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01/09/2015

Bíblia, animação de toda a pastoral

Por Pe. Paulo Bazaglia, Sacerdote Paulino

“A Bíblia revela a caminhada concreta de um povo em busca de vida, na aliança que Deus faz com o povo, nas ações e palavras do próprio filho Jesus, Palavra encarnada.”

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A partir do Vaticano II, que encorajou os estudos bíblicos e as traduções bíblicas a partir dos originais hebraico, aramaico e grego, a Bíblia foi retomando lugar importante na vida das comunidades. Começaram a aparecer edições de Bíblia com introduções e notas explicativas, incorporando o avanço dos estudos. A Palavra de Deus, que até então chegava ao povo através da liturgia e da pregação sobretudo dos padres, já interpretada e em certo modo aplicada à realidade, foi recobrando sua genuína importância.

O retorno às línguas bíblicas originais abriu a possibilidade de redescobrir os textos e compreendê-los em seu contexto original, como fruto da exegese. Edições da Bíblia traduzidas diretamente das línguas originais, por isso, ganharam importância, a ponto de serem hoje as mais respeitadas, tais como a Bíblia de Jerusalém, publicada em português pela PAULUS, fruto de mais de 50 anos de amadurecimento de estudos da Escola Bíblica de Jerusalém.

Hoje, ao encontrar uma variedade de traduções, as pessoas perguntam pela melhor. Mas esta variedade, em vez de deixar os fiéis confusos, como se devêssemos ter um “dogma da tradução”, ou o dogma de uma tradução, esta variedade de traduções representa uma das faces da riqueza inexaurível do texto bíblico, que nunca poderá ser traduzido de modo plenamente satisfatório nas línguas locais. E daí a importância de edições de Bíblia que facilitem ao povo o acesso à Palavra de Deus, que deixou de ser, felizmente, apenas um livro impresso, objeto de enfeite ou amuleto para a sala ou o quarto.

De fato, já não se trata de ler a Bíblia como simples livro de decretos e regras de Deus. A Bíblia revela a caminhada concreta de um povo em busca de vida, na aliança que Deus faz com o povo, nas ações e palavras do próprio filho Jesus, Palavra encarnada. Deixar-se iluminar pela Palavra de Deus, portanto, pressupõe a experiência comunitária, que vai além de interesses individualistas – pois a Bíblia é fruto da experiência comunitária, é a fé de uma comunidade que se revela, e portanto ilumina nossa vida à medida que a lemos e atualizamos em espírito comunitário e – hoje é preciso salientar – com espírito ecumênico.

Se a Bíblia fechada não chega a ser Palavra de Deus, aberta, lida, rezada, estudada, interpretada, atualizada em comunidade, tem o poder de iluminar nossa história. Basta abrir a Bíblia, e abrir nossa vida, para que duas histórias se toquem e a palavra amiga de Deus nos permita construir uma nova história. E então a Palavra divina, expressa por escrito em palavras humanas, limitadas por quem as escreveu, continuará a nos revelar seu inesgotável sentido e mensagem, superando leituras fundamentalistas e intimistas que não edificam a comunidade.

Muito caminho se fez desde o Vaticano II. A exortação pós-sinodal Verbum Domini, de 2010, incentiva a buscar uma animação bíblica da pastoral inteira (cf. VD 73). No Brasil, em Goiânia, foi realizado em 2011 o I Congresso de Animação Bíblica da Pastoral, que procurou envolver os agentes de pastoral ligados aos regionais da CNBB, para buscar caminhos novos. Mas ainda falta maior conscientização a respeito do desafio de fazer da Palavra de Deus a animação da pastoral inteira da Igreja.

A Bíblia, de fato, ainda não conquistou plenamente seu lugar de direito. Com que frequência, por exemplo, a Palavra, em nossas celebrações, é somente lida (e às vezes mal lida), em vez de ser proclamada e atualizada, como fonte de vida que é, a alimentar-nos tal como a comunhão eucarística, e a tornar-nos testemunhos do amor divino… Com que intensidade vemos aparecer canções (usadas na liturgia) de um intimismo tão estéril para a comunidade, sem conteúdo bíblico, que ao invés de ajudar a comunidade a crescer, a encerra num processo de infantilização… Em vez de um item a mais, ou uma dimensão a mais, é a Palavra de Deus que deve animar toda a ação pastoral de nossas comunidades: animar a liturgia (as homilias, os cantos, as orações), a catequese, enfim todas as pastorais. Há aí um belo caminho a descobrir juntos como Igreja, e um belo caminho a percorrer.

E a PAULUS, que tem a Bíblia como centro animador de suas publicações, estará junto na caminhada, a fim de dar sua contribuição para que esta animação bíblica de toda a pastoral venha para ficar, e traga transformações, para o bem do povo de Deus. À luz da Verbum Domini, que a Palavra de Deus continue a ser anunciada, acolhida, celebrada e meditada nas comunidades de fé.