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01/06/2015

Conhecendo um pouco mais os Paulinos

Por Francisco Galvão, Seminarista Paulino

O ESTILO PAULINO DE COMUNICAR

oracao

Às vezes, pode-se pensar que a principal característica do paulino é a comunicação, mas não! A principal marca do comunicador paulino é, de fato, a vida interior. Como assim? O carisma não é comunicar? “A principal obrigação do homem, do cristão, do religioso e do sacerdote é a oração. Ninguém está seguro da sua vida sem a disciplina interior. Antes de tudo, vida comum interior”, era o que afirmava o Padre Tiago Alberione, nosso fundador. Entretanto, se não se praticar essa verdade, a missão inteira fica comprometida, pois é a oração que move toda a ação apostólica. A oração é a alma do apostolado paulino, sem a qual a palavra anunciada se esvazia e não produz frutos duradouros na vida daqueles que a recebem. Mais do que dizer da importância da interioridade, o Padre Alberione a vivia concretamente, sem jamais deixar a oração para depois, mesmo sendo muitas as suas ocupações e preocupações. O momento de “visita” para o padre Alberione era uma pausa ideal à renovação e à profunda criação apostólica. Da oração surge o vigor, a ideia, o dinamismo necessários ao apostolado paulino. A pessoa que não cultiva uma vida espiritual, facilmente desanima diante das dificuldades e tampouco terá entusiasmo para cumprir as exigências próprias da missão.

“A oração, dizia Alberione, deve sempre abranger a mente, o sentimento, a vontade e todas as atividades do dia”, ou seja, a oração é inseparável do apostolado, do estudo e da pobreza. Em tudo, a oração deve estar presente como aquela que lubrifica as rodas do carro paulino e o faz caminhar na unidade. Às vezes caímos no erro de achar que a maior contribuição que podemos dar à congregação é o nosso trabalho, a nossa capacidade criativa e gestora. Esse é, naturalmente, um pensamento ilusório, pois máquinas também produzem, e, às vezes, mais que homens. A vida interior é o diferencial, é a verdadeira cor paulina.

Dizia o Padre Alberione muito convicto: “a principal contribuição para a congregação é a oração”. Quando faz tal afirmação, ele não está, de modo algum, diminuindo o valor e a necessidade apostólica, ou mesmo dizendo que se deve “trabalhar” pouco, aliás, é justamente o contrário, pois o Padre Alberione sempre esteve certo de que é o Espírito que a tudo move e a todos capacita para a missão. Quanto mais se reza, mais força e coragem se adquire para levar adiante a missão. Ele também não está dizendo que se deve apenas rezar e esquecer o resto. Não é isso! Necessário é o equilíbrio, a integralidade. Alberione quer apenas enfatizar que qualquer projeto, ainda que movido por uma ideia grandiosa, sem consulta ao Mestre estará, naturalmente, fadado ao fracasso.

O Padre Alberione falava com tanto zelo e veemência da dimensão interior e dedicava tanto tempo à oração, que alguém pode se perguntar: “mas esse homem só rezava?”, “como encontrava tempo para o apostolado?”. O segredo estava no equilíbrio, na organização, no autodomínio. Tudo era questão de decisão, de saber priorizar as coisas essenciais. Ele dizia: “dentro de nós temos grande reserva natural quando em nós está presente um ‘quero’ verdadeiro, sentido, decidido. Ou seja, quando tomamos a decisão: ‘não santos pela metade, mas santos de modo pleno’ e cada manhã renovamos a decisão: o que fiz ontem é pouco, hoje quero fazer mais. Renovando a boa vontade a cada dia, progrediremos”.

O tempo, para o Padre Alberione, era precioso. Detestava perder tempo com coisas inúteis. Tudo o que fazia deveria acrescentar algo à sua vida e, de modo especial, ao projeto de Deus. O tempo mais bem empregado era, certamente, aquele dedicado à oração: “Maldito o estudo, o apostolado etc., pelo qual se abandona a oração! A oração, portanto, antes de tudo, acima de tudo, vida de tudo”.

Onde Alberione achou força para superar o sofrimento físico e continuar sua obra até os últimos dias de sua vida? Onde ele encontrava criatividade e dinamismo para difundir o Evangelho com os meios de comunicação social? Na Eucaristia. Na palavra de Deus. Na entrega total. Afinal, “o Espírito é que vivifica” (cf. Jo 6,63). Sem essa intimidade com o Divino Mestre, sua comunicação seria vazia e incapaz de “levar Deus aos homens e os homens a Deus”. Do Tabernáculo provinha a alma do apostolado e todas as respostas de que Alberione precisava para realizar sua missão, inclusive em sonhos, como estas palavras que o Senhor lhe revelou: “Não temam: eu estou com vocês. Daqui quero iluminar! Tenham dor dos pecados”.

O Padre Alberione, em suas pregações e quando enviava um dos seus “pequenos apóstolos” para iniciar uma obra, costumava dizer: “Realizam-se mais obras apostólicas com os joelhos (isto é, rezando) do que com os braços”. Tal afirmação era fruto de uma ascese constante, pois, para ele, todo apóstolo deveria imitar o Divino Mestre. Jesus nada fazia sem orar ao seu Pai. O papa Francisco, em julho de 2013, dirigindo-se a cerca de seis mil seminaristas e candidatos a institutos de vida religiosa, afirmou: “Os trabalhadores para a messe não são escolhidos através de campanhas publicitárias ou apelos ao serviço e à generosidade, mas são ‘escolhidos’ e ‘mandados’ por Deus. Por isso é importante a oração. A evangelização faz-se de joelhos!… Sede sempre homens e mulheres de oração! Sem o relacionamento constante com Deus, a missão torna-se um ofício. O risco do ativismo, de confiar demasiado nas estruturas, está sempre à espreita. A difusão do Evangelho não é assegurada pelo número das pessoas, nem pelo prestígio da instituição, nem ainda pela quantidade de recursos disponíveis. O que conta é estar permeados pelo amor de Cristo, deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e enxertar a própria existência na árvore da vida, que é a cruz do Senhor”.

Para Alberione, uma coisa era muito clara: a oração deveria preceder qualquer ação. Antes do anúncio da Palavra, a meditação, a adoração, o silêncio. Não o silêncio infértil, mas criativo, capaz de gerar verdadeira comunicação. Como afirmou Bento XVI, “o silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo”.  Portanto, sem essa dimensão interior, Alberione jamais teria se tornado um “profeta da comunicação”. Sem a “mística”, portanto, as técnicas serviriam apenas para enfeitar as palavras, mas seriam incapazes de transformar realidades humanas e sociais. Sem autêntica vida interior, a comunicação se apresenta vazia de sentido e incapaz de tocar o coração dos ouvintes, pois o que dá “sabor” às palavras é a profundidade com que elas são gestadas no interior daquele que as comunica. “O paulino é um especialista da Palavra”. Não dá para imaginar, por exemplo, um religioso comunicador (paulino) que não goste de ler a Bíblia, que não cultive um amor especial à Palavra de Deus.