade, nas pequenas coisas do dia a dia, que não podemos viver segundo a nossa vontade, mas, sim, de acordo com os seus desígnios. Não somos marionetes nas mãos do criador, somos pessoas livres, mas que se deixam guiar pelo Espírito para o bem de si e o bem dos demais. Não somos feitos para nós mesmos, cada um em seu modo de vida é chamado a doar-se, os modos são diferentes, mas a intensidade deve ser sempre a mesma.

Deus nos chama todos os dias para renovar a sua criação, por meio da colaboração de cada um de nós. O primeiro chamado que me recordo aconteceu na presença da Cruz do Senhor, sinal do seu sofrimento, da sua paixão, da sua doação. Ela era o sinal de tudo aquilo que eu deveria passar durante o meu processo vocacional. A Cruz do Senhor jamais me abandonou. Eu deveria ter mais ou menos uns 8 anos, já não recordo bem. Minha família e algumas pessoas da comunidade estavam reunidas para preparar uma estação da via-sacra para a Semana Santa daquele ano. Uma das senhoras ali presentes disse: “Esse menino poderia ser padre!” Eu, prontamente, respondi: Sim! Não sabia que junto com o “sim” vinha a cruz, porém, hoje compreendo muito bem. O sinal da salvação, o sinal de purificação está presente em toda a minha caminhada vocacional e como no calvário sei que Maria, assim como esteve ao lado de Jesus o amparando, creio que Ela continua me abençoando e me guiando rumo ao seu Filho Jesus, apesar das minhas debilidades e dos ventos contrários. É como se todos os dias eu ouvisse uma síntese bem particular do Novo Testamento: Não tenha medo, aqui nesse lugar de dor e humilhação, eu venci o mundo. Você também vencerá, pois quando somos fracos é então que somos fortes. Permaneça no meu amor, quem ama encontrará a Vida (cf. Jo 3,16; Jo 16,33; 2Cor 12,10; 1Jo 2,3-11; Mt 10,39).

Os anos como seminarista diocesano, depois religioso e depois como “leigo normal” representam uma grande preparação para o que sou, não para o que vou ser. Muitas pessoas me perguntam: “Quando será sua ordenação?” É aquela velha pergunta incômoda, angustiante e utilitarista, pois me parece que estamos sempre olhando para o futuro e desconsiderando o presente, como se nós fôssemos incapazes de fazer o bem hoje, seremos alguém somente se formos padres, isso ou aquilo, com cargos, títulos e toda essa parafernália.

Eu sou Ednoel Ribeiro de Amorim, professor, escritor, carpinteiro, artista, produtor, editor, motorista, educador, catequista, filho, tio, técnico, estudante, líder, comprometido, coordenador, noviço, sonhador, analista, estudante, amigo, irmão, cozinheiro, jardineiro, cuidador, assistente, secretário… Posso continuar com as qualidades e atributos por mais algumas páginas, se colocar os defeitos aí podemos fazer até um livro. Enfim, não interessa o dia da minha ordenação, interessa se estou bem, se sou feliz, se faço o bem, isso basta. Não aceito ser reduzido a um destino apenas, aquilo que supostamente serei. Se for da vontade de Deus serei padre um dia, mas nesse dia não passarei por uma sessão mágica, que me capacitará a ser alguma coisa. Sou hoje, carrego a minha história e nada pode anular tudo aquilo que aprendi com os anos. Hoje, nos Padres e Irmãos Paulinos, que conheci em 2017 através da Liturgia Diária, quero me preparar para fazer cada vez melhor, aquilo de bom que já faço hoje, pelas pessoas do nosso tempo e por aqueles que o Senhor colocou e colocará na minha vida.

Alguns podem até pensar: “Discurso de derrotado, quer minimizar os erros do passado.” Eu digo: Minhas são apenas simples palavras de alguém que está conhecendo o carisma da comunicação e que confia nas palavras do Evangelho: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la.” (Mt 10,38-39).

Se você que está lendo essas linhas é um jovem ou mesmo que não seja tão jovem assim, porém deseja conhecer-nos um pouco mais, não tenha medo! Não somos religiosos para realizarmos uma corrida e chegar a um objetivo pontual, somos religiosos que vivendo em comunidade oferecemos, por meio do nosso trabalho apostólico, Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida às pessoas de hoje, utilizando os meios de comunicação atuais, para isso precisamos estudar muito, pois em sacos vazios não se encontram sementes. E ainda, de modo muito particular, devemos nutrir uma vida de oração cotidiana. Se você quer ser Paulino, abra o seu coração à boa notícia que São Paulo anunciou, não corremos para ganharmos títulos, corremos para sermos homens verdadeiramente de Deus e fazermos bem todas as coisas.

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