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15/08/2020

Consagrar-se a Deus como Paulino

Por Pe. Antonio Lúcio, ssp

“Ser Paulino é “ser São Paulo vivo hoje”, ou seja: melhorar, aperfeiçoar-se, progredir um pouquinho cada dia, no estudo, no apostolado, na convivência, na escolha dos melhores meios, na piedade; avançar para o que está adiante: esquecidos do passado, atualizar-se continuamente para caminhar com os tempos; ter continuamente diante de si o mundo todo e o desejo de chegar a todos.”No meu artigo anterior, mês de julho, sobre a Vida Consagrada, já falamos o que é ser um consagrado ou religioso. Agora falaremos sobre uma consagração específica: ser Paulino! Em outras palavras bem concretas: consagrar-se a Deus para evangelizar na cultura da comunicação!
O que direi aqui é fruto de minha pertença à Congregação dos Padres e Irmãos Paulinos. Ingressei na Congregação no dia 18 de janeiro de 1983, emiti os primeiros votos religiosos no dia 09 de fevereiro de 1986 e fui ordenado presbítero no dia 14 de dezembro de 1991. Os números, ou se preferirmos as datas, são importantes como pano de fundo sobre as afirmações que farei a seguir. Não sou um recém chegado à Congregação e o que você lerá a seguir é fruto de minha vida diária como Paulino.
Para mantermos viva a identidade do carisma Paulino e sermos, de fato, um Consagrado Paulino, é preciso resgatar urgentemente o sentido de pertença de cada Paulino à Congregação. O que nos une e dá sentido de pertença não são apenas a amizade, a mútua simpatia ou qualquer outro motivo do gênero; o que nos une, neste caso, é a mesma fé em Jesus Cristo. Trata-se, portanto, de um grupo de pessoas que assumiram como opção fundamental o seguimento de Jesus e que vivem em comunhão com a Igreja. É imprescindível favorecer e respeitar na Congregação a originalidade própria de cada pessoa, porém harmonizando-a com o carisma da Congregação.
Passo a palavra ao nosso Fundador, Bem-aventurado Tiago Alberione, para recordar o que ele dizia ao referir-se aos Paulinos da primeira hora: “Lembro-me sempre daqueles queridos irmãos que suportaram os primeiros e os maiores pesos, com compreensão muito superior à sua idade. Sua fé simples e firme fazia-os entregarem-se nas mãos de Deus; seu amor a Deus e às almas e o profundo desejo de santidade abriram caminho para muitas vocações” (AD 208).
E também acho oportunas as palavras de São João Paulo II na Exortação pós-sinodal Vita consecrata: “Vós não tendes apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir! Olhai para o futuro, para o qual vos projeta o Espírito a fim de realizar convosco ainda coisas maiores” (n. 110).
O nosso Fundador, Bem-aventurado Tiago Alberione foi um homem que buscou compreender “os sinais dos tempos” respondendo de forma criativa às necessidades da Igreja. Como continuar esse ideal de Alberione, atendendo, principalmente às necessidades da sociedade atual?
A resposta é bastante simples e basta voltarmos ao passado na noite da passagem do século XIX para o século XX, quando ele, jovem seminarista, em adoração ao Santíssimo Sacramento, na Catedral de Alba (Itália), sentiu no profundo do seu coração a necessidade de preparar-se para fazer algo por Deus e pelas pessoas do novo século. Portanto, os Paulinos precisam cada vez mais estar atentos “aos sinais dos tempos”, fazendo uso de todas as invenções que a ciência e a tecnologia colocarem à sua disposição e, claro, preparando-se bem para conseguir comunicar-se com as pessoas de hoje com as linguagens de hoje. O ideal de Alberione será atual e responderá às necessidades da sociedade atual, quando os Paulinos forem, de fato, homens consagrados em primeiro lugar, mas também competentes profissionalmente no campo da comunicação, que é o seu carisma específico na Igreja.
Para compreender o que deveria fazer pelo novo século, Alberione teve como regra absoluta, o Evangelho. A pergunta que fica para nós, Paulinos, é: como nos deixamos, também nós, interpelar pelo Evangelho?
A resposta deve ser de cada Paulino, pois não dá para saber como é a adesão e o compromisso de viver o Evangelho de cada um. Como bem sabemos e como afirma o Papa Francisco, para os Fundadores e as Fundadoras, a regra absoluta de suas vidas foi sempre a vivência do Evangelho. Tudo o mais só servia se fosse útil para ajudá-los nesta empreitada: viver o Evangelho em plenitude! Como Paulinos, o que devemos fazer vida afora é deixar-nos “cristificar”, usando uma expressão e desejo do Pe. Alberione, ou seja, permitirmos que Cristo seja formado em nós e, um dia, chegarmos a afirmar como São Paulo: “Para mim, viver é Cristo” (Fl 1,21). O Evangelho deve ser para o Paulino, e aqui faço minhas as palavras do Papa Francisco, “o ‘vademecum’ para a vida de cada dia e para as opções que somos chamados a fazer. Isto é exigente e pede para ser vivido com radicalismo e sinceridade. Não basta lê-lo (e no entanto a leitura e o estudo permanecem de extrema importância), nem basta meditá-lo (e fazemo-lo com alegria todos os dias); Jesus pede-nos para pô-lo em prática, para viver as suas palavras”. No dizer de Pe. Alberione, “o amor ao Evangelho é o sinal e a característica das pessoas escolhidas por Deus para grandes coisas”. Portanto, para que a nossa evangelização através dos modernos, rápidos e eficazes meios de comunicação deem resultado, é necessário que esteja pautada no Evangelho: vivê-lo antes com a nossa vida e anunciá-lo depois através dos meios de comunicação.
Que caminhos devem ser seguidos para que possamos, como Paulinos, ser fieis à missão de evangelizar com os meios de comunicação? Devemos devotar uma fidelidade e obediência incondicionais à Igreja e, também, sermos: corajosos para enfrentar os desafios e os riscos atuais da nossa missão; dinâmicos e criativos para responder aos problemas e às expectativas do povo; homens de diálogo, especialmente com quem pensa de maneira diferente de nós. Não nos detenhamos em discussões intermináveis e em projetos futurísticos; sejamos humildes, orantes e sofridamente atentos aos “sinais dos tempos” para interpretá-los à luz do Evangelho e discerni-los no Espírito; jamais nos esqueçamos de que fomos enviados para pregar Jesus Cristo, e que, antes, devemos vivê-lo, como São Paulo e como Pe. Alberione: só então poderemos dá-lo, com eficácia, a um mundo carente dos valores do Evangelho.
Para que a nossa Congregação continue sendo uma realidade significativa na vida da Igreja e da sociedade atual é fundamental, como diz o Pe. Alberione, sermos “São Paulo vivo hoje”. E, para tanto, precisamos: Enamorar-nos de Cristo (cf. Rm 8,35-38); ser consciente de que já não é possível pensar nem agir sem partir de Cristo (cf. At 17,18); convencer-se profundamente de que é sempre Cristo quem nos ama primeiro. São Paulo se converteu porque se sentiu amado, precisamente quando ainda era perseguidor (cf. Rm 5,6-11); todo conhecimento verdadeiro – experiência de vida com Cristo – é possível unicamente em Cristo, em quem se dá todas as dimensões do amor (cf. Ef 3,14-21); o desejo essencial é conhecer a Cristo e o poder de sua ressurreição. Todo o resto é como lixo (cf. Fl 3,8-11); tender habitualmente para Cristo com um dinamismo que compromete cada vez mais, até o momento da morte, entendida como o encontro definitivo com ele (cf. 2Tm 4,6-8).
E nunca é demais escutarmos o próprio Fundador: “‘Lançar-se para a frente!’ Tenhamos sempre presente o que ainda nos falta. Não há tempo para nos regozijarmos com o passado, para contarmos o que já realizamos, o êxito alcançado nesta ou naquela diocese, nesta ou naquela semana bíblica, catequética, mariana etc. Não há tempo! Há tempo apenas para lembrarmos o que ainda nos falta, se quisermos ser sábios e apóstolos, formados segundo o coração de São Paulo”.
“Quando uma irmã ou uma mestra chega a uma nova casa, deveria antes de tudo colocar-se diante de um mapa da região, do território que lhe é confiado… Meditar sobre os nomes das várias paróquias e pensar: a quantas já chegamos? A quantas ainda não? O que nos falta ainda? Lançar-se sempre adiante, nunca parar na admiração do que já temos feito… Depois, na mesma diocese, nas mesmas paróquias, passar em revista as várias categorias de pessoas: sacerdotes, advogados, profissionais, operários, médicos, universitários, alunos do segundo grau, professores, mães de família… Chegamos a todos? A todas as categorias?”.
Nesse tempo de escassez de vocações, somos chamados antes de tudo a renascer vocacionalmente, a reposicionar-nos e a descobrir a iniciativa do chamado de Deus na nossa vida. Nesse sentido, quero animar e encorajar os jovens que desejam trilhar o caminho da vida religiosa consagrada, sendo um Padre ou Irmão Paulino, reafirmando o que disse anteriormente. Ser Paulino é “ser São Paulo vivo hoje”, ou seja: melhorar, aperfeiçoar-se, progredir um pouquinho cada dia, no estudo, no apostolado, na convivência, na escolha dos melhores meios, na piedade; avançar para o que está adiante: esquecidos do passado, atualizar-se continuamente para caminhar com os tempos; ter continuamente diante de si o mundo todo e o desejo de chegar a todos. Sem um grande coração e sem uma mente ampla não se é Paulino (universalidade); coragem para: iniciar coisas novas, coisas grandes começando do pequeno; fazer coisas que não se sabe fazer, mas aprender a fazer fazendo, melhorando continuamente; seguir as inspirações de Deus, que não faltam nunca, depois de tê-las descoberto (na Igreja, na Congregação); promover uma colaboração com todos em todos os níveis (Paulinos e Colaboradores); trabalhar em equipe; evangelizar todas as culturas com todos os meios e linguagens; preparar-se no uso das novas tecnologias e, finalmente, sermos criativos e audazes como São Paulo e o Bem-aventurado Tiago Alberione, assumindo progressiva e decididamente, no nosso apostolado específico, as novas linguagens e as novas formas de comunicação, para nos dirigirmos não só aos já evangelizados, bem como a alcançar também os afastados, falando cristãmente de tudo.

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