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15/06/2021

RELEMBRANÇAS – 6: Frei João da Cruz

Por Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp


Frei João, irmão religioso, familiarmente chamado de “Joãozinho”, nasceu no dia 10 de dezembro de 1922, em Nuporanga, município do estado de São Paulo, que faz parte da região metropolitana de Ribeirão Preto.
Era homem alegre e vivia em comunhão com Deus. Rezava diariamente nos momentos previstos pelo programa da comunidade, e mais. Costumava recitar o rosário durante as viagens. Pacífico nos relacionamentos interpessoais, incapaz de fazer mal a uma mosca, era benquisto por todos. Reconciliado consigo mesmo, convivia de modo harmonioso com sua acentuada deficiência visual. A esse respeito, não faltam episódios comprovantes, por vezes engraçados ou preocupantes. Reconciliado também com a natureza, nunca se revoltava contra os elementos naturais, que não raro se transformavam para ele em cruel obstáculo.
Lembro-me que, certa vez, após o jantar na comunidade da Cidade Paulina, alguns Paulinos estávamos papeando na chamada “praça da alegria” à entrada do refeitório, e Frei João entre nós. Era escuro. Em dado momento, ele se levantou para dirigir-se a outra casa, onde estava seu quarto. Por um leve desvio do rumo certo, Joãozinho tropeçou e tombou em cima de um vaso de flores espinhentas. Naturalmente os espinhos penetraram-lhe a carne. Ele se limitou a emitir um doloroso gemido, ergueu-se e prosseguiu seu caminho.
A falta de visão o prejudicou desde jovem. Ele próprio me contou que, muitos anos antes, ele havia saído em missão. Carregava uma enorme mala com bíblias e outros livros da PAULUS Editora, para divulgá-los de cidade em cidade. Pois bem, ele pernoitara em Lages, Santa Catarina, no Convento Franciscano. E bem cedo, ainda escuro, ajuntou seus pertences e saiu a pé rumo à rodoviária. Houve um contratempo. De repente ele se viu dentro de um bueiro (imagine um buraco bem fundo). Sem condições para sair com suas próprias forças, passou a gritar por socorro, que veio logo em seguida graças a um senhor que por ali passava. Libertado do imprevisto “cárcere”, sacudiu a poeira, agradeceu ao propício “cireneu” e continuou sua missão.
Por muitos anos, Frei João exerceu seu apostolado paulino nas Livrarias PAULUS, em Caxias do Sul e no Rio de Janeiro. Era procurado não só para orientar sobre boas leituras, mas também para outros gêneros de conselhos. Sua harmonia com o mundo não fazia dele um homem passivo ou sem iniciativas. Era determinado: mesmo com dificuldade para enxergar, viajava normalmente sozinho. Foi nessa condição que esteve visitando a Terra Santa. Ou por vezes um pouco teimoso (característica de alguns santos inscritos no calendário oficial da Igreja), mas certamente um homem de Deus.
Vitimado por agressivo câncer, encerrou seus dias em 6 de fevereiro de 2011. Conforme ditado popular, morreu como um passarinho! Sem fazer barulho.