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16/03/2024

Ver Jesus: compromisso de vida

Por Pe. Darci Luiz Marin, ssp

O episódio do Evangelho de hoje faz referência aos últimos dias da vida de Jesus, às portas da paixão. Ele estava em Jerusalém para a festa da Páscoa. Lá estavam também alguns gregos, desejosos de ver Jesus (v. 21). Na dinâmica do Evangelho de João, o alcance do verbo “ver” vai além da observação da aparência para ir ao íntimo da pessoa.

Jesus, aparentemente, responde sem levar em conta a busca de seus interlocutores: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado” (v. 23). A glória de Jesus não se revela por meio do poder e da força, e sim por meio da cruz. Ele não é um Messias político; sua missão é dar a vida para salvar e reunir o povo disperso.

Para ver quem é Jesus, é necessário fixar-se em profundidade no Crucificado. É na cruz que Jesus expressa seu grande amor à humanidade. A cruz é consequência do seu anúncio e de sua trajetória de vida, jamais compactuando com conchavos e injustiças. O olhar atento para a cruz faz despertar em nós a “memória perigosa” daquele que não aceitou juntar-se aos que, em nome da ortodoxia, chegavam até mesmo a ignorar o próximo necessitado – e que, por isso, sofreu as consequências dessa recusa.

Para exprimir o significado de sua morte e ressurreição, Jesus serve-se desta imagem: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, continua só; mas se morre, então produz muito fruto” (v. 24). Ele faz-se dom total ao ser humano e, por amor, torna-se fonte de salvação. Além disso, dirige a nós o convite a empreender o mesmo dinamismo do grão de trigo, tendo em sua pessoa nosso modelo. Para tanto, há necessidade de, em espírito quaresmal, desfazer-nos de todo egoísmo interesseiro, que ressalta o “eu”, e passar ao “nós”. Em meio a uma realidade alimentada pela “economia digital”, que turbina a competitividade ao alcance de poucos, somos chamados a estar ao lado dos que buscam arduamente desabrochar seus dons.

Ver Jesus quer dizer sondar em profundidade o Crucificado e, unindo-nos a ele, ir ao encontro dos crucificados de nossa história. Quem, com ousadia, assume tal decisão aceita o convite: “Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo” (v. 26) – lembrando sempre que o Ressuscitado é o Crucificado!

Publicado em 17 de março de 2024 – Liturgia Diária – Ano 33 • N° 387

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