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09/03/2021

Quaresma: Tempo de caridade

Por Frei Darlei Zanon, ssp

Além da ênfase no jejum e na oração, a Quaresma é um tempo privilegiado para o exame de consciência, para uma meditação profunda sobre nossa vida, nossas ações, nosso modo de ser cristão.

Segundo os Santos Padres, a Quaresma é um período de renovação espiritual, de vida cristã mais intensa e de destruição do pecado, para a ressurreição espiritual que marca na Páscoa o reinício de uma vida nova em Cristo ressuscitado. É o momento em que todos os cristãos devem pensar no seu discipulado, na maneira como seguem o ensinamento de Cristo, sempre em vista de uma conversão constante.

O número 40 é bastante significativo e simbólico. O quatro representa na Bíblia o universo material, o mundo, e o zero se refere à vida terrena, com as suas provações e dificuldades. Quarenta dias foi o tempo que durou o dilúvio; quarenta anos o povo hebreu andou pelo deserto em busca da terra prometida; quarenta dias Elias e Moisés estiveram em preparação no deserto antes de realizarem a missão confiada a cada um por Deus; enfim, quarenta dias é o tempo que Jesus foi tentado no deserto.

Quarenta dias é o tempo que cada um de nós tem para enfrentar seu próprio deserto, para fazer sua caminhada de libertação e conversão, para encontrar Deus e ouvir a missão que Ele nos reserva. Quarenta dias é o tempo que temos para fazer jejum e penitência, é a oportunidade de refletirmos sobre nossa caminhada cristã, de prepararmos nosso coração para o mistério da fé, para acolhermos a ressurreição de Cristo e promovermos a nossa transformação interior. A Quaresma é exatamente a possibilidade de crescermos na fé, de nos aproximarmos de Deus e das pessoas, através da oração, da abstinência e da caridade.

Recebemos nesse tempo um convite de Deus para acompanharmos o seu Filho que sofre. É no tempo de sofrimento e de dor que se manifestam as principais virtudes e surgem os maiores gestos de solidariedade como temos vistos de modo concreto nos últimos meses. Na tentação, mostramos a nossa força; no deserto, mostramos a nossa fé verdadeira. Não recusemos o convite que Deus nos faz.

As obras de misericórdia podem ser nosso guia nessa caminhada pelo deserto, especialmente durante o período de pandemia que estamos vivendo. Portanto, esforcemo-nos por praticar as obras de misericórdia corporais (dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos) e espirituais (dar bom conselho, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo, rogar a Deus por vivos e defuntos). Procuremos viver bem o tempo da Quaresma, com um propósito, com um programa de oração, jejum e caridade.