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20/04/2024

Pastor que arrisca a vida

Por Pe. Paulo Bazaglia, ssp

No tempo de Jesus, o povo era incapaz de conhecer e seguir todos os inúmeros mandamentos da Lei de Deus. Era então considerado ignorante e maldito pelos fariseus. Os fariseus, religiosos bem-intencionados que se orgulhavam de conhecer e observar os mínimos mandamentos, acabavam na prática sendo maus pastores, pois o sofrimento do povo parecia não dizer nada à religiosidade formalista deles.

Depois de se apresentar como a Porta, ou a Porteira, por onde as ovelhas passam e encontram liberdade e vida, Jesus se apresenta como Pastor. Não como qualquer pastor, a exemplo das lideranças de seu tempo, mas como “o Bom” Pastor.

Jesus é o Bom Pastor porque conhece suas ovelhas, e assim as ovelhas também o conhecem. “Conhecer”, na Bíblia, não é simples ação intelectual. Conhecer é conviver com o outro e compreendê-lo pela experiência. As ovelhas sabem por experiência, portanto, que o Bom Pastor é aquele que conduz para pastagens de vida, ao invés de prender em áridos redis de morte. Para Jesus, o povo não é ignorante, mas sabe discernir pela experiência.

Jesus não apenas conhece suas ovelhas, como também dá a vida, expõe sua vida por elas. Não é pastor que está sendo pago para tomar conta das ovelhas. Diante dos perigos, ele defende e põe a própria vida em risco por causa delas. E Jesus quer reunir as ovelhas de todos os lugares, para que todos os povos sejam uma só comunidade guiada por Aquele que conduz à vida, doando a vida livremente.

Num mundo de muitas lideranças políticas com pouco compromisso com o bem dos mais pobres e sofredores, num mundo de tantas lideranças religiosas prometendo prosperidade econômica a troco de ofertas em dinheiro, somos chamados a “conhecer” a voz daquele que é Bom. Com tantos meios e informações, é fácil ser enganado. É preciso atenção constante contra os falsos pastores, líderes mercenários a quem só importa o dinheiro.

Ouvindo a voz do Bom Pastor, mesmo em meio às maiores dificuldades, seremos guiados pelo caminho certo, o caminho do discernimento, onde, como diz o Salmo, “nada nos faltará” para chegar à vida verdadeira.

Publicado em 21 de abril de 2024 – Liturgia Diária – Ano 33 • N° 388

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