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18/10/2023

80 anos da Sociedade de São Paulo (Portugal)

Por Pe. Tiago Melo, ssp

Antes de palavras de júbilo, compartilho convosco um relato, em primeira pessoa, do Pe. Xavier Boano, italiano e o primeiro Paulista a vir a Portugal.

«No mês de outubro de 1942, o P. Alberione mandou-me vir de Catania a Roma, e encarregou-me de abrir uma nova Casa em Portugal. Hoje, porventura, um encargo deste género poderia assumir uma certa solenidade; nessa altura, com aquele homem, ser convidado a partir para esta ou aquela Nação, para este ou aquele Continente, era um acontecimento normal. Era tanta a confiança que tínhamos nas suas ordens e nos seus conselhos, que ficávamos com a sensação de termos o sucesso garantido…

Estávamos em tempo de guerra (a Segunda Guerra Mundial 1939-1945), uma guerra que para nós, italianos, ia de mal a pior. Conseguir passaporte para o estrangeiro, à primeira vista, parecia impossível. Mas ele não teve a menor hesitação, e ordenou-me que começasse a tratar dos papéis… No mês de Junho de 1943 tinha nas minhas mãos o passaporte. Às três da manhã do dia 25 de junho já eu estava na capela da casa de Roma. O P. Alberione ajoelhou-se junto a mim, e ajudou-me à Missa com grande recolhimento, como se fosse uma criança da Primeira Comunhão. Deu-me a sua bênção, entregou-me um santinho da Rainha dos Apóstolos e um pedaço de chocolate para o pequeno almoço: naqueles tempos de grandes privações alimentares, era um presente digno de registo! O P. Alberione pagara-me também o bilhete de avião para Barcelona: custava duas mil liras.

Às seis da manhã tomei um hidroavião para a capital catalã, onde cheguei às 9,30. Apanhei o primeiro comboio disponível para Bilbau, onde desembarquei no dia seguinte, acolhido fraternalmente pelo Superior e Comunidade paulista daquela cidade espanhola. Ali fiquei quatro meses, com o fim de obter o visto para Portugal. Passei depois por Madrid, onde tudo ficou resolvido. Finalmente, no dia 18 de outubro de 1943, chegava a Lisboa.

Fui hospedar-me nos Salesianos, e quinze dias depois o Cardeal Patriarca Dom Manuel Cerejeira, ao qual me apresentara logo que cheguei, deu-me o encargo de capelão de uma comunidade das Irmãs Escravas da SS.ma Eucaristia e da Mãe de Deus. Quando eu lhes confiei que provavelmente iria ficar em Portugal só por alguns dias, elas disseram-me: “Nós vamos conseguir que fique cá para sempre”. 

https://youtu.be/s4aJYAPAO_0?feature=shared

No dia 13 de novembro, depois de uma viagem atribulada, pude ir a Fátima em peregrinação. Muito comovido, rezei a Missa na Capelinha das Aparições, ajudado pelo célebre coxo miraculado de quem se fala nas primeiras aparições de Fátima. Consegui falar com os pais de Francisco e Jacinta, mas especialmente rezei com fé a Nossa Senhora pedindo que, se fosse da vontade de Deus, eu pudesse fundar uma Casa paulista em Portugal.

Ao regressar a Lisboa, tive a grata surpresa de saber que a Interpol, certamente por intermédio das ditas Irmãs e de algumas pessoas influentes (entre elas Dona Helena Varela Cid, viúva de um ex-embaixador espanhol, e que era tida em grande consideração pelas autoridades civis e eclesiásticas e grande benfeitora do seu mosteiro), me tinha concedido licença de residência por tempo indeterminado. Tinha somente de mandar visar o passaporte todos os meses e pagar dez escudos. Foi uma graça verdadeiramente extraordinária, porque em tempo de guerra a nenhum estrangeiro era dada tal licença. Quando me apresentei ao Senhor Cardeal Patriarca com o visto de residência na mão, ele ficou muito admirado e disse-me: “Como conseguiu? Olhe que nem um Bispo pode permanecer aqui mais de 30 dias!” Fiquei durante três anos (1943-1946) sozinho, como capelão das ditas Irmãs, e como vice pároco numa paróquia de quarenta mil habitantes (a paróquia de Penha de França, em Lisboa)…

Exercendo o meu ministério sacerdotal em contato direto com o povo, não me foi difícil compreender a importância e a urgência da instrução religiosa por meio da imprensa. Comecei por mandar imprimir alguns livros; depois procurei uma casa para alugar, o que consegui no Paço do Lumiar, em Lisboa, para três sacerdotes, que, entretanto, haviam chegado de Itália, e para os primeiros seminaristas…

Os primeiros anos do Instituto foram muito difíceis… Mas Nossa Senhora de Fátima velava pelos seus filhos…»

Com este relato emocionante e imersivo, podemos conhecer os inícios de uma história de Missão. A Sociedade de São Paulo começou com o sonho de Deus no coração do nosso Fundador, o Beato Tiago Alberione, lá na Itália, e expandiu-se pelos Continentes. Uma história que desenvolveu e criou vida em Portugal e que hoje celebra seus 80 anos. Muitas histórias belas e narradas pelo apostolado da Imprensa com os nossos periódicos. 

Muitos homens deram a sua vida por esta causa, a causa do Evangelho. A PAULUS Editora, o braço apostólico da nossa Missão, continua com este objetivo de anunciar aos homens e mulheres a Boa Nova. Falar de tudo «cristãmente». Com a mudança dos tempos, é preciso adaptar-se. Uma nova formatação de missão, de obras e membros. Mas tudo segundo a vontade de Deus, que tudo auxilia e abençoa e abre novas perspectivas. Hoje, Portugal pertence à recém fundada província Brasil, Portugal e Angola. Com estas mudanças, novas perspectivas e entusiasmos.

Ao celebrar esta data jubilar recordamos os nossos interlocutores, colaboradores, cooperadores, sacerdotes, religiosos e religiosas. Enfim, tantos homens e mulheres que construíram e continuam a construir, em Portugal e no Mundo, a Sociedade de São Paulo.

À luz de São Paulo Apóstolo, todos os religiosos da Sociedade de São Paulo queremos renovar nosso entusiasmo à missão e herança do nosso Fundador, para viver e anunciar Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida na cultura da Comunicação. 

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo…

 

Pe. Tiago Melo, ssp

Superior Delegado da Sociedade de São Paulo em Portugal.

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