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15/11/2021

Relembranças 11: Padre Virgílio

Por Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp

Padre Virgílio (primeiro da foto), celebrando 30 anos como Redator de O Domingo, juntamente os demais jubilandos, Frei Majorindo e Pe. Paulo Pazaglini

Registrado no cartório como Salvatore, assumiu, pela profissão religiosa, o nome do antigo e renomado poeta latino, Virgílio. Foi com este novo “registro” que Pe. Virgílio ficou conhecido por milhares de leitores ou fiéis que acompanhavam seus artigos semanais pelo folheto litúrgico-catequético O DOMINGO.
Nascido na Itália em 1927, Pe. Virgílio ingressou na Congregação dos Paulinos na Casa-mãe de Alba, no ano 1941, em plena guerra, e recebeu a ordenação presbiteral em 1956. Nove anos depois veio para o Brasil, fixando morada em São Paulo, na Cidade Paulina, onde viveu até o final de sua vida.
Simpático, asseado, perfumado também. Discreto e reflexivo, nunca era visto desperdiçando palavras. Às vezes parecia estar no mundo da lua, atitude em parte justificável pelo fato de viver envolvido com a redação de textos litúrgicos, cuja preparação se dá muito tempo antes de chegar às mãos dos destinatários.
Cultivava-se intelectualmente. Lia poesias clássicas do seu universo italiano. Escrevia em língua portuguesa de modo impecável. Dotado de notável veia poética, deixava transparecer esse dom nos incontáveis artigos que escrevia para O DOMINGO e nos livros que teve ocasião de publicar, dentre os quais se destacou “O MEU CRISTO DE CADA DIA”.
Pe. Virgílio foi redator de O DOMINGO por mais de trinta anos. Identificou-se de tal forma com esse periódico, que o tratava como um amado filho seu. Com efeito, adiantado em idade, com menores condições para exercer esse apostolado, ao notar que estava sendo substituído por outra pessoa, ele reagia: “O DOMINGO é meu”! Não era apego nem arrogância; era como perder um ente querido. Sua atividade como paulino não se limitou ao campo da redação. Foi também formador de jovens aspirantes, mestre de noviços, vice-provincial e superior local na Cidade Paulina.
Nos últimos anos de vida, Pe. Virgílio foi atingido por inexorável mal de Parkinson e incômoda pneumonia aspirativa, enfermidades que lhe afetaram sensivelmente as capacidades motoras e cognitivas. Ele, que falava pouco, silenciou de vez. Não puxava assunto, nem respondia ao que lhe perguntavam. Sentado em sua poltrona, olhos fixos numa televisão ligada, contava com os serviços de cuidadores e enfermeiros. Contrates da vida: o homem que usou uma infinidade de palavras para evangelizar o mundo, no fim encontrava-se emudecido, inerte. Evidentemente tal condição não lhe favorecia receber visitas, já que a comunicação não se dava. Uma entrega silenciosa, resignada, certamente fecunda aos olhos de Deus, o qual ultrapassa nossa capacidade de compreender o que se passa com cada pessoa.
Hospitalizado várias vezes, várias vezes recebeu alta e voltou para sua comunidade. Até que num domingo à tarde, dia 3 de janeiro de 2016, Pe. Virgílio deixou seu corpo vulnerável para assumir nova e definitiva dimensão junto ao Pai celeste. Precioso dom divino para os Paulinos, a Família Paulina e a Igreja do Brasil.

Padre Virgílio, último padre da foto

O “Pai” de O Domingo