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21/05/2022

Um momento para a comunicação: a escuta (parte 1)

Por Felipe Borges, Seminarista Paulino

A escuta e a sinodalidade

O Dia Mundial das Comunicações, celebrado todos os anos no Brasil na Solenidade da Ascensão do Senhor (7º Domingo da Páscoa, na maior parte do mundo), foi instituído pelo Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), através do decreto Inter Mirifica, como forma de reconhecer, celebrar e refletir sobre as maravilhas dos meios de comunicação na Igreja e na sociedade. Isso ocorreu sobretudo porque antes do Concílio os meios de comunicação não recebiam tanta atenção da Igreja como instrumentos de evangelização e transformação para a humanidade. Assim expressa aquele decreto: “Para que se revigore o apostolado da Igreja em relação com os meios de comunicação social (…) um dia em que os fiéis sejam doutrinados a respeito das suas obrigações nesta matéria, convidados a orar por esta causa e a dar uma esmola para este fim, a qual será destinada a sustentar e a fomentar, segundo as necessidades do orbe católico, as instituições e as iniciativas promovidas pela Igreja nesta matéria” (n.18).

A mensagem do Papa Francisco para este ano traz o tema: Escutar com o ouvido do coração. No ano passado o Papa insistia na necessidade de uma comunicação do “ir e ver”: ir ao encontro das pessoas e ver seus sofrimentos e alegrias com os próprios olhos. Tal mensagem tem sequência na temática deste ano.

As consequências deixadas pela pandemia da Covid-19, que ainda não terminou, mostram a necessidade que as pessoas têm de serem escutadas nas situações que se encontram.  Não apenas de pessoas que passam pelo problema da solidão, mas também de pessoas que vivem com outras na mesma casa e não são escutadas, percebidas, nem acolhidas.

Os meios de comunicação que se voltam para a escuta crescem e se desenvolvem – como enfatiza o Papa na mensagem – como por exemplo o podcast e chat áudio, porém, em igual proporção, cresce a cultura da indiferença em relação ao outro que está diante de nós. Prova disso é que, antes, quando alguém queria saber alguma coisa perguntava a quem soubesse. Hoje raramente isso ocorre. O mais comum é perguntar ao Google, ou outro meio de comunicação digital fornecedor de (des)informações. Há muitos conectados com o ambiente digital, mas desconectados com o ambiente presencial. O valor da presença, do sentir o outro presencialmente, está desaparecendo em nossos dias. Será culpa dos meios de comunicação ou das pessoas?

A instrução pastoral Communio et progressio recorda que: “O Concílio Vaticano II exorta os católicos a tomar consciência e a examinar cuidadosamente, à luz da fé, os problemas e responsabilidades que os meios de comunicação social lhes apresentam” (n. 101). Por isso não podemos estar adormecidos diante dos apelos da Igreja em cada tempo quando se trata dos meios de comunicação, pois influenciam a vida social e eclesial. Prova disso é a dificuldade encontrada, em muitas paróquias, de reunir novamente as pessoas para a Eucaristia ou as celebrações comunitárias. Quando muito, prefere-se assistir pelos meios de comunicação ao invés de participar na comunidade.

Por outro lado, algo de belo sobre a escuta vem ocorrendo com o Sínodo da Igreja sobre a Sinodalidade, convocado pelo Papa. Todos são chamados a participar, ocorrendo centenas de milhares de iniciativas em toda a Igreja, onde todos podem se expressar.

Por isso, na última parte da mensagem do Dia Mundial das Comunicações deste ano – após ter falado sobre a escuta na Palavra de Deus, a escuta de Jesus, a escuta de si e do outro – o Papa fala da escuta tão necessária na Igreja com estas palavras: “Na ação pastoral, a obra mais importante é o ‘apostolado do ouvido’. Devemos escutar, antes de falar, como exorta o apóstolo Tiago: ‘cada um seja pronto para ouvir, lento para falar’ (1,19). Oferecer gratuitamente um pouco do próprio tempo para escutar as pessoas é o primeiro gesto de caridade.”

Lembrando sempre que “a comunhão não é o resultado de estratégias e programas, mas edifica-se na escuta mútua entre irmãos e irmãs”; ninguém fique excluído de ser escutado para que haja uma verdadeira sinodalidade e uma inclusiva comunicação. O bem-aventurado Pe. Tiago Alberione, apóstolo da Comunicação Social, nos inspire a sermos comunicação e usarmos os meios de comunicação com uma escuta que promova, como ele sempre insistia, “a glória de Deus e a paz das pessoas”.

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