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17/09/2021

RELEMBRANÇAS 9:  Padre Francisco Testi*

Por Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp

*Série comemorativa de artigos pelos 90 anos dos Paulinos no Brasil

Pe. Testi ao lado do então Cardeal Agnelo Rossi

Padre Francisco – normalmente chamado apenas por Pe. Testi –, nasceu na Itália em 1924. Já era adulto quando ingressou em nossa Congregação, pois havia frequentado até o 5º ano de Medicina. Ocupou-se com administração e foi superior no vocacionário de Roma antes de vir para o Brasil. Aqui trabalhou junto ao departamento editorial, foi superior na Cidade Paulina (São Paulo), mestre de clérigos e conselheiro provincial. Em Caxias do Sul, mestre de noviços.

Pe. Testi era educado, gentil, habitualmente calmo e, sem dúvida, reconciliado com o mundo. Certa vez, estava ele ao volante de um carro, dirigindo no centro de Caxias do Sul; eu, de carona. De repente, ele entrou na contramão, e logo se ouviu o apito do guarda de trânsito. Imediatamente Pe. Testi encostou o carro, abriu a janelinha e, de mãos postas como um bebê inocente e com olhar suplicante, disse ao agente: “Me perdoa! Me perdoa! Sei que estou errado, só agora me dei conta”. O guarda ficou um tanto desconcertado e despediu o Padre sem lhe aplicar multa.

Pe. Testi em celebração com outros Paulinos

Bom conselheiro, um homem de Deus, foi também mestre de aspirantes adolescentes, dentre os quais algum conseguia tirar Pe. Testi do seu costumeiro mundo pacífico. Tratava-se de irritação passageira, fruto mais do seu zelo do que de nervosismo ou descontrole emocional. De qualquer forma, ele sofria quando fazia alguém sofrer. Como no caso de uma correção ou reprimenda a um jovem formando. No entanto, sua capacidade de autodomínio e serenidade nos impressionava. Certa noite, por volta das 21 horas, um adolescente forte, no auge da sua ira e agitado, levantou o braço direito para descarregá-lo sobre o Pe. Testi. Se o movimento se completasse, o estrago seria grande. Imagino que o Padre ficaria ferido, ou ao menos muito prejudicado. Qual foi então a reação do Pe. Testi? Suavemente estendeu um braço, e, sinalizando calma e paz, disse ao nervosinho: “Vai dormir, vai; vai dormir!”. E, com essa atitude equilibrada, evitou o desfecho que traria sérias consequências. Consta, por informações do dia seguinte, que o garotão valente passou a noite sem conciliar o sono!

Num dado momento, Pe. Testi regressou à Itália e, em 1978, foi nomeado vice-presidente do Hospital “Regina Apostolorum”, em Albano Laziale, a 20 km de Roma. Doze anos depois, nós o encontramos residindo com nossos coirmãos portugueses, ao pé do grande Santuário de Nossa Senhora de Fátima, ocupando-se com a formação dos jovens seminaristas. Durou pouco sua estadia em Portugal, já que foi acometido por devastadora trombose. Voltou para sua pátria e foi encaminhado ao mesmo hospital que dirigira no passado. Aí, após um ano de tratamentos adequados, veio a falecer em 5 de junho de 1991.

Padre Testi viveu entre nós e, certamente, em todos que o conheceram, imprimiu marcas positivas e indeléveis. Partiu sorrindo ao encontro do Senhor a quem serviu de modo alegre, generoso e fiel.