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25/05/2020

A Unidade dos Cristãos

Por Frei Darlei Zanon, ssp

A tradição de rezarmos juntos pela Unidade dos Cristãos está, felizmente, já bem consolidada. Há mais de um século as Igrejas Cristãs se organizam com um tema anual e um especial programa de eventos e celebrações para rezarem e meditarem juntas, na certeza de que o que nos une é muito maior do que aquilo que nos separa.

A ideia de dedicar uma semana inteira à Oração pela Unidade das diversas denominações cristãs surgiu nos EUA, mais especificamente com Paul Wattson, na época pastor da Igreja Episcopal estadunidense, de tradição e comunhão Anglicana. Paul Wattson foi o fundador de uma comunidade religiosa ecumênica de inspiração franciscana que chamou “Sociedade da Penitência”. A partir do ano 1908, começou a propor a semana entre 18 a 25 de janeiro – porque eram os dias entre as festas de São Pedro e São Paulo, tendo portanto um valor simbólico – como uma semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Logo no ano seguinte, 1909, a comunidade fundada por Wattson se converte ao catolicismo, sendo reconhecida pela Santa Sé, e o próprio Paul é ordenado sacerdote. A sua missão em prol do ecumenismo, no entanto, continua e se intensifica, até a sua morte em 1940.

No hemisfério sul, já que janeiro é normalmente tempo de férias, as Igrejas escolhem outros dias para celebrar a Semana de Oração, como, por exemplo no Brasil, à volta de Pentecostes (conforme sugerido pelo movimento Fé e Ordem já em 1926), que é também uma data simbólica para a unidade das Igrejas. A cada ano, o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos juntamente com a Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas propõem um tema e uma série de subsídios para melhor celebrar esta data.

Para o ano 2020, o tema proposto é inspirado no capítulo 28 livro dos Atos dos Apóstolos: “Eles nos demonstraram um benevolência fora do comum” (At 28,2), com conteúdo preparado pelas Igrejas cristãs de Malta e Gozo. O material traduzido em português pode ser encontrado no site do Pontifício Conselho (neste link: subsídio2020) ou no site do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil). Recordemos que a Igreja de Malta tem uma grande estima por São Paulo e celebra, no dia 10 de fevereiro, a Festa do Naufrágio do Apóstolo Paulo, evento que o fez chegar àquela ilha mediterrânea e que é descrito exatamente no capítulo 28 de Atos, texto que inspira e guia a Semana de Oração.

Esta Semana é um momento privilegiado particularmente para nós Paulinos e para a Família Paulina, não só porque podemos rezar em unidade e harmonia com todas as Igrejas Cristãs, estreitando assim os nossos laços e colaboração, mas também porque temos a oportunidade de aprofundar a própria vida e missão do Apóstolo Paulo, que o Bem-aventurado Alberione costumava dizer que é o verdadeiro fundador, modelo, protetor, pai e inspirador da Família Paulina.

No subsídio disponibilizado pelo Vaticano podemos encontrar a explicação e aprofundamento do tema, com uma reflexão bíblico-teológica, roteiros para as celebrações ecumênicas, além de orações e reflexões para cada um dos oito dias de Oração, enfatizando os temas da reconciliação (dia 1), iluminação (dia 2), esperança (dia 3), confiança (dia 4), fortalecimento (dia 5), hospitalidade (dia 6), conversão (dia 7) e generosidade (dia 8). Rapidamente apresenta também a situação atual da Igreja em Malta, interessante para nós que raramente temos contato com tal realidade.

Tendo como foco principal o “naufrágio” de Paulo, descrito por Lucas nos Atos, a Semana se propõe ainda a refletir sobre a delicada situação daquela região hoje, com inúmeros “naufrágios” e mortes de imigrantes e refugiados que arriscam a vida em barcos inapropriados e condições exploratórias para poderem fugir das terras de conflito e fome para tentar chegar à Europa. Uma dor profunda da humanidade hoje, que precisa ser ouvida e compartilhada, para juntos buscarmos soluções adequadas. E se pensarmos bem, são tantas formas de “naufrágio” que se repetem pelo mundo, inclusive no nosso País. Quantos “naufrágios” nos quais nós mesmos estamos envolvidos; quantas vezes fomos indiferentes à dor alheia; quantas vezes falhamos ao acolher o próximo, nos faltou “benevolência”…

Há tanto por refletir, portanto esta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é uma oportunidade para cada um de nós. Somos convidados a rezar pelas diversas realidades de “naufrágio”, mas também refletir sobre como ser Igreja e como estar em Unidade com as outras Igrejas cristãs na importante missão de construir o Reino que Jesus nos apresenta com sua vida e palavra (evangelho). Que o Senhor nos ajude a trilhar este caminho e bem viver esta Semana.