Institutos Paulinos: um futuro rico de esperança I

Na Igreja, a vida secular consagrada representa um futuro rico de esperança ao menos por dois grandes motivos: porque na vida espiritual ela dissolve o antigo conflito atividade-contemplação, como também na vida consagrada, a costumeira separação Igreja-mundo.

Unidade de atividades e contemplação
O evangelista Lucas apresenta Jesus identificando-o como Mestre orante e itinerante, no qual oração e ação estão unidas harmonicamente. Assim identificado, no evangelho de João o Mestre exortará a mulher samaritana a adorar o Pai em “espírito e verdade” (Lc 4,24), para além de qualquer dimensão estritamente espaço-temporal. É interessante notar como Lucas considera absolutamente unidas entre elas as três etapas da Redenção, pondo a presença de anjos no desenvolvimento de cada uma delas: na Anunciação-Encarnação, o anjo Gabriel (cf. Lc 1,26); na Paixão no Getsêmani, o anjo que conforta o Cristo (cf. Lc 22,43); na ressurreição ao lado do sepulcro vazio os dois anjos “com vestes resplandecentes” (Lc 24,4). No momento da encarnação e da ressurreição de Cristo a ação dos anjos se desenvolve como anúncio-missão; durante a Paixão de Jesus, a presença do anjo está em função da oração para sustentar e confortar o Senhor. Ao aproximar missão e oração, que para Lucas é o elemento unificador permanente em todo desenvolvimento do ato redentor de Cristo, encontramos o caminho de saída na teologia espiritual e na praxe ascética para resolver o antigo conflito entre ação e contemplação.
Ao se referir à vida espiritual e apostólica das Anunciatinas, Pe. Alberione lhes garantia justamente nos dias da fundação do seu Instituto, que atividade e contemplação não podem senão estar unidas. Com isso entende-se – dizia ele – que quem trabalha bem com as devidas disposições, com o fim imediato e necessário de ganhar o pão com o suor da fronte, pratica a santa vontade de Deus, transformando desse modo o trabalho em oração. Entende-se também manter-se unido à oração perene da Igreja, pois ele considerava que “o sol nas 24 horas vê sobre a terra elevar-se continuamente o cálice e a hóstia rumo ao céu… Um calvário sempre vivo, sempre verdadeiro, sempre atual, que se prolonga nos séculos, que glorifica o Senhor e faz chover graças e bênçãos sobre a humanidade, também sobre aqueles mais distantes de Deus. Quem durante o dia pretende viver unido a todas estas missas reza…, está em contínua adoração. Por outro lado, “quer comais, quer bebais”, diz são Paulo, “fazei tudo para a glória de Deus” (Cl 3,17)… Dir-se-á que não se tem tempo, mas então é necessário transformar tudo em oração. Há pessoas que são como uma oração ambulante, que caminha…; pessoas que não sabem pensar a não ser o bem, pessoas que mantêm contato habitual com Deus onde quer que estejam: no trem, no ônibus, enquanto cozinham ou lavam a louça etc. Em tudo o que fazem há a união com Deus, que será mais ou menos sentida, mas que aos poucos se tornará sempre mais sentida e tornará a alma cada vez mais alegre, porque sentirá sempre mais viva a sua união com o Senhor” (MCS, pp. 54-57).

Comunicação Igreja-mundo
É a vida secular consagrada que de modo particular faz cair a dicotomia Igreja-mundo que a eclesiologia do Concílio superou totalmente, com base no comportamento do Senhor e dos Apóstolos que estão no mundo, mas não são do mundo. De fato o Divino Mestre vem ao mundo (cf. Jo 1,14), o qual como criatura é coisa “muito boa” (Gn 1,31; 1Tm 4,4s), porque é obra de Deus (cf. Sl 104) e morada de Deus (cf. Is 66,1), e porque Deus o ama (cf. Jo 3,16) e Jesus fez parte dele (cf. Jo 19,14-22) como messias redentor (cf. Jo 3,6).
Ele se fez homem não para julgar e condenar o mundo (cf. Jo 12,46s) e o tempo presente (cf. Mt 13,38s), ainda que o Senhor deverá fazê-lo no fim dos tempos porque nele entrou o mal por obra do diabo (cf. Gn 3) e do homem (cf. Rm 5,12), pelo que o mundo é uma sociedade de pecadores (cf. Mt 18, 7) que recusa a salvação, persegue Jesus (cf. Jo 7,7), o condena (cf. 1Cor 11,32) e condena aos seus discípulos (cf. Jo 15,18).
Cristo Senhor veio para salvar o mundo (cf. Jo 12,47), porque ele está submetido a satanás (cf. Jo 12,31), razão pela qual não conhece a Deus (cf. Jo 17,25), tem necessidade de salvação (cf. Jo 1,29), espera a redenção definitiva (cf. Rm 8,19). O Salvador fez tudo isso porque o mundo não tem nenhum poder sobre Jesus (cf. Jo 14,30), porque Jesus reina no mundo (cf. 1Jo 18,37), venceu o mundo (cf. Jo 16,32), dado que estulta é a sua sabedoria (cf. 1Cor 1,20s), que diante de Deus é loucura (cf. 1Cor 3,19) e inimizade (cf. Tg 4,4) e desaparece (cf. 1Cor 7,31s), à semelhança do próprio mundo que passa (cf. 1Jo 2,17), pelo que Jesus e os discípulos estão no mundo, mas não são do mundo (cf. Jo 17,16).
Vindo ao mundo, o Filho “unigênito no seio do Pai” (Jo 1,18) não perdeu de fato a divindade: ele o demonstra realizando milagres, transfigurando-se e ressurgindo da morte. Os evangelistas, para explicar que Jesus continua a ser Filho de Deus, embora permanecendo homem, recorrem a uma modalidade interessante: mostram a presença de anjos ou de sinais extraordinários nos momentos em que parece que o Senhor reduza ou perca a sua divindade: ao encarnar-se (cf. Lc 1,26ss), ao ser batizado no Jordão (cf. Mc 1,11), na provação do deserto (cf. Mt 4,1-11), no Getsêmani (Lc 22,43), no sepulcro (Lc 24,4).
Os discípulos de Jesus também estão no mundo, mas não são do mundo (cf. Jo 17,16), o qual não os conhece e odeia (cf. 1Jo 3,1), como cordeiros forçados a chorar por causa das perseguições (cf. Jo 16,20), enquanto os filhos deste mundo são alegres e astutos (Lc 16,8) e lobos ferozes (cf. Mt 10,16). Os discípulos, porque são de Deus, vencem o mundo (cf. 1Jo 5,4s), sendo prudentes como serpentes e simples como pombas (cf. Mt 10,16), e esperando a sentença de Deus contra o mundo (cf. Jo 16,8s), o juízo final sobre a humanidade em que serão separados cabritos e cordeiros (cf. Mt 12,36; 25,31-46) e os santos julgarão o mundo (cf. 1Cor 6,2).
Nos dois anjos ao lado do sepulcro, o evangelista Lucas prefigura, provavelmente, os dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35), com os quais o Ressuscitado partilhará a palavra, como também o Corpo e o Sangue, antes que estes possam, por sua vez, entrar “no mundo” e proclamar: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente” (Lc 24,34). Também eles representam ou fazem parte dos 72 discípulos que foram e ainda vão anunciar a Boa Notícia, porque eles próprios se alimentaram, antes de partilhar, de uma profunda experiência orante e eucarística.
O Bem-aventurado Tiago Alberione deixou escrito: “Estes setenta e dois discípulos estão ligados ao tempo de Jesus, mas ao mesmo tempo são também sinal de todos os operários que o Senhor ressuscitado envia no tempo da Igreja. O que nos interessa neles não é a função hierárquica, mas sim o trabalho missionário. Por meio destes discípulos a missão de Jesus chega a todas as fronteiras da história atingindo a sua plenitude na colheita escatológica… Jesus caminha com os seus rumos à colheita e com eles orienta tudo para o Reino. Desse modo, a missão dos discípulos se insere no caminho de Jesus para o Pai” (Em Comentário da Bíblia litúrgica, Edições Paulinas, Roma 1986, p. 1201).

Pe. Ângelo De Simone, ssp.

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