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15/04/2021

RELEMBRANÇAS – 4: Pe. Lucas Caravina

Por Por Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp

Pe. Lucas Caravina à esquerda do Pe. Renato Perino, então superior geral.

Ângelo – este era seu nome de batismo – nasceu a 20 de março de 1925, em Presidente Prudente – a 560 km da capital paulista – e, aos treze anos, ingressou no Seminário Paulino, em São Paulo. Era alto um metro e noventa, ou mais. Inteligente, esperto, conversador. Dono de uma voz aguda e rouca, a qual, no entanto, não o impediu de fazer sucesso com sua mensagem religiosa diária – “Palavra Amiga do Padre Lucas” – nas 4 emissoras de rádio, na ocasião pertencentes aos Paulinos (Rádio América, em São Paulo; Rádio Carioca, no Rio de Janeiro; Rádio Olinda, em Olinda/PE e Rádio Cultura da Bahia, em Salvador). Ficou por demais conhecido e conquistou tão grande número de fãs, que certa vez pela cadeia de rádios avisou que iria comparecer na Loja PAULUS de Recife. Se alguém quisesse comprar o seu livro – “Rezando com Padre Lucas” – ou ganhar uma bênção, que se fizesse presente. Acredite: no dia e hora marcados, houve superlotação no espaço da livraria e ainda sobrou gente para formar imensa fila ao longo da calçada.

De raciocínio rápido, com resultados surpreendentes. Uma vez, quando eu estudava teologia em Roma, Padre Lucas apareceu por lá me convidando para visitar Monte Cassino, onde São Bento consolidou a Ordem dos beneditinos. Pois bem, vamos logo ao fato. Ao sairmos de uma majestosa igreja, uma mendiga se aproximou do Padre Lucas e pediu: “Uma ajuda, por favor”. Padre Lucas puxou do bolso uma moeda de 100 liras e a colocou na mão da mulher. Na época, aquela quantia dava direito a uma viagem em transporte público. A senhora então olhou com ar de desprezo para a moedinha e disparou: “O que é que eu faço com 100 liras?” Com a velocidade de um raio, Padre Lucas arrebatou da mão da pedinte a polêmica moeda, afirmando: “Dá cá; eu sei o que faço com 100 liras”!

Por muitos anos, Pe. Caravina residiu na comunidade dos Paulinos no Rio de Janeiro, de onde, por vezes tomava o avião e ia desenvolver alguma tarefa em São Paulo. Durante a viagem, com caneta escrevia artigos para o folheto litúrgico O Domingo; naturalmente a letra não saía um primor! E, na Cidade Paulina, aproveitava para pregar o retiro espiritual mensal ao grupo dos aspirantes, do qual eu fazia parte. E, ao propor a reflexão, geralmente discorria sobre os novíssimos (morte, juízo, inferno e paraíso), temas apreciados pelos pregadores, antes do concílio Vaticano II.

Animado, divertido, intenso para prosear e para rezar. E, sem dúvida, um apaixonado pela missão paulina, um zeloso apóstolo da comunicação do Evangelho. A ele poder-se-ia aplicar o que São Saulo escrevia de si mesmo: “Tudo isso eu faço por causa do Evangelho” (1 Cor 9, 23). Nos últimos anos, Padre Lucas precisou de uma companheira, a bengala, cujo sinal – toc, toc, toc – chegava antes que ele despontasse.

Estava na comunidade do Rio de Janeiro, quando a morte o colheu repentinamente, no dia de Natal de 1998. Tinha 73 anos.