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20/03/2021

Ano da Família “Amoris Laetitia”: um olhar para o essencial

Por Felipe Borges, Seminarista Paulino

Em comemoração aos cinco anos de publicação da exortação apostólica “Amoris Laetitia” (A alegria do amor), inicia-se em 19 de Março, solenidade de São José – indo até 26 de junho de 2022, por ocasião do X Encontro Mundial das Famílias em Roma – o ano dedicado a família. O convite feito pelo Papa Francisco para este ano tem por fim não simplesmente que se passe a conhecer o texto “Amoris Laetitia”, mas, neste tempo de sombras e luzes, que as famílias “cada vez mais missionárias”, tornem-se “abertas à humanidade, dando a sua contribuição para que o mundo seja melhor”.

Num mundo em que a cultura do descartável, o consumismo desenfreado e a indiferença alastram-se por toda parte, este ano da família traz um convite para ir ao essencial. Nesse sentido, bem lembrava o Papa são João Paulo II na exortação apostólica Familiaris Consortio, nº 9, ao propor “gradualidade” de conversão:

Todos devemos opor-nos com uma conversão da mente e do coração, seguindo a Cristo Crucificado, no dizer não ao próprio egoísmo, à injustiça originada pelo pecado – profundamente penetrado também nas estruturas do mundo de hoje – e que muitas vezes obsta a família na plena realização de si mesma e dos seus direitos fundamentais. Uma semelhante conversão não poderá deixar de ter influência benéfica e renovadora mesmo sobre as estruturas da sociedade. É pedida uma conversão contínua, permanente, que, embora exigindo o afastamento interior de todo o mal e a adesão ao bem na sua plenitude, se atua concretamente em passos que conduzem sempre para além dela. Desenvolve-se assim um processo dinâmico, que avança gradualmente com a progressiva integração dos dons de Deus e das exigências do seu amor definitivo e absoluto em toda a vida pessoal e social do homem. É, por isso, necessário um caminho pedagógico de crescimento, a fim de que os fiéis, as famílias e os povos, antes, a própria civilização, daquilo que já receberam do Mistério de Cristo, possam ser conduzidos pacientemente mais além, atingindo um conhecimento mais rico e uma integração mais plena deste mistério na sua vida.

Num mundo cada vez mais ateu (até mesmo no ambiente religioso, por parte daqueles que afirmam acreditar em Deus, mas vivem como se ele não existisse); num mundo cada vez mais polarizado politicamente, orientado por uma economia que coloca a vida em último lugar – de modo tão visível em meio ao doloroso cenário da Pandemia Covid-19 –  as palavras sábias do Papa Francisco na exortação Amoris Laetitia, nº 30, ressoam com vigor:

Cada família tem diante de si o ícone da família de Nazaré, com o seu dia-a-dia feito de fadigas e até de pesadelos, como quando teve que sofrer a violência incompreensível de Herodes, experiência que ainda hoje se repete tragicamente em muitas famílias de refugiados descartados e inermes. Como os Magos, as famílias são convidadas a contemplar o Menino com sua Mãe, a prostrar-se e adorá-Lo (cf. Mt 2, 11). Como Maria, são exortadas a viver, com coragem e serenidade, os desafios familiares tristes e entusiasmantes, e a guardar e meditar no coração as maravilhas de Deus (cf. Lc 2,19.51). No tesouro do coração de Maria, estão também todos os acontecimentos de cada uma das nossas famílias, que Ela guarda solicitamente. Por isso pode ajudar-nos a interpretá-los de modo a reconhecer a mensagem de Deus na história familiar.

Convites como rezar em família (seguindo as orientações sanitárias) são oportunos neste ano jubilar, mas a oração verdadeira leva sempre à prática concreta, uma vez que a “família é o santuário da vida, o lugar onde a vida é gerada e cuidada”; para que não se constitua numa “contradição lancinante fazer dela o lugar onde a vida é negada e destruída” (AL, 83). Por isso, a todos os cristãos pede-se maior esforço para que brilhe e rebrilhe na família “a alegria do amor” e, assim, todos nos sintamos como uma verdadeira família humana. Encorajados por este ano, oportuno para redescobrir o essencial da família, “sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos” (Fratelli Tutti, 8).

Sagrada Família, abençoai nossas famílias e tornai-as autênticos santuários da vida rumo ao reino definitivo que já começa aqui e agora. Amém!

 

 

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