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01/07/2021

O jeito paulino de ser na fragilidade humana

Por Pe. Luiz Miguel Duarte, ssp

“Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder” (2Cor 12,9).

O primeiro grande encontro de Paulo com Cristo dá-se após um tombo. Um tombo é sempre desconfortável. Pode machucar e expor a pessoa ao ridículo: quase sempre há alguém que vê e acha graça! O tombo nos põe no nível do chão; nos faz aspirar cheiro de terra. Paulo, nesse encontro inesquecível, não só tombou, mas perdeu temporariamente a visão. Cego, carece de outras mãos que o levantem e o conduzam pelo caminho.

Recuperada a vista, Paulo parte com entusiasmo e ardor apostólico. Engrandece o mesmo Jesus que fora vítima de seus ataques. Não economiza palavras nem conhecimentos a respeito do Messias. Não seleciona público; fala ao mundo. Com a facilidade com que convence, converte e arrasta pessoas, também faz crescer o bando de seus adversários.

 Diante da dureza de coração de muitos conterrâneos, Paulo fica zangado e sofre solidão. A perseguição é sua companheira de todos os dias. Um espinho na carne, que não lhe dá sossego. Nessas circunstâncias adversas, se não pode contar com ajuda humana, sabe que o Mestre não o abandona jamais: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder” (2Cor 12,9).

Em Atenas, pensa que fará sucesso filosofando e citando pensadores renomados. Não é o que acontece: boa parte daqueles intelectuais zomba dele. Em crise, retira-se daquele território, curtindo a dúvida: que linguagem deveria usar para anunciar Jesus Cristo? Enquanto matuta sobre métodos de pregação e dificuldades, o Senhor lhe aparece numa visão e o desperta desse torpor: “Não temas; continua a falar, não te cales porque eu estou contigo” (At 18,9-10).

Escrevendo aos coríntios, faz uma lista de tribulações que teve de suportar ao longo do seu ministério apostólico. Mas nunca cede à tentação de abandonar a luta; nunca desiste da missão: “Tudo posso naquele que me dá forças”, escreve aos filipenses. E, no fim da vida, com a certeza de que não correu em vão, reafirma sua fé: “Combati o bom combate… conservei a fé. Agora só me resta a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me entregará naquele Dia” (2Tm 4,7-8).