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15/03/2021

Relembranças 3: Padre Tiago Giraudo

Por Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp

Padre Tiago Giraudo ao centro da foto

Italiano, nascido a 2 de agosto de 1920, veio integrar-se à Província dos Paulinos no Brasil, em 1963, tendo já 19 anos de ministério presbiteral. Padre Tiago era um misto de humildade, timidez e introspecção, que por vezes lhe deixava o semblante um tanto carregado. Sua privilegiada inteligência manifestava-se mediante seu raciocínio veloz e imediata compreensão dos problemas. Lembro-me de uma assembleia que congregou uns quarenta Paulinos. Padre Tiago ali presente. Parecia alheio aos debates dos coirmãos. Puro engano. Os participantes sugeriam, discutiam, argumentavam e, quando estavam prestes a concluir o assunto, eis que Padre Tiago ergueu o dedo. Um sonoro e abafado “oh!” ecoou por toda a sala. Ele então tomou a palavra e salientou fatos, rebateu afirmações, contestou argumentos, enfim ponderou os prós e os contras e, polidamente, desmantelou a “construção” edificada com calor e aplicação. Devolveu os interlocutores quase à estaca zero.

Padre Giraudo era, acima de tudo, um sábio, ainda que esse inestimável dom passasse meio despercebido por conta de sua natural discrição. Por conseguinte, longe dele assumir atitudes extravagantes, risadas ruidosas ou piadas impróprias. Entretanto, no momento oportuno lançava mão de algum gracejo. Certa vez, eu estava concelebrando com ele, que presidia uma missa de “vestição” religiosa das Irmãs Paulinas. Tudo muito solene. Uma quinzena de formosas moças, vestes brancas e longas, aspirantes à vida religiosa, caminhavam pelo corredor central, a passos lentos e calculados, em direção ao altar, apoiando nos braços estendidos o novo hábito preto. Pe. Tiago, meio impaciente, mas senhoril, diante daquela cena, deixou escapar, em voz baixa: “O que elas não têm é pressa!”.

Bom lembrar aqui que Padre Tiago exerceu, entre os Paulinos, cargos importantes: superior local na “Cidade Paulina” e na comunidade da Vila Mariana; provincial da nossa província brasileira; vigário geral, em Roma, de 1980 a 1986. Terminada sua função no governo geral, passou alguns anos em Portugal e, em 1993, regressou ao Brasil, onde aplicou suas forças a serviço do departamento editorial.

Padre Tiago Giraudo faleceu no dia 11 de março de 2003, no Hospital Santa Paula, na capital paulista. Deixou amigos, bons exemplos e saudades. Senti-me confortado com o testemunho de algumas funcionárias nossas, após a morte dele: “Padre Tiago sempre tirava um tempinho para vir conversar conosco, no intervalo do almoço”. Admirável. Um intelectual, tendo ocupado ofícios de grande responsabilidade, era também capaz de reservar preciosa migalha de seu tempo para as senhoras que cuidavam da limpeza e da nossa alimentação. Aquelas mulheres gravaram e guardaram no coração esse gesto de simplicidade e benevolência. Misterioso é o coração humano.

 

*Série comemorativa aos 90 anos dos Paulinos no Brasil